CONSTANTIM E AS SUAS LENDAS
No último domingo de Julho, festeja-se na igreja de Santa Maria da Feira de Constantim, como padroeiro secundário, S. Frutuoso, a quem o povo dá a dignidade de Santo, por causa dos muitos milagres que dizem ele já ter feito.
Segundo a tradição, diz-se que nasceu em Constantim, no final do século XI e que foi criado na fé cristã tendo-se dedicado ao estudo e à leitura de livros sagrados. Foi abade em Constantim e os milagres que lhe atribuem estão, sobretudo, ligados aos males de mordeduras por “animais danados”.
Também são conhecidas algumas lendas, já muito antigas, relacionadas com a vida e os feitos de São Frutuoso.
Lenda dos passarinhos
Conta-se que, já em menino, os favores divinos, se conjugavam com o Universo, conferindo a Frutuoso dons extraordinários.
Um dia, Frutuoso, encafuado em socos, ainda ensonado, tropeçou, nas pedras do caminho, por onde ia e, logo tapetes de flores o amparavam: dentes de leão, botões de ouro e violetas que marginavam pelo trilho que levava até ao rio.
Ainda ao romper da alva se fazia e já os pássaros saltavam para as searas. Faziam assaltos em rodopios constantes.
O pai bem lhe recomendava para se levantar cedo e impedir assim que comessem o painço.
Para isso ele pegava num pandeiro e, escondido entre as silvas do poço, junto ao espantalho, fazia-o ressoar procurando assustar a passarada que sofria de uma fome do tamanho do mundo. Pintassilgos, melros, lavandiscas, pardais e vendilhões, comiam tudo a eito.
Como acabar com aquela fome toda?
Do ano passado poucos selemins restavam na tulha.
“ Fora, fora passarada”…
Tocava o sino em festivo repicar, ecoando pela aldeia. Era meio-dia, o sol estava mesmo a pino, as pessoas juntavam-se na igreja. Mas, o pequeno Frutuoso guardava o painço…
O sol aquecia. Era domingo de festa, o último de Julho. Frutuoso não queria faltar à missa.
Nesse ano, ouvira dizer que alguém de fama, talvez o próprio Arcebispo D. Pedro, viria pregar na festa. Ele gostaria de ouvi-lo e, por isso, a vontade deu-lhe força para se decidir.
O desejo de o ver e ouvir era superior à ordem do pai, portanto estava resolvido a ir participar na festa, em honra de Santa Maria da Feira, pois tinha fé que os pássaros lhe obedeceriam.
Conforme imaginou assim fez: enxotou os pássaros, passarinhos e passarocos, levando-os até ao passal e, quando todos estavam dentro de um poço, tapou-lhes a saída com uma cancela, advertindo-os que não deviam sair enquanto ele assistisse à missa e ao sermão.
Ora os passarinhos tinham por onde fugir mas não o fizeram. Ficaram quietos, como por encanto, esperando o regresso do menino para, depois, livremente esvoaçarem.
Este prodígio veio reforçar a ideia de santidade que os contemporâneos viam em Frutuoso.
Ainda, hoje em dia se costuma borrifar com ramos molhados em água benta, tirada do poço, que agora é a fonte de são Frutuoso, as culturas de cereais e hortas, para as proteger das pragas.
Lenda da Santa Cabeça
Cristo morreu na cruz para nos salvar, deixando divina mensagem de amor.
O lema dos cristãos passou, então, a ser: amor com amor se paga. Doravante dar-lhe-ão também a vida, ora em procura de trabalho, ora em martírio.
O desejo de atingir a santidade passou a ser um ideal de vida que arrastou multidões de mártires, ascetas e monges. Por isso, onde houvesse santidade, havia sinal de luz que irradiava pela terra. As relíquias dos santos adquirem assim uma importância espiritual e social de muitíssimo relevo.
Eram avidamente guardadas, veneradas e requeridas. As cidades que as possuíam, construíam criptas e erguiam catedrais atraindo peregrinos de vastas regiões tanto mais longínquas quanto mais fama de santidade tivessem.
As cidades que não tinham a felicidade de as ter procuravam consegui-las, mesmo que lhes não pertencessem.
Conta-se que havia dois galegos, sobre quem recaíra uma sentença de morte, que para serem perdoados teriam de roubar a Santa Cabeça e as ossadas de São Frutuoso de Constantim.
Sentença dura: ou roubavam a Santa Cabeça de São Frutuoso mais os seus ossos bem cheirosos ou morreriam se não cometessem o latrocínio sacrílego.
Mas se furtassem as relíquias teriam de carregar pela vida fora esse sentimento de culpa.
Dessa forma, até que se decidissem passou um tempo indeterminável. Pois, a travar a decisão, os sonhos atormentavam-nos durante as noites.
Certo foi que se informaram da rota a seguir, que reconheceram a região.
Repararam para onde se dirigiam os peregrinos na sua romagem, localizaram o sítio das relíquias e dirigiram-se para a igrejinha.
Mas também foi verdade que quando estudavam a forma de se apoderarem dos santos e luminosos restos de São Frutuoso, tremiam de medo. Mas eis que se lembraram do aviso temido: “ou uma coisa ou outra”.
Então pensaram que medo por medo, o santo lhes perdoaria, e se guardassem as ossadas num relicário, mais benevolente com eles seria.
Entre “Deus nos defenda” que os ladrões também tinham sentimentos, encontraram forças. Foi numa noite de vento a zumbir por todo o lado, por tudo quanto era vereda, cumeada, garganta ou vale. A copa verde negro dos pinheirais rodopiava em sussurros, estalando no mar da noite, às vezes em gritos roucos; consoante roçavam os braços das árvores dos caminhos, bailavam sombras e pareciam vozes de gente. “Mau pronuncio”, atemorizavam-se. Foi nessa mesma noite que as levaram.
Mas, pouca sorte! Mal pegaram na cabeça encastoada em cobre e levantaram os ossos do esqueleto, foi como se tivessem pegado num braçado de candros em fogo.
Para maior aflição, os sinos começaram a repicar, acordando toda a gente da aldeia.
Tiveram de fugir a mata cavalos, por aqui, por ali, por giestas, por caminhos esconsos, direitos a Nossa senhora de Guadalupe e escaparam-se pela ponte de Piscais.
Os sinos martelavam-lhe nos ouvidos, ressoavam-lhes na cabeça a cada passada que dessem. Dir-se-ia que os sinos que os seguiam por toda a parte a denunciar o acto nefando. “É castigo”, diziam. “Mas agora temos de fugir”. Às gentes de Constantim de Panóias, juntaram-se outras alvoroçadas, e por onde passavam as multidões, os sinos de outras igrejas e capelas tocavam também; saíram cavaleiros na sua peugada, acordavam clérigos assustados e, por fim, juntou-se o céu à terra. Por Mondrões acima já mal podiam andar.
Já quase sem fôlego, de coração sobressaltado, confundindo sombras e vozes com o vento, chegaram às grutas das Muas. Nevava.
Com a neve os sinos adormeceram. Porém na noite seguinte, o manto de neve cobrindo tudo em volta, e a estrada de Santiago, iluminando a noite, denunciavam-nos.
Por isso, não tiveram outro remédio senão esperar escondidos.
Quando retomaram a marcha, as vozes dos sinos, contagiavam outros, conforme passassem por terras de Amarante, Guimarães, Braga, Viana, Tui, … até aos confins, sempre aquela aliança entre a terra e o céu, o pacto de aviso e condenação de tal acto, só parou quando entregaram as relíquias ao Arcebispo de Santiago, Diogo Gelmires.
Todavia, ao abrir o relicário, fechado a sete chaves, deu-se uma maravilha das maravilhas, coisa sobrenatural, nunca vista: a Santa Cabeça mais as ossadas saíram voando até à terra natal, onde, por testamento, o santo, sempre quis que o sepultassem, redobrando os sinos por onde passassem.
A notícia deste acontecimento logo se propagou por terras de Portugal, Galiza, Leão, Castela e outras nações.
Nos dias de hoje, os romeiros visitam a Santa Cabeça, beijando-a ou, simplesmente tocando-a com as mãos, oferecem objectos em cera ou dinheiro, e, acto contínuo, cumprem as promessas à volta do adro. Na mesma capela onde se guarda a Santa Cabeça, conservam-se veneravelmente, os seus ossos numa caixa.
A prática paralela de borrifar os campos com ramos molhados em água benta tirada da fonte de São frutuoso, para dizimar as pragas das culturas de cereais e hortas, era uma devoção muito viva ainda em meados do século XX, mas a água tinha outros poderes como a cura da raiva. Quando uma pessoa era mordida por um cão raivoso, lavava a mordedura na água da fonte, assistia a uma missa, comungava e, no final, comia pão tocado na cabeça do santo. Se houvesse ferida, o doente devia ficar no local nove dias seguidos, tocando a relíquia em todos eles e devia também fazer romaria em volta da igreja, para curar os seus males.
Actualmente a Santa Cabeça só é exposta no dia da festa de São Frutuoso devido à sua melhor preservação.
A lenda do Dente Santo
No lugar de Bornes, freguesia de Aboim da Nóbrega conta-se que um homem chamado Manuel António Martins tinha um dente de São Frutuoso que tinha poderes excepcionais para curar mordedelas de cão raivoso.
O dente teria sido oferecido pelo santo a um fidalgo, antes de morrer, a quem São Frutuoso teria dito: “Quem possuir este dente não será rico, mas será sempre remediado e nunca passará necessidades. Só poderá ser possuído por um varão”.
O fidalgo que era solteiro e não tinha descendentes, quando morreu deixou-o a um criado e depois o dente foi passando de geração em geração.
Muitas pessoas procuravam as benzeduras do Dente Santo e quem as recebesse não morria com a doença da raiva. A benzedura era feita com o dente, que estava pendurado numa corrente de prata, acompanhada da seguinte reza:
” Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo/ E de São Frutuoso/ Eu te benzo/ E tocado por mim nunca serás raivoso.
DESCRIÇÃO DA CACHE
Um micro container sem saco com logbook e lápis. Com um presente aos primeiros.
P.F tentem recolocar a cache da mesma forma que a encontraram.