O carocho é a embarcação mais
característica do rio Minho. Nela sobrevive uma arcaica e elegante
tipologia apenas referenciável neste curso de água, fruto de uma
evolução e de um processo de mestiçagem construtiva fortemente
marcado pelas técnicas de origem nórdica. A difusão
desta tecnologia atribuiu-se aos vikings e normandos, a qual viria
a cruzar-se, no noroeste peninsular, com elementos de feição
mediterrânica. A história deste barco alongado, de casco trincado,
com uma morfologia que lembra uma embarcação de pesca
ainda em uso na
Lapónia, remete essencialmente para a actividade piscatória e o
transporte de bens e pessoas.
Em Lanhelas, povoação associada ao longo
dos séculos à economia fluvial, memórias e tradições populares
interligam-se inevitavelmente à história do rio. Uma história rica
de episódios de intensidade emocional e natureza muito diversa. E o
carocho, relíquia do património etno-fluvial miniense, surge em tal
contexto como um sólido e eficaz meio de navegação, e um
singular ícone identitário a preservar. Tanto mais que a sua
existência está hoje em perigo! Ameaçada pelas mudanças
de género de vida, pelo uso alternativo de embarcações motorizadas,
bem como pelas transformações-descaracterizações que resultam da
generalização do motor fora-de-bordo acoplado à sua ré. Pelo que, a
história do carocho, nos últimos decénios, é uma história de
decadência e até de iminente extinção.
In:
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