Um nome milenar...
Cansados dos movimentos migratórios e bélicos que lhes endureciam a
existência, os primeiros grupos que se fixaram, neste pedaço de
terra teriam nele encontrado condições privilegiadas de
fertilidade, beleza e frescura natural que os atraíram e depois os
prenderam aqui.
Procuravam ou fizeram aqui a sua Paz (Frea) e acoitaram-se à sua
Protecção (Munde), a protecção duma natureza afável, a
proporcionar-lhes condições e garantias para a fixação.
Aglutinar-se-iam, mais tarde, os dois termos de origem germânica
– Frea (de FRIJUS) e Munde (de MONDE) – para surgir o
topónimo Freamunde, um genitivo de Fredemundus, e cognominar este
recanto, como “terra de paz e protecção”.
A origem suévica...
Alguns vestígios da cultura castreja parecem confirmar a tese da
instalação, na actual área de Freamunde de núcleos, de que o Castro
dos Mortórios (repartido por Freamunde e Covas) é o mais
elucidativo. É dessa época, uma ponta de bronze de possível lança
ou punhal aí encontrado que se pode ver no Museu do Seminário Maior
do Porto.
Com estilos de vida mais avançados, os romanos invasores
destruiriam muitos dos habitats lusitanos (ou galaicos), para
introduzir novas técnicas de cultivo, novas formas de organização
administrativa, política e militar. Mas, no início do Séc. V, o
declínio do grande império romano, chegou à Hispânia.
Uma nova vaga de invasores suceder-se-ia e neles convém destacar os
suevos, por serem os fundadores de Freamunde, “Uma povoação
suévica da chã de Ferreira”, como consignava o Coronel
Baptista Barreiros, na sua comunicação em Junho de 1957, no
Colóquio Bracarense de Estudos Suévico-Brizantinos.
Era um povo bárbaro que se estendeu por toda a região de
Entre–Douro–e–Minho, estabelecendo em Braga, a
capital do seu reino.
Convertidos ao catolicismo no tempo do rei Recaredo, (em Fevereiro
de 587) filho de Leovigildo, por influência de S. Martinho de Dume,
fixaram um bispado em Meinedo (Lousada). O Apóstolo dumiense teria
por cá passado e influenciado a adopção de S. Martinho de Tours,
por quem tinha uma enorme devoção, para patrono ou orago de
Freamunde.
O rei suévico era também um chefe militar e tinha um poder
sacralizado, o que lhe concedia prestígio, autoridade e orgulho.
Sob a sua égide, o seu povo influenciou muito a vida colectiva de
então, onde conviviam os invasores e os dominados em harmonia.
Valorizavam o poder eclesiástico, deram uma componente guerreira
mais forte ao poder político, consideraram a economia como base
real e deixaram influenciar toda a sua vida pelo sagrado.
E a história evolui...
Na Idade Média, a economia agrária repousava em duas vertentes
fundamentais – a existência de casais e a pertença de grande
parte das terras à Igreja.
Pelas Inquirições de D. Afonso III de 1258 percebe-se a antiguidade
de Freamunde. Inserida no Couto de Ferreira, a maior parte dos
casais da freguesia pertencia ao Mosteiro, embora sobressaíssem já
os descendentes de D. Urraca Fernandes e D. Egídio com vários
casais. Em 1346, o delegado régio Aparício Gonçalves que entra em
Freamunde para de novo inquirir, cita Gil Vasques e Martim Anes
também como grandes proprietários.
Os Soverosa, de origem galega, deram origem à Honra de Soverosa
(Sobrosa) que depois adquiriu o estatuto de vila, por foral de D.
Manuel I. Os casais passaram a depender de Sobrosa, excepto os que
pertenciam ao Couto de Ferreira, o que colocava Freamunde numa
posição curiosa. Era Couto e era Honra.
Integrada no Julgado de Aguiar de Sousa, de que já fazia parte em
1346 como atesta o Coronel Barreiros, porque também no Couto de
Ferreira, a freguesia de Freamunde assim permanece até que, em
1836, com a reforma administrativa de D. Maria II se constitui o
concelho de Paços de Ferreira que juntou freguesias desse julgado e
algumas do de Refojos, julgados que eram separados pelo Rio
Ferreira... Entretanto tinha sido prestimónio ou comenda da Ordem
de Cristo, no senhorio dos marqueses de Vila Real, cujos bens
passaram depois para a Casa do Infantado, em 1641...
De S. Martinho a S. Salvador...
Nas Inquirições de D. Afonso III, a freguesia de Freamunde era
citada já, como tendo como orago S. Salvador “Hic incipit
Ecclesiae Sancti Salvatoris de Fremundi”.
Tendo nascido no Oriente, acredita-se que a devoção a S. Salvador
se tenha disseminado pelo Ocidente, através das Cruzadas, isto é, a
partir do Séc. XI.
É no Séc. XIII que aparece a paróquia de Freamunde devotada a S.
Salvador, relegando o patrono de séculos, S. Martinho. Não
surpreenderá esta mudança que o Coronel Barreiros justifica por a
freguesia ter estado sujeita, como muitas outras, às oscilações,
incertezas e vicissitudes comportadas pela Reconquista e à
“influência do entusiasmo das Cruzadas”. A população,
ao descer de S. Martinho, para outros lugares, teve de erigir uma
nova igreja paroquial, o que teria contribuído também para a
escolha doutro patrono, mudança que a Igreja Católica permitia e
até apoiava.
De aldeia a cidade...
No início do Séc. XX e por via dum trabalho denodado da sua
população, Freamunde já se distinguia no contexto concelhio. Havia
um grande dinamismo económico, já um certo movimento associativo e
vontade comum de dotar a freguesia dos melhores equipamentos e da
melhor qualidade de vida.
Com um progresso assinalável e evidente, a Junta de Freguesia
conseguiria a sua elevação a Vila pelo Dec-Lei N.º 22656 de 13 de
Junho de 1933, motivo mais que suficiente para uma grande festa
popular.
Já lá vão muitos anos, mas o ânimo e o espírito de iniciativa não
esmoreceram. À medida do sonho que sempre marcou presença e norteou
a vida desta gente, Freamunde tem vindo a crescer a vários níveis,
a tal ponto que foi reunindo os requisitos necessários para poder
candidatar-se à ascensão a cidade.
Em trabalho concertado com a Junta de Freguesia de então, Câmara e
Assembleia Municipal, desencadeou-se um processo que levaria à
aprovação unânime na Assembleia da República a 19 de Abril de
2001.
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