Esta cache encontra-se perto de uma cascata do rio Paivô, entre Regoufe e Drave, e a sua descoberta implica uma caminhada de cerca de 4 km pelas encostas da serra, por veredas de pastores e, na fase final, pelas margens e leito xistoso do rio.
Quem sou eu? Quase perdi a memória do que era; histórias do que vai e vem. Que me importa o que me rodeia? Habituei-me ao silêncio, uma vez mais. Na luta pelo mundo, entre o tempo e os deuses, fiz-me apoiante do primeiro. Não sei quantas eras durou a batalha. Pareceu-me uma eternidade, entre os laivos da loucura de quem tudo deseja; a vontade etérea ou nada. Acabámos por vergar os deuses, ganhámos a vida e o tempo deu-me a desejada perenidade, tal como prometera. Vi a minha vida estendida pela eternidade e pensei que não poderia desejar algo mais. Enganei-me.
Tive o corpo coberto pelo gelo por inúmeras vezes; noutras tantas o sol aqueceu-me a alma. Ao longo das eras vi chegar e partir muitos. Começaram por ser inconscientes e selvagens. Pequenos e grandes a lutarem pela sobrevivência, contra o tempo. O tempo, o meu aliado das eras. Recentemente chegaram os homens; bípedes e a fazerem lembrar os nossos inimigos dos primeiros tempos. Percebi então que talvez a luta não tenha terminado; talvez eles sejam a vingança dos deuses contra o tempo mas já não me importam as suas querelas.
Construíram pequenos amontoados de pedras e por ali viviam. Domesticaram os animais e persistiram. Certo dia, dei conta deles ali em baixo à procura da pedra áurea. Ouro, assim lhe chamavam. Vieram muitos, mas acabaram por partir. Depois alisaram as encostas e semeavam por lá as suas subsistências. Quando dei por mim estavam a rebentar com os meus irmãos. Abriam buracos e enfiavam-se por lá à procura de metais. Parece que seria para a guerra. Já não quero saber de guerras, mas à sua conta esburacaram-me a paisagem. Mas também esses foram embora. Agora vejo poucos por cá e cada vez me custa mais a solidão. Restam-me os pastores, que abrem caminho pelas veredas, e os caminhantes. No outro dia estive atento a dois que desceram pela encosta, seguindo pelas veredas dos pastores, passaram por mim, e continuaram pelo rio até à cascata ali mais em baixo. Deixaram por lá um plástico escondido num buraco da rocha e disseram que mais viriam. Assim espero; cada vez me agrada menos a solidão. Já não sei quem sou; uma sombra, talvez. Outras eras virão e eu cá estarei. Carrego a benesse de outrora como uma cicatriz do tempo. Mas, que sei eu? Sou apenas uma fraga e vejo lá em baixo o rio correr. Um dia vou agarrá-lo e talvez ele me leve daqui; um dia…
A CACHE
O percurso mais rápido para a cache inicia-se em Regoufe, seguindo depois pelo PR Aldeia Mágica. Deverão subir a encosta que fica do outro lado da aldeia e, ao chegaram ao topo, deverão abandonar o PR, que segue para Drave, e seguir pelo trilho da encosta que aparece à direita. Facilmente identificam lá em baixo as construções humanas, misturadas com o verde. A certa altura a encosta tornar-se-á mais escarpada e o trilho passa por veredas. Deverão atravessar ainda uma velha ponte de madeira. Se quiserem poderão usar este track como referência.
Ao chegarem à fraga que narra a história acima descrita poderão, com muito cuidado, contorná-la pelo lado esquerdo. A lagoa lá em baixo é muito convidativa para o banho e poderão passar por lá no regresso. Prosseguindo, deverão chegar ao rio e continuar pelo seu leito ou margens. A dado momento terão que o atravessar. No inverno, e/ou em alturas em que o caudal do rio seja maior, a travessia deverá ser difícil e poderá mesmo ser potencialmente perigosa. Sejam cuidadosos! Ao chegarem à cascata já estarão perto do contentor. Sigam pelo trilho à esquerda.
Em alternativa ao acesso descrito poderão partir de Drave, pelo mesmo PR acima referido. Ainda, e se procurarem mais aventura, poderão partir de Covelo do Paivô e seguir pelo leito do rio até Drave, passando por este local. Para lá do desafio, existem inúmeros locais de interesse. Como curiosidade, durante o verão, a ribeira de palhais, que vem de Drave e é afluente do Paivô, corre em vários locais de forma subterrânea, voltando a aparecer mais abaixo em forma de lagoas e pequenas cascatas. Se tiverem alguma dúvida não hesitem em contactar-nos.
Desfrutem do percurso e da descoberta, protegendo a Natureza!