Vilares, freguesia do Município de Murça, está localizada no extremo oeste do Concelho, na margem direita do rio Tinhela, “parte em alta campina e parte em agreste montanha” (in Chorografia Moderna do rei de Portugal , Vol I, 1874 – de João Baptista e João Justino Baptista de Oliveira). Esta freguesia que é atravessada pela estrada Nacional 212, ocupa uma área 1632 hectares e é composta pelas povoações de Vilares, Fonte Fria e Asnela, tendo como freguesias limítrofes Carva, Fiolhoso, Valongo de Milhais (Concelho de Murça), Alfarela de Jales e Vales (Concelho de Vila Pouca de Aguiar).
O topónimo de Vilares Justifica-se, de acordo com João Luís Teixeira Fernandes (in Murça – História, Gentes, Tradições), de duas formas:
“ Investigadores de toponímia portuguesa consideram que o nome dado à povoação de Vilares poderá estar ligado ao sistema de repovoamento pré-nacional, pelo facto de existirem nesse termo os “Vilares” constituídos por famílias, podendo os mesmos corresponder a lugares da actual freguesia.
No entanto, crê-se também que o topónimo Vilares, que actualmente indica o nome desta povoação terá a sua origem numa ermida desses «Villares», facto que teria contribuído para que fosse dado esse nome à freguesia, que poderia ainda corresponder à reunião desses «Villares». “
O povoamento do território que corresponde à actual freguesia remonta à época Castreja, tal como se pode verificar por alguns vestígios arqueológicos que se encontram nas redondezas.
Vilares recebeu a carta de foral de D. Afonso III, o Bolonhês, no dia 10 de Fevereiro de 1267, a qual é explicada por António Luís Pinto da Costa (in O Concelho de Murça – retalhos para a sua história, edição da Câmara Municipal de Murça 1992) da seguinte forma:
“ Como renda ou foro, cada fogo de Vilarense pagaria, vinte moios rasos de pão, medidos pela teiga de Constantim de Panóias, meio de centeio e meio de cevada e milho miúdo, no prazo que ia da festa de Santa Maria (15 de Agosto) até à de S. Miguel (29 de Setembro. Mais pagavam 10 maravedis, liquidados ás terças do ano, sendo a primeira prestação no primeiro de Maio, a segunda no S. Miguel e a terceira no primeiro de Janeiro. Estes impostos seriam entregues ao mordomo do rei na própria localidade.
Como imposto de colheita, os moradores de Vilares pagariam na festa de S. João Baptista (24 de Junho), Três carneiros e vinte pães de centeio, daqueles que usavam fazer em suas casas, estes seriam transportados a Santa Maria de Jales.
Finalmente como lutuosa, os Vilarenses pagariam um maravedi.
Pelo pagamento destes impostos, os habitantes dos Vilares ficariam isentos de todas as coimas (multas judiciais) excepto do rapto, do homicídio e do furto. (...) O Governador e o Prestameiro que tivessem o julgamento de Jales a seu cargo não poderiam entrar no povoado para cobrarem impostos nem para tirarem o contudo.”
No ano de 1768, vilares era vigararia de apresentação “ad nutum” do Reitor de São Miguel de Tresminas, tendo passado mais tarde, à reitoria.
Em 1840 Vilares integrava o Concelho de Alfarela de Jales e aquando da extição deste, em 31 de Dezembro de 1853, passou a fazer parte do município de Murça.
Para chegar a esta encantadora freguesia do concelho de Murça, o viajante deverá seguir pelo IP4, saindo no nó de ligação a Vila Pouca de Aguiar /Alijó, depois apanha-se a estrada nacional 212 em direcção a Vila Pouca de Aguiar, e poucos quilómetros adiante, chega-se a Vilares.
Esta freguesia é detentora de um vasto e rico património natural, arquitectónico e arqueológico, da qual se destaca:
Igreja Paroquial
Este templo, edificado no século XVI, situa-se numa zona planaltica sobranceira ao rio Tinhela, perto da capela da Nossa Senhora da Piedade.
A fachada principal da Igreja esta voltada a oeste e possui um arco pleno com chanfro.
No interior sobressai o tecto de três planos, com tirantes metálicos e caixotões em madeira pintada com rosetas de cor dourada. Do lado do evangelho, evidencia-se o púlpito de base quadrada em moldura assente em misula ornamentada. Os retábulos laterais ostentam talha pintada e dourada, assim como altares com imagens escultónicas. O retábulo – mor, de talha pintada e dourada, detém edículas laterais com imagens escultónicas da Senhora das Neves e de Santa Barbara.
Capela Nossa Senhora da Piedade
A capela da Nossa Senhora da Piedade, edificada, no século XIX, apresenta uma planta longitudinal simples, rectangular. A fachada principal do templo está orientada para este e ostenta um portal de lintel em arco abatido, sobrepujado por um duplo óculo com uma moldura sinuosa.
No interior, no lado da epístola, evidencia-se um nicho com imagens escultóricas da virgem de da Santa Comba. A parede testeira está coberta por um altar vernacular de madeira, em dois registos, sobre um fundo branco e cinzento. No registo inferior distingue-se um nicho com a imagem da Pietá, enquanto que, lateralmente, vislumbram-se dois painéis duplos com as imagens pintadas de Santa Barbara, S. Sebastião, S. José e S. João. No registo superior, ao centro, observa-se um medalhão azul, envolvido por folhas douradas, com instrumentos da paixão.
Fontes de mergulho
Em Vilares encontram-se quatro fontes de mergulho: Fonte do Paul, Fonte da Rainha, Fonte do Caleiro, Fonte da estrada.
Na aldeia mais pequena de Vilares (Asnela), situa-se a Fonte do Fundo, provavelmente a fonte mais bela da freguesia.
Em Fonte Fria, outra das povoações de Vilares, localiza-se uma outra fonte de mergulho: a Fonte dos Grichões.
Relógios de Sol
Vilares possui dois relógios de sol: um localiza-se na rua do capitão, o outro numa casa rural.
O primeiro relógio encontra-se numa casa venacular, na rua do capitão, assente numa mísula de granito, de contorno sub rectangular. Este relógio tem forma de uma imagem escultórica masculina em posição hirta, trajando um uniforme militar. A imagem detém pernas robustas e arqueadas, vestindo calças largas e casaca comprida com divisas nos ombros. O braço direito empunha, com a mão, a espada embainhada, enquanto que o braço esquerdo, pendente ao longo do corpo, apoia a bainha da espada. A estrutura do relógio é formada por uma haste metálica horizontal que segura na boca, projectando-se a sombra numa escala arqueada colocada sobre o peito.
O relógio de sol da casa rural, construído em 1796, é com posto por duas peças em granito, tendo a inferior forma de nicho, enquanto que a superior possui um recorte trapezoidal, com um mostrador circular graduado e haste metálica. No interior do nicho, vislumbrasse, em baixo relevo, um ramo de folhas de cor azul. A encimar o nicho está uma peça trapezoidal de grandes dimensões, com rebordo emoldurado ostentado ao centro, um mostrador granulado, com algarismo no exterior numa haste metálica horizontal.
Num passado recente, nesta freguesia, existiu outro relógio de sol (“O Soldado”), implantado tal como o “Capitão”, numa casa rural, no entanto este relógio foi removido pelo proprietário da casa que, por sua vez, a vendeu.
Já se fizeram vários esforços, no sentido de este relógio regressar ao seu local de origem, mas até agora, sem qualquer resultado.
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