O edifício do moinho construído em pedra, à semelhança da maior parte dos moinhos tem dois compartimentos: o inferior onde trabalha o rodízio (compartimento esse nalguns lugares conhecido por “inferno”) e o superior onde funciona o sistema de moagem e onde o moleiro passa a maior parte do tempo, dispondo apenas de duas aberturas: a porta de entrada virada a Sul e uma janela voltada a Nascente.
A parte inferior dispõe apenas de uma entrada que se vê na parte inferior direita da fotografia e era por aí que se tinha acesso ao rodízio a fim de fazer a sua manutenção.
Essa abertura tem, normalmente, a forma de um pentágono regular com os lados laterais paralelos entre si. Só que aqui, dada a grande quantidade de calcário transportado pelas águas, este foi-se depositando nas paredes laterais da saída, parecendo que elas são inclinadas, convergindo para a parte inferior.
Fig. 1 – Sistema de accionamento mecânico desde o rodízio até às mós
Os deslocamentos verticais dados ao aliviadouro [tempero] (5) a partir do sobrado do moinho, determinam o afastamento da mó andadeira (11) à mó fixa (10), regulando-se assim o apuramento da farinha produzida, por forma a sair mais fina (mole) ou mais grossa (dura); o moleiro ia fazendo a avaliação do apuramento da farinha, esfregando-a lentamente entre os dedos, apercebendo-se assim da respectiva granolometria.
A pela [mastro] na sua extremidade superior, encaixa num veio metálico (9) que atravessa a bucha(geralmente construída em madeira de figueira impregnada de uma gordura e entalada no olho da mó fixa) e termina superiormente numa peça de ferro chamada a segurelha sobre a qual se apoia a móandadeira (11). A peça de transição entre os dois eixos, chamada nalguns sítios lobete [em Quiaios sem designação especial] (8), permite uma montagem e desmontagem fácil do conjunto.
Para se fazer parar o moinho, basta descer o pujadouro [tábua] (6). Trata-se de uma alavanca, situada no sobrado do moinho da qual se encontra suspenso um arame que atravessa o pavimento e se vai fixar a uma tábua colocada em frente da boquilha [em Quiaios sem designação especial]. O movimento desta alavanca vai fazer com que a tábua se desloque para uma posição em que o jacto da água proveniente da boquilha seja desviado do rodízio, caindo em cima da tábua, obrigando o moinho a parar.
As mós usadas nos moinhos de Cernache, dividiam-se em dois tipos: as mós alveiras construídas de material litológico de menor dureza, normalmente o calcário (extraído de pedreiras de Condeixa-a-Velha) utilizadas para moer o trigo; outras de arenito silicioso (tipo grés do Buçaco) ou quartzito, servem para moer o milho. Estas últimas eram extraídas em Olho Marinho, Poiares. A mó de cima (galga ou andadeira) é formada por um único bloco onde são abertos sulcos radiais e um rasgo rectangular ao centro, onde encaixa a segurelha que suporta o peso da mó e lhe transmite o movimento rotativo do rodízio. A mó inferior, fixa, é mais grossa e no centro leva a bucha a que já fizemos referência. As pedras do moinho sofrem desgaste, pelo que, periodicamente há necessidade de serem picadas.
Fig. 2- Constituição e funcionamento da parte do moinho que fica situada no sobrado
O grão do cereal é colocado na moega [gamelão] (1) em madeira, com a forma duma pirâmide invertida, saindo a pouco e pouco pelo orifício inferior e passa para a quelha [telha] (2) por onde vai escorregando e caindo para o olho da pedra móvel. A regulação da quantidade de grão que cai para a mó é efectuada através do ponto de fixação do cordel que suporta a parte dianteira da quelha [telha], variando-se assim a sua inclinação. O escorregamento do grão pela quelha [telha] é facilitado pela trepidação que lhe é transmitida pelo “ chamadouro ” ou “ tramela ” [cachorro] (3) que é uma peça em madeira em forma de cruz; o braço horizontal apoia-se do lado esquerdo na estrutura fixa do moinho e do lado direito na quelha [telha]; o braço inclinado poisa na mó e quando esta se encontra em movimento o chamadouro [cachorro] trepida fazendo com que o grão caia. É importantíssimo que o moinho moa sempre a quantidade certa de grão, para o tipo de farinha que se pretende obter. Só a experiência do moleiro, que reconhece a boa ou má regulação do sistema, pelo som que ouve do trabalhar do moinho, lhe permite ter a moagem em boas condições de funcionamento. Mesmo que se encontre a dormir, a alteração do som ou a ausência de ruído faz com que acorde e vá ver o que se passa.
O grão ao cair pelo olho da mó é obrigado, com a ajuda do movimento rotativo da segurelha , a encaminhar-se para o espaço situado entre as duas mós.
A força centrífuga e os sulcos radiais abertos na face inferior da mó móvel com uma profundidade que vai diminuindo do centro para a periferia, concorrem para a trituração do cereal [diz-me o moleiro de Quiaios que aqui as mós não tinham estes sulcos]. A farinha assim produzida vai sendo projectada para a frente do moinho, batendo contra os panais (5) e caindo no tremonhado (4) que é o espaço vedado no soalho por umas tábuas ou directamente para a taleiga , isto é, uma saca, que pode ser a mesma que trouxe o grão para moer. [No moinho de Quiaios, à semelhança do que acontece nesta região, em vez desta solução, havia o que chamam o paneiro que é um cilindro em chapa que envolve toda a mó impedindo que a farinha se espalhe]. Os sacos de farinha eram marcados com o nome do moleiro, utilizando-se, para isso, uma chapa de zinco com as letras recortadas em vazio; colocada a chapa sobre o saco, passava-se com tinta preta, ficando os dizeres impressos no saco.
O moleiro reservava para si a maquia como pagamento pelo trabalho efectuado e entregava o restante ao cliente. As medidas mais usadas eram o alqueire – caixa de madeira que, rasa de milho, leva cerca de 11 a 12 quilos de grão, o meio-alqueire , a tetra e o celamim (décima sexta parte de um alqueire) [em Quiaios em vez da tetra e do celamim, usava-se o litro e o meio litro. Como instrumentos auxiliares usava-se a peneira e o crivo, o primeiro para separar os resíduos da farinha e o segundo dos cereais; a pá de madeira para manusear a farinha, o picão de ferro para picar as mós e a vassoura essencialmente para varrer a farinha à volta das mós, feita geralmente de milho painço [folhas de palmeira]. O moinho era mantido livre de ratos pela caça que lhes dava o gato do moleiro, e daí haver geralmente uma abertura que permitia a entrada e saída do mesmo.”
São muito interessantes algumas particularidades do moinho de Quiaios, nomeadamente o facto da “boquilha”, assemelhando-se a uma vulva, por onde saía a água em direcção às penas do rodízio, ser talhada numa pedra. O caudal de água era regulado por uma cunha em madeira que era inserida no orifício situado na face superior da pedra e que se pode ver nesta foto.
A um canto, no prego, ainda se pode ver o casaco usado pelo filho do último moleiro deste moinho.
A CACHE
A cache é um small container que permite a troca de items. Não se encontra nas coordenadas públicadas, para encontrar as coordenadas corretas terá que exercitar a vista, olhe com atenção para as seguintes imagens, está lá tudo.
A:
B:
O que acontece nesta segunda imagem (GIF)
1. Um cão a correr. - W 008º 51.141
2. Um tubarão a nadar - W 008º 51.801
3. Uma águia a voar - W 008º 51.353
N 40º 12. (32*A)
W (Resposta da B)