A península de Peniche localiza-se na parte ocidental da costa portuguesa, a cerca de 100 km de Lisboa, no distrito de Leiria. A península, com cerca de 10 km de perímetro, tem o seu extremo ocidentalno Cabo Carvoeiro, sendo a sua costa formada essencialmente por falésias calcárias de idade jurássica,pontuada localmente por pequenas praias em forma de enseada de pequenas dimensões. Ao largo desta península, encontra-se o arquipélago das Berlengas, considerada Reserva Mundial da Biosfera da UNESCO desde 30 de Junho de 2011. O perímetro da península é constituído por rochas sedimentares carbonatadas que materializam um registo contínuo de um período da história da Terra compreendendo grande parte do Jurássico Inferior. Soma-se a este registo excepcional, a alta qualidade dos afloramentos, que exibem grande variedade litológica e paleontológica, bem como de estruturas sedimentares e de processosgeológicos diversos, e um enquadramento paisagístico, social e cultural, singulares. Em termos de património geológico, destaca-se o actual candidato a GSSP do Toarciano (Elmi, 2006), um local com valor internacional. Mas a qualidade do registo não se limita a este facto, somando-se um do mais belos mira-douros sobre o Atlântico, e uma gruta cujo registo arqueológico possui enorme relevância para o estudodo Paleolítico português, constituindo-se actualmente como reserva arqueológica, entre outros locais de interesse.
BREVE ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO DA PENÍNSULA DE PENICHE
A península de Peniche integra-se na chamada Orla Meso-cenozóica Ocidental de Portugal e assenta sobre rochas carbonatadas do Jurássico Inferior, que correspondem ao testemunho da fase inicial de enchimento da Bacia Lusitânica. Para além da sucessão carbonatada, afloram ainda sedimentos iliciclásticos do Plistocénico e unidades arenosas holocénicas. Ao longo das falésias carbonatadas de Peniche aflora uma sucessão com mais de 450 metros de espessura de rochas sedimentares carbonatadas, abrangendo o intervalo compreendido entre o Sinemuriano e a base do Jurássico Médio. Definem-se nesta península as formações de Coimbra, Água de Madeiros, Vale das Fontes, Lemede e CaboCarvoeiro.
Corte do Liásico de Peniche (Ponta do Trovão)
A península de Peniche é constituída por espessa série monoclinal inclinando para SE, essencialmente margo-calcária, com intercalações argilosas e areníticas, bem datada por amonites. A base de sucessão aflora nas imediações da Papôa, local onde a série é intersectada por uma brecha vulcânica. Na Ponta do Trovão observa-se a passagem do Pliensbaquiano ao Toarciano, limite que foi recentemente proposto como candidato a GSSP (estratotipo de limite) para o Toarciano. A série de Peniche tem sido abordada em muitos estudos. A série liásica é essencialmente formada bancadas centimétricas de calcários argilo-margosos, alternantes com níveis decimétricos de margas cinzento-esverdeadas, por vezes micáceas e laminares; mas ocorrem, também xistos argilosos betuminosos, negros, níveis “grumosos” com especial interesse tafonómico, no Toarciano, frequentes intercalações siliciclásticas lenticulares (arenitos calcários/calcários areníticos, microconglomerados arcósicos, margas silto-areníticas). O conteúdo fossílifero é abundante, embora diminuindo progressivamente para o topo; é constituído, sobretudo, por braquiópodes, belemnóides, amonóides, lamelibrânquios e gastrópodes, frequentemente piritizados, bem como por diversos icnofósseis. De modo geral, para a parte superior aumentam a frequência e espessura dos níveis calcários face aos níveis margosos, desaparecendo os últimos para o topo.
Falésias como a Ponta do Torvão, que foi considerada geo-monumento pela comunidade cientifica internacional possui o melhor registo a nível mundial da transição entre os intervalos de tempo Pliensbaquiano - Toarciano, andares do Jurássico. Está estabelecido no estratótipo (GSSP - Global Boundary Stratotype Section and Point). A melhor secção está localizada na Ponta do Trovão, Península de Peniche, 80 km a Norte de Lisboa. Em Portugal, a transição Pliensbaquiano - Toarciano é bem exposta pois mostra amonites Tethyan associadas a algumas espécies Europeias. Estes conjuntos são bons marcadores para correlações em todo o mundo. As camadas de transição muitas vezes indicam sedimentação continua ao contrário do que acontece no Noroeste da Europa. É descrita a sucessão litostratigráfica e apresentada a cronostratigrafia com base nas diferentes associações de amonites. A mudança nas associações de foraminíferos é feita mais tarde. Nesta área a parte superior do Pliensbaquiano é composta por alternâncias de margas e calcário e foi descrita uma unidade especial chamada "Transition Beds", indicando uma baixa taxa de sedimentação. Apresentam material fóssil continuo e diversificado, como conchas ou moldes de amonites. A última camada marca o inicio do Toarciano, em que o limite cronostratigráfico difere do litológico sendo este último situado entre a "Transition Beds" e a base do Cabo Carvoeiro. O limite bioestratigráfico está localizado dentro da sucessão, mostrando uma evolução sedimentar progressiva, sem interrupção.
Define-se estratótipo como uma sucessão de camadas rochosas com limites bem identificados, que servem de referência e são usadas na caracterização de unidades estratigráficas padronizáveis (andares, limites estratigráficos, etc). Uma sucessão estratigráfica é elevada à condição de estratótipo por comités autorizados de correlação geológica.
Para logares esta Earthcache deverás dirigir-te ao GZ e responder às seguintes perguntas:
1. Explica por palavras tuas, o que é um estratótipo.
2. Olhando para Sudeste podes observar a formação do Cabo Carvoeiro e a sua estratificação. Consegues identificar camadas rochosas de cor cinzenta e de cor amarelada. Qual a altura (cm) da camada rochosa de cor amarelada?
a) 10 - 15cm
b) 20 - 25cm
c) 30 - 35cm
d) 40 - 45cm
3. Tendo em conta o local em que está o GZ indica a Era, Período, Época e Idade da camada que estás a pisar.