'O nome da terra e do seu povoado principal deriva, na opinião do Prof. Dr. Albino de Almeida Matos, ilustre filho desta terra, do adjectivo latino 'filicarias', que a propósito escreveu um artigo publicado no 'Jornal de Resende': 'Terras Filicarias', nome com que foi baptizado inicialmente o lugar, quer dizer terras onde há fetos'. A origem do nome sugere-nos desde logo que falemos do seu povoamento. O mesmo professor diz, no citado artigo, que “muito cedo estabelecidos em Cárquere, os romanos não deixavam de explorar os arredores” e que, “na direcção do monte de São Cristóvão, encontravam fetos por todos os lados”. E, mais adiante, continua: “Felgueiras aparece-nos assim, pelo nome, ligada à colónia romana de Cárquere e, certamente, aos primórdios desta”.
A recordar os romanos, outros nomes existem hoje na freguesia, tais como Vila Longa e Quintãs.
Não se pense contudo que o povoamento de Felgueiras começou com os romanos.
Brasão
Nos montes de São Cristóvão, área da freguesia de Felgueiras, encontram-se diversas mamoas, o que nos deixa concluir que, desde já na época do neolítico, morava gente nestas terras.
Para além disso, escavações iniciadas em Setembro de 1994 perto da capela de São Cristóvão sob a orientação do Prof. Eduardo Jorge e ainda não concluídas, deixam pensar, pelo menos como hipótese, na existência de um recinto megalítico de tipo “cromlech” ou “alinhamento”, do terceiro ou quarto milénio antes de Cristo, com funções de observatório astronómico para organização de calendários relacionados com as épocas das sementeiras e das colheitas, e também, em simultâneo, em minha opinião, com funções de santuário ou recinto sagrado onde a tribo se reunia e prestava culto às suas divindades.
Quem era essa gente?
Os historiadores continuam a chamar-lhes Pré-Celtas. Podem ter sido os Lígures, os Túrdulos, ou outras tribos por nós desconhecidas. A presença de Mouros ficou documentada nos topónimos “Alcoreiro”, “Albaredo” e “Alborda”.
De tempos anteriores à nacionalidade portuguesa são os topónimos Sanfins e São Cristóvão. Um e outro nos podem lembrar povoamento de época da reconquista Cristã (século X e XI), ou mesmos dos primórdios do Cristianismo nestas terras de Resende.
Felgueiras aparece-nos no século XIII (1258), enumerada nas Inquirições de D. Afonso III como fazendo parte da Honra de Resende, que fora de Egas Moniz e então pertencia aos seus descendentes.
No texto das referidas Inquirições e na lista das vilas que faziam parte da Honra de Resende, aparecem também os nomes de “Firoos” (Ferrós), “Veyroos”, “Pumeiral” (Pimeirol), “Vineais” (Vinhais) e “Cyringos”, dos quais da actual freguesia de Felgueiras.
Num documento de 1227 D. Domingos Mendes doava ao Mosteiro de Salzedas, o terço de tudo quanto possuía em Pimeirol, para ser recebido no Mosteiro como familiar e nele ser sepultado, e ainda gozar de todo o benefício e sufrágio da ordem de Cister.
Noutro de 1234 D. Dórdia Pires doava ao mesmo mosteiro, um casal que tinha em Felgueiras.
Em 1229 D. Alda Vasques fez doação, ao referido mosteiro, de dois casais que possuía em Felgueiras, um em Ceringos e dois em Pimentel. Quando, em 1513, o rei D. Manuel I deu foral a Resende, criando um novo concelho na antiga Honra sob jurisdição do senhor de Resende, Felgueiras ficou a pertencer ao novo concelho, a assim continuou até aos nossos dias.
No Tombo da casa do Paço de Resende (1790) aparecem enumeradas como propriedades andavam emprazadas, a pagavam foros importantes ao Morgado do Paço de Resende.
A Junta de Freguesia, só viu construída a sua primeira sede em 1981, em lugar bem situado, perto do Outeiro do Espírito Santo e à beira da estrada que liga Felgueiras ao Monte de São Cristóvão'. 1
1- DUARTE, Dr.Joaquim Correia - Resende e a sua História, ed. Câmara Municipal, 1994, vol. II, pps 242-244
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