A tradição vigora há quatro séculos ligada as grandes erupções vulcânicas do pico do Sapateiro (actual pico Queimado),assolaram a ilha de São Miguel, tendo a lava destruído tudo o que encontrava pela frente, particularmente nas freguesias da Ribeira Seca e de Santa Bárbara (na então Vila da Ribeira Grande, hoje cidade e sede do concelho).
Descendo da encosta e galgando o pequeno povoado, a lava, ao atingir o ponto onde se erguia a Capela de São Pedro, na Ribeira Seca, separou-se em duas torrentes, para ladeá-la sem a molestar, e daí correu até ao mar durante três dias e três noites, dividindo assim o areal em dois o areal de Santa Bárbara da Ribeira Seca e o da Ribeira Grande.
Com o correr dos anos o povo começou a juntar-se na capela de São Pedro para assistir ao ritual, começando também, grato pelos milagres do santo, a homenageá-lo nessa data, enfeitando-lhe o templo com hortênsias azuis e ofertando-lhe as tradicionais «lâmpadas» açorianas, constituídas por arranjos de flores naturais (hortências, rosas-de-cacho) misturadas com as «novidades» de cultivo (maçarocas, pepinos, peras, etc.).
A manter viva a remota e significativa tradição, o desfile (chegando a reunir cento e vinte cavaleiros, embora o seu número seja variável), saindo do solar da Mafoma (palacete do século XVIII, onde está instalado o Museu do Chá) para percorrer em colorido cortejo no dia de São Pedro (patrono da Ribeira Seca e feriado municipal na Ribeira Grande) a pequena freguesia e as que lhe são vizinhas. Os cavaleiros desfilam pelas ruas em duas alas, com os trajos a contribuir para a originalidade da festa: camisa branca, calça branca com lista vermelha lateral, gravata vermelha, uma faixa também vermelha em banda sobre o peito, flores e grandes laços de fitas de cores colocados no peito e nos ombros. Na cabeça usam chapes altos pretos, adornados com objectos de ouro (principalmente fios, cordões e pulseiras) e diversos enfeites, entre eles minúsculas florinhas feitas de papel prateado. Numa das mãos levam um pendão vermelho com as letras SP (São Pedro) e na outra as rédeas do animal, enfeitado com uma espécie de xairel branco e laços de diversas cores. As Cavalhadas de São Pedro na Ribeira Seca chamam à localidade muitos dos habitantes de São Miguel e das restantes ilhas açorianas, bem como forasteiros idos um pouco de todo o lado.
Como a devoção aumentava e o cerimonial das Cavalhadas se mantinha, a capela de São Pedro (do século XVI) começou a tornar-se pequena, acabando por construir-se uma nova igreja (séculos XVIII-XIX). Ainda hoje o seu interior continua a ser profusamente ornamentado com as «alâmpadas», a darem um colorido, um perfume e uma beleza especiais ao templo. Estes arranjos florais com frutos terão começado a ser concebidos por altura das primeiras Cavalhadas e do início do culto a São Pedro, constituindo uma oferta votiva do povo ao santo que tão festiva e singularmente se venera na Ribeira Seca.
Por morte do fidalgo, e no desejo de continuar a manter-se o voto perpétuo, o povo da Ribeira Seca chamou a si a devoção em honra do Santo Pescador. Assim, as Cavalhadas de outros tempos, onde desfilavam fidalgos e vassalos, deram lugar aos homens do campo (principalmente), na sua maioria residentes nas freguesias da Ribeira Seca e de Santa Bárbara.
|