A HISTÓRIA DE UMA LINHA
Em 3 de Agosto de 1878, foi assinado um contrato entre o Governo Português e a Société Financière de Paris, para a construção e exploração de uma ligação ferroviária entre Pampilhosa e Vilar Formoso; para este fim, foi formada a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta.
Já nesta altura, se ponderava continuar a Linha da Beira Alta da Pampilhosa até à cidade de Figueira da Foz, de forma a poder escoar os produtos daquela linha através do seu porto marítimo; no entanto, este projecto entrava em conflito com as pretensões da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, que também estava a planear uma ligação à Figueira da Foz, como tinha sido estipulado num contrato de 14 de Setembro de 1859.
Mesmo assim, foi aberto o concurso para o troço entre a Pampilhosa e a Figueira da Foz, tendo a Companhia da Beira Alta requerido apenas metade do subsídio governamental que tinha sido oferecido à Companhia Real, e, em 30 de Agosto de 1879, prescindiu totalmente dos apoios estatais. A Junta Consultiva das Obras Públicas autorizou, assim, este projecto, tendo o contrato provisório sido assinado no dia 31 de Outubro; este documento foi apresentado às cortes em 19 de Janeiro de 1880 e imediatamente aprovado, tendo sido promulgado por uma lei de 31 de Março. As obras deste ramal iniciaram-se oficialmente em 10 de Agosto desse ano. A Companhia Real ainda apresentou uma reclamação, que foi indeferida pelo Tribunal Arbitral em 7 de Outubro do mesmo ano.
O primeiro troço da Linha da Beira Alta, entre a Pampilhosa e Vilar Formoso, foi aberto à exploração, de forma provisória, em 1 de Julho de 1882; a ligação entre a Figueira da Foz e a Pampilhosa foi inaugurada oficialmente, junto com o troço já aberto, no dia 3 de Agosto do mesmo ano, sendo, assim, considerada completa a Linha da Beira Alta. A cerimónia contou com a presença do rei D. Luís.
Este ramal melhorou consideravelmente as relações da Figueira da Foz com as Beiras e Espanha, tendo contribuído decisivamente para o aumento das actividades turísticas na época balnear ; facilitou, igualmente, o transporte de mercadorias de e até à Figueira da Foz, que até aí era realizado principalmente pelo Ramal de Alfarelos. Com efeito, possibilitou uma maior penetração dos produtos daquela cidade, nomeadamente o sal, carvão, cal e peixe, em todo o país, especialmente nas Beiras, e em Espanha. No entanto, entrou em concorrência com a cabotagem costeira , tendo contribuído para o declínio da actividade marítima.
Em 2 de Maio de 1930, foi assinado um contrato de trespasse, que estipulava a transição da exploração e do material circulante da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta para a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses; no entanto, só em 28 de Fevereiro de 1946 é foi executada a escritura, para a transferência da exploração.
Em 2007, esta ligação foi alvo de vários investimentos, nomeadamente num parque industrial junto à Pampilhosa, na supressão de passagens de nível, na Estação de Cantanhede, e no rebaixamento do Túnel de Alhadas.
Em 5 de Janeiro de 2009, o ramal foi totalmente encerrado ao tráfego ferroviário pela Rede Ferroviária Nacional por motivos de segurança, devido à antiguidade dos carris utilizados na maior parte do percurso. Em substituição dos serviços ferroviários, iniciaram-se várias carreiras de autocarros; estes apresentavam uns horários mais apropriados às necessidades das populações dos que os comboios, cujos horários, no final, já não se adequavam à procura. Previa-se que o investimento necessário para a remodelação do ramal seria de cerca de 35 milhões de Euros.
Iniciaram-se, assim, as obras de modernização, prevendo-se, em 2009, a reabertura para 2011; no entanto, os trabalhos foram suspensos, pelo que, em Janeiro de 2011, o Bloco de Esquerda questionou o Governo sobre os prazos de execução da obra.
Em Maio, um grupo de trabalho da Assembleia Municipal de Mealhada organizou um debate público, para promover a modernização e reabertura deste ramal, defendendo que traria um maior desenvolvimento económico à região, e beneficiaria as populações; por outro lado, o comboio também era utilizado para o acesso às praias, o que prejudicou o movimento durante a época balnear.[7] Em termos de movimento de mercadorias, argumentou-se que este eixo facilitaria o transporte de carga do Porto de Figueira da Foz para a Europa e o resto do país, seria essencial à então projectada plataforma logística rodo-ferroviária na Pampilhosa, uma vez que permitia o acesso ao porto, e beneficiaria a zona industrial de Cantanhede.
A requalificação e reabertura deste ramal também foi discutida em Setembro, numa reunião em Mira, que envolveu representantes do Partido Socialista, Partido Nacional Renovador, Partido Comunista Português, Bloco de Esquerda, e do PCTP/MRPP.[6] O Partido Nacional Renovador realizou, em 2011, uma campanha de sensibilização nas localidades anteriormente servidas por este caminho de ferro.
Em Dezembro do mesmo ano, a operadora Comboios de Portugal anunciou que, devido à suspensão do processo de reabertura desta ligação, iria terminar os serviços alternativos, por via rodoviária, a partir do dia 1 de Janeiro de 2012.
Em Março de 2013, a Rede Ferroviária Nacional começou a levantar os carris e as travessas da via neste ramal, argumentando que esta era a melhor forma de proteger os seus activos, face às várias tentativas de roubo que foram feitas.
In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ramal_da_Figueira_da_Foz
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