A Fábrica Têxtil Sampaio Ferreira & Cª Lda foi fundada em 1896 pelo tecelão Narciso Ferreira, embora inicialmente tivesse a designação de Fábrica de Fiação, Tecidos e Tinturaria de Riba de Ave. Esta foi a primeira fábrica algodoeira a emergir no concelho de Vila Nova de Famalicão, dando início à sua actividade com 200 teares e uma estrutura produtiva verticalizada onde incorporava sectores de fiação, tecelagem e tinturaria.
Com base no investimento diversificado, o carismático fundador torna-se também sócio de outros empreendimentos têxteis e em experiências pioneiras de produção de energia. Após a aprendizagem numa oficina de tecelão, dá início à sua actividade na casa de Pedome com dois teares, tendo aos 19 anos de idade, conquistado clientes fixos nas feiras e na cidade do Porto. Acaba por casar na freguesia de Riba de Ave, onde vem a instalar uma oficina junto ao rio que possuía 19 teares para a produção dos 'riscados fortes', nos quais se viria a especializar. Em 1894 faz sociedade com Manuel J. Oliveira, José Augusto Dias, Engº Ortigão Sampaio e J. Fernandes Machado, legalizando em 1896 à firma Sampaio, Ferreira & Cª.
É neste período de tempo que se dá a grande mudança, pela aquisição de 200 teares mecânicos, instalação de uma fiação, de acabamentos e de oficinas destinadas à manutenção e renovação dos equipamentos. Para além de ser um espaço de produção, a fábrica afirma-se como um lugar de aprendizagem e formação técnica essencial ao alargamento das actividades empresariais. No ano de 1910, o estabelecimento fabril já acolhia 473 homens e 373 mulheres gerando uma dinâmica forte entre a actividade industrial e a população local. Desta empresa partiram os responsáveis por novos empreendimentos, como a Empresa Têxtil Eléctrica (1905) em Caniços, destinada à produção de cotins grossos e cobertores; a Oliveira, Ferreira, & Cª, Lda (1909) orientada para o fabrico de telas cruas e flanelas; participando, ainda, noutras sociedades como a de Vila do Conde e Arcozelo. Está patente a preferência de Narciso Ferreira pela criação de novas empresas em detrimento da grande ampliação das já existentes, apostando antes na sua modernização. Podendo mesmo este ser considerado uma das figuras nacionais precursoras do aproveitamento hidroeléctrico, uma vez que a fábrica Têxtil Eléctrica de Caniços terá sido a primeira a utilizar este tipo de energia. O sucesso desta experiência parece ter impulsionado a criação da Companhia hidro-eléctrica do Varosa, nas cercanias de Lamego (1907). Tinha uma capacidade de 240 CV, distribuída directamente para Lamego e Régua, tendo sofrido uma remodelação em 1920, com uma nova central hidroeléctrica (a Central do Chocalho) a funcionar em 1925, aumentando a potência energética para 1500Cv destinada a 21 concelhos numa área regional entre Lamego, Guimarães, Vila Real e Porto. Com a acção do seu filho Delfim Ferreira, esta companhia desenvolve-se projectando a Hidroeléctrica do Ermal, posteriormente faz a fusão entre as duas, constituindo a CHENOP (Companhia Hidro-Eléctrica do Norte de Portugal) que, em 1975, é nacionalizada ficando sob a alçada da EDP.
Actualmente, esta fábrica é um marco da industrialização, mas também da desindustrialização do Vale do Ave. É um fácil exemplo da apropriação da 'energia' natural e operária na criação de uma estrutura económica e social durável e historicamente prolongada, que embora materialmente devoluta, continua a marcar a paisagem social.
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