Azenha - ou moinho de água, é um engenho que aproveita a força motriz da movimentação da água, de rios ou ribeiros, para a moagem de cereais.
Os moinhos de água podem ser classificados pelo tipo de roda utilizada:
- roda vertical - denominada por azenha - a roda é movida pela corrente de água; o movimento é transmitido à mó por uma roda dentada e um carreto;
- roda horizontal - denominada por rodízio - o movimento da roda é directamente transmitido à mó.
Em Portugal, os moinhos de água e moinhos de vento foram introduzidos pelos romanos e árabes.
Fig. 1 - Rodízio (foto do interior da roda horizontal)
Fig. 2 - Azenha (foto do exterior)
Como funciona o engenho?
A água é conduzida para os moinhos através de açudes ou levadas. A água ao ser "projectada" para as pás da roda fazem com que esta gire. Esse movimento de rotação é transmitido através de um veio à mó andadeira. A mó andadeira ao girar sobre a mó fixa irá moer os cereais que lhe forem introduzidos pelo orifício central. O veio, no caso do rodízio, liga directamente a roda à mó. Nas azenhas, o movimento é transmitido por dois veios, uma roda dentada e um carreto.
Fig. 3 - Azenha vs Rodízio
Algum Vocabulário dos Moinhos:
Açude: Construído em pedra ou madeira, serve para represar a água do rio ou ribeira.
Levada: Canal que tem origem no açude e transporta a água até à represa.
Represa: Local onde é recebida a água vinda da levada
Agueira: Canal condutor de água (desce em cascata) da represa para a roda.
Cubo: Cabouco na parte inferior do moinho onde está colocado o rodízio
Seteira: Peça existente ao fundo da agueira. Projeta a água para o rodízio
Zorra: Peça de apoio ao rodízio
Pejadouro: Tábua que comando a direção da água
Comando do pejadouro: Serve para movimentar e parar o moinho
Rodízio: Roda com movimento horizontal, ligada à mó por um veio.
Tapume: Tampão regulador da entrada da água para a agueira.
Pedra: Mó em granito
Cunhas da agulha: Tacos reguladores do controle/levantamento da pedra.
Moega: Peça em madeira, quadrada ou retangular onde é colocado o grão.
Caleira: Peça em madeira ou cortiça. Recebe o grão da moega para o olho da mó
Tremonhado: Lugar para onde cai a farinha vinda das mós
Alqueire: Medida em madeira que serve para medir os cereais
Taleigo: Saco de pano onde é transportado o grão ou farinha
Maquia: Parte retirada pelo moleiro correspondente ao seu trabalho
Balança: Balança decimal
Pesos: Peças auxiliares da pesagem
Azenha dos Morgados
Esta é uma de três azenhas dos Morgados existentes do rio Zêzere. Nelas eram moídos os cereais e fazia-se farinha para as aldeias mais próximas (Limeiras, Cafuz, Matos, Madeiras, Perdigueira, Foz do Rio, Linhaceira, entre outras).
O local era composto pela azenha, o açude e a casa da moleira.
O açude que servia para desviar água para a azenha, fazendo a roda girar, já não existe. Era feito em madeira (estacas e tábuas). Vários anos depois da azenha não funcionar, pescadores destruíram-no com a intenção que o peixe subisse rio a cima, tornando o rio navegável desde a barragem de Castelo de Bode até à foz do Zêzere (Constância).
A casa da moleira está em ruínas devido à queda de árvores sobre a casa. As paredes que estão erguidas junto a azenha fazem parte dela. Aqui era onde se guardava a farinha e os cereais que as pessoas traziam.
A azenha ainda permanece minimamente intacta. Devido às cheias, que modificam o rio, a azenha não tem qualquer água junto dela. No exterior ainda se encontra a roda de ferro (ver waypoint) e o que sobra de uma das mós (entre a azenha e a casa da moleira).
Não há data certa de quando a azenha deixou de funcionar mas já em 1975 já a mesma estava abandonada. Havia quem fosse para aquelas margens pastar o gado e se abrigasse na azenha.
Fig. 4 - Reconstituição da mó da azenha
Histórias das gentes daquele tempo
“Durante a grande guerra (2ª Guerra Mundial), numa altura de fome, os nossos pais mandavam-nos a nós à azenha. Éramos cachopos e lá íamos, com as sacas de trigo ou milho, caminho fora até a azenha, para que fizessem a farinha.
Como não havia dinheiro e a miséria era muita, os moleiros só nos entregavam a farinha se fossemos apanhar lenha.
Apanhávamos a lenha da margem de cá e da margem de lá. Para ir ao outro lado buscar a lenha à outra margem fazíamos um cordão humano sobre o açude. Dávamos as mãos uns aos outros e assim é que juntávamos lenha para trocar pela farinha.
Um dia, a tia Amélia escorregou do açude e foi arrastada pela corrente. Nós aflitos a vermos que ela ia rio abaixo não a conseguíamos tirar de lá. Lá foram os moleiros tira-la do rio senão tinha morrido lá.”
Fig. 5 - Roda de ferro da azenha
A cache
Esta cache foi colocada com intuito que não se percam estes “monumentos” que por entrar em desuso, acabam por cair em esquecimento. Quando lá forem e entrarem na azenha tentem fazer uma viagem pelo tempo para imaginar o local que era.
Pretende-se, ainda, com esta cache que o trilho aberto pelo CCD Limeirense, seja percorrido para que a vegetação não o feche. Trilho esse para quem o quiser percorrer e apreciar as belas paisagens do Zêzere tem saída na localidade de Cafuz (próximo do waypoint do parque de estacionamento) – TRILHO CIRCULAR de 6km – seguindo para oeste.
O container tamanho razoável, fácil de encontrar, permite troca de objectos e não está dentro de nenhum dos edifícios. Será necessário levarem material de escrita. É fácil de abrir, não é necessário forçar.
Avisos:
- Apenas pessoas com boa mobilidade deve tentar fazer esta cache até porque o trilho é de alguma dificuldade. Obstáculos diversos: terrenos inclinados, pisos instáveis (areia), árvores e arbustos
- No local da cache a rede de telemóvel não existe
- Cuidado a quem quiser dar um mergulho na água do Zêzere, existem fundões e a água sobe e desce repentinamente devido à barragem
- Deixem tudo como encontraram ou melhor ainda
Especial agradecimento ao geocacher afelizardo que deu-me uma valente ajuda nesta minha primeira cache como owner!!!