Na Ilha de S. Miguel, a primeira a surgir foi a fábrica da Lagoa, em 1882, a seguir foi a fábrica de Sta. Clara, em 1884, e finalmente foi a vez da unidade da Ribeira Grande, em 1890. É este o contexto histórico que conduz ao grande incremento do fabrico de álcool nos Açores, sendo de realçar que, no fim do século passado, foi a cultura da batata doce que contribuiu decisivamente para a modernização da mesma indústria. A Região dos Açores, nessa altura era ponto de passagem obrigatório para os navios que iam para a Europa, razão pela qual os residentes no Arquipélago acompanhavam o processo de evolução da mesma indústria. Havia a consciência de que a batata-doce tinha grandes possibilidades de ser cultivada nas ilhas.

Associando este aspecto ao da crise da laranja, fica a perceber-se o surgimento da indústria do álcool. Porém, na Europa, a doença da filoxera atingiu gravemente as vinhas. A imediata consequência disso foi uma crise séria na produção do vinho, e por isso, o consumo de álcool começou a aumentar, aspecto este que foi determinante para o incremento da cultura da batata-doce. A produção do álcool, na Região, foi muito importante e positiva durante os últimos 20/30 anos do século XIX - isto, apesar dos muitos obstáculos que lhe foram levantados, conforme foi o caso da criação do monopólio do álcool. Nessa altura, o Ministério da Fazenda introduziu taxas de captação de dinheiro que arruinavam completamente a indústria do ramo, o que provocou profundas reacções na época, tanto da parte dos investidores, como da parte da própria classe trabalhadora.
Para agravar ainda mais a revolta na Região, sabia-se que os lucros da indústria açoriana do álcool, eram para aplicar na construção dos caminhos-de-ferro de Portugal Continental. Além disso, a publicação de um Decreto de 1901 que visava defender os interesses da indústria continental, veio limitar a produção de álcool nos Açores! E nesse tempo, a Região dos Açores já produzia 10 milhões de litros de álcool por ano, tanto quanto Portugal consome actualmente. Assim, o Decreto de 1901, fez com que a produção de álcool no Arquipélago fosse reduzida para 2 milhões de litros/ano encerrando-se quatro unidades do ramo, duas na Ilha Terceira, e duas na Ilha de S. Miguel. O continente, deste modo, prejudicou, sem margem para dúvidas, o desenvolvimento da indústria do álcool nos Açores. É assim que aparece a beterraba - a nova cultura que serviu para os Açores responderem à política restritiva do Governo de Lisboa. As primeiras experiências com a cultura da beterraba açucareiro já haviam sido feitas no último decénio do século XIX, por Henrique Bensaúde, pelo Eng. José Cordeiro e pela antiga Estação Agrária. Em 1902, assim (devido à crise gerada pelo Decreto de 1901), formou-se a União das Fábricas Açorianas do Álcool, UFAA, (que só viria a desaparecer em 1969), e que pediu autorização do Governo para instalar uma fábrica de laboração beterraba açucareiro em S. Miguel, com vista à produção de açúcar.

O álcool passaria então, a ser extraído, também, de melaço, um derivado da beterraba sacarina, ultrapassando-se, desta forma, a crise do álcool da batata doce que, mesmo assim, continuou a ser produzido na fábrica da Lagoa, até 1969. Em 1903, foi finalmente dada autorização pelo Governo, para a instalação de uma unidade industrial para a produção de açúcar, mas com a condição do projecto ficar concluído no período máximo de três anos. A UFAA aceitou o desafio e mandou mesmo construir a Fábrica de Açúcar de Sta. Clara, exactamente no mesmo espaço que era ocupado pela Fábrica de Destilação de Álcool. No mês de Dezembro de 1905, a fábrica de Sta. Clara ainda fez a sua última campanha do álcool, e seis meses depois (em meados de 1906) a unidade açucareira já estava instalada (um tempo verdadeiramente recorde, de facto) tendo a fábrica laborado, então, já no mês de Julho desse ano 7.500 toneladas de beterraba, durante um período de cerca de três semanas. 1969 foi o ano da grande viragem histórica, no que respeita à produção do açúcar e do álcool nos Açores.
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