Diário de Bordo
Gemeses, 1 de Julho de 2018.
Maré Alta. Hoje foi um dia complicado e um pouco atribulado.
Estava eu a orientar a festa do enorme e ilustre cruzeiro que navega agora em direção à foz do rio Cávado, quando me apercebo de algo. Uma mulher, que aparentemente estava a gostar da festa, começou a gritar. Se calhar não estava a gostar da música, pensei eu. Mas a música "O verão é nosso" é o novo Hit do Verão, não tem como não gostar.
Mas afinal a gritaria tinha todo sentido: o que antes me parecia um casaco que tinha sido deixado ali na ilha em Gemeses era afinal um náufrago. Sim, um náufrago. Daqueles com roupa tão esfarrapada que parece que andou à procura de caches em zonas quase inacessíveis.
Claro está, a primeira coisa a fazer era tirá-lo de lá. E com mais ou menos esforços da minha parte, se tenho homens a trabalhar para mim é para alguma coisa, ele não só ficou salvo como entrou de borla deste cruzeiro. Pronto, este passa.
Teria estado à muitos anos à deriva e tinha encontrado, por acaso, esta ilha. Infelizmente o navio já estava quase a passar a Ponte de Fão. Ali nas coordenadas N 41° 30.779 W 008° 45.087. Seria agora impossível voltar para trás e localizar a ilha. Afinal de contas estava de noite.
E quando lhe expliquei que, infelizmente, Portugal estava fora do Mundial 2018 este não pensou duas vezes: Atirou-se borda fora gritando em voz alta "Eu quero voltar para a ilha! Eu quero voltar para a ilha!". Desapareceu na imensidão da noite e provavelmente nadando até à sua redidência rodeada de água por todos os lados.
Assim que este saiu reparei que, no chão do convés, tinha um papel tão degradado que era imposível não ter sido deixado pelo náufrago. Aparentemente sem qualquer sentido e lógica, mas eu descobri algo mais e principalmente como relacionar as palavras. E se quero descobrir as coordenadas da ilha, para o ir procurar, tenho de primeiro desvendar isto. Será que ele ainda está lá? Será que se transformou em algo?
Uma coisa tenho a certeza: ainda que tenha sido feito por alguém que não percebe nada disto, um náufrago, tem lógica e não é necessário bola de cristal para o descobrir. Não tem essa ferramenta especial nos atributos. Mas ainda tenho sérias dúvidas: desde quando é que ele conhece código binário? Fica o mistério:
Agora não posso ver isto com calma. Irei navegar agora para norte e visitar Viana. Dizem que por lá até há uma rota marcada com pintinhas azuis com interrogações no mapa e que liga o Distrito de um lado ao outro. Assim, e se seguir estas pistas, não me perco. Vamos lá explorar o Alto Minho Litoral!
Capitão Barão de Gauville
"É necessário sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saírmos de nós"
José Saramago