Lenda da Procissão das Almas.
"A Lenda, conta sobre uma velha, que vivia sozinha na sua casa, e por não ter muito que fazer, nem com quem conversar, passava a maior parte do dia olhando a rua através da sua janela . Até que numa tarde quando estava quase anoitecendo ela viu passar uma procissão, todos estavam vestidos com roupas largas brancas (como fantasmas) com velas nas mãos e ela não conseguia identificar ninguém, logo estranhou, pois sabia que não haveria procissão naquele dia, pois ela sempre ia à igreja, e mesmo assim quando havia alguma procissão era comum a igreja tocar os sinos no inicio, mas nada disso foi feito.
E a procissão foi passando, até que uma das pessoas que estava participando parou na janela da velha e lhe entregou uma vela, disse á velha que guardasse aquela vela e que no outro dia ela voltaria para pegá-la .Com a procissão chegando ao fim a velha resolveu dormir, e apagou a vela e guardou-a. No outro dia, quando acordou, a velha foi ver se a vela estava no local onde ela guardou, porém para sua surpresa no local em que deveria estar a vela estava um osso de uma pessoa já adulto .
Horrorizada, a velha senhora persignou-se e rezou o credo com devoção e fervor, repetindo esse procedimento algumas vezes durante o dia. Um longo dia, por sinal, mas que finalmente se foi, como é o destino inexorável de todos eles. E então, pouco antes da meia-noite, ela, trêmula de medo, devolveu os ossos e duas velas bentas à figura embuçada que lhe apareceu diante da janela, recebendo da mesma a seguinte recomendação: ”Que isto te sirva de lição, pois a Procissão das Almas não é para ser vista pelos viventes”.
Uma crença do passado?
"Desengane-se quem pensa que as Procissões de Defuntos eram acreditares da Idade das Trevas, extravagâncias de gerações ignorantes, e que hoje já pouco mais são do que ecos medievalescos etiquetados como folclore.
No norte de Portugal, sobretudo no Minho, há uma crença antiga. Contam muitos, maioritariamente os mais velhos, que uma procissão de mortos ou de almas penadas é feita pela noite. O objectivo? Visitar casas onde, em breve, alguém irá morrer.
Reportagens feitas aqui ao lado, em Espanha, dão conta de histórias relacionadas com familiares que morreram depois de afirmarem ter assistido à passagem de uma fila de finados.
Os dias da Santa Compaña
Normalmente, os testemunhos de avistamentos da Santa Compaña dão-se em dois dias específicos. Ou antes, duas noites. Datas mágicas que, de ano para ano, a Europa celebra: a noite de São João (isto é, a de Solstício de Verão) e sobretudo a noite anterior ao Dia de Todos os Santos (ou seja, a de Samhain ou, numa forma comercial, a de Halloween ou Noite das Bruxas).
A escolha destes percalços de calendário não vem ao acaso. Se na segunda, como sabemos e já foi explicado nos artigos da Festa da Cabra e do Canhoto e da Coca, há todo um enredo em torno da ideia do mundo da morte vir à superfície dos vivos, para os perturbar nesse tempo ausente que é a passagem de 31 de Outubro para 1 de Novembro, na primeira vive-se igualmente uma passagem dimensional, de cunho solar, tão bem representada pelo São João do Porto. Contudo, há que lembrar que estas duas noites não detêm a exclusividade no que toca ao aparecimento da Santa Compaña. Vários testemunhos dão nota de aparições em dias vulgares, sem qualquer simbolismo, pelo menos que se conheça.
Esta horda fantasmagórica entra nos lares das aldeias, e cada visita significa a morte futura de alguém que lá more. Há ainda quem diga que, em vez de casas, este anúncio do fim é feito a pessoas que são apanhadas em encruzilhadas – já aqui foi abordado o mistério que estes sítios, decorados com cruzeiros, concentram. Seja qual for o cenário, uma coisa parece certa: a Procissão de Defuntos é o início do fim de alguém, e por isso é o terror para qualquer aldeão que tenha o infortúnio de a ver cruzar-se com ele."
"A chegada da Santa Compaña pode ser antecipada. Ou por estranhas reacções de certos animais. Ou por um estranho cheiro a cera que invada, sem razão aparente, os ares de aldeias serranas. Ou por uma corrente de vento muito fria, demasiado fria para não se estranhar."
"Nas noites de São João e de Samhain, exércitos de mortos caminham atrás de um vivo. Nessa altura, os bosques calam-se, os gatos fogem, os cães uivam como lobos. Para os minhotos, é o anúncio da morte, que irá bater à porta de alguém que conhecem, se não for mesmo deles próprios."
Resumindo, a Procissão dos Mortos não é coisa de um passado remoto, entretanto trazida para um presente marcado pelo cepticismo. Ela é mesmo parte de um consciente colectivo, temido por muitos, mesmo por gente mais impermeável a fenómenos sobrenaturais, grupo em que me incluo. Que las hay, las hay.
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