O Município de Arruda dos Vinhos convida-o a percorrer o Passeio Pedestre “Por Serras de Al-Ruta” que o irá transportar ao passado da Vila de Arruda. A Vila situa-se num vale, circundado por montes e serras das quais poderá tirar o melhor partido do que temos para oferecer: a nossa paisagem rural, a fauna e flora, e um horizonte a perder de vista.
Arruda foi povoada por Cruzados Ingleses, como recompensa, após a conquista de Lisboa em 1147, e o seu Castelo foi o primeiro, do Reino de Portugal, a ser doado à Ordem de Santiago em 1172, também por D. Afonso Henriques. Em 1186 D. Sancho I, um ano após subir ao trono, fez lavrar, em Évora, nova doação do Castelo de Arruda à Ordem de Santiago. Mais tarde, em 1218, é confirmada esta doação à referida Ordem por parte de Afonso II, filho de D. Sancho I e neto de D. Afonso Henriques.
O nome Arruda dos Vinhos deriva do topónimo latino Ruta/Rutae (Rota), adquirindo durante o período de ocupação muçulmana o prefixo al, passando a designar-se Al'Ruta. Posteriormente adquiriu “dos Vinhos”, devido à abundância e qualidade dos vinhos que possui, mencionados desde o século XVI, nomeadamente no “Pranto de Maria Parda” de Gil Vicente. A tradição popular atribui o nome da Vila à abundância, em tempos, do arbusto Erva Arruda (Ruta Chalepensis).
“Por Serras de Al-Ruta” é um percurso cheio de história, que nos leva a várias fases do passado. Tem início no Jardim do Palácio do Morgado, do século XVIII, mandado construir por António Theodoro de Gambôa e Liz, pai de Bartholomeu de Gambôa e Liz, este último Barão de Arruda.
Contíguo ao Palácio existe um Chafariz Pombalino que, em tempos, foi abastecido por um aqueduto proveniente da Arca de Água, situada a cerca de 3 kms da Vila. Foi edificado em 1789 sobre um chafariz de pequenas dimensões, com um grandioso espaldar onde figura uma Coroa Régia de D. José I, que denuncia uma possível iniciativa ou colaboração régia na sua edificação. É de referir que a dita coroa foi devassada pelos populares aquando da implantação da República, em 1910, como sinal da queda da Monarquia. Este Imóvel é de Interesse Público desde 1997.
Passamos pelo Jardim Municipal, do início do século XX, inaugurado com a designação de Passeio Público. Ao fundo do Jardim encontramos a Praça de Touros José Marques Simões da primeira metade do século XX. Subimos por um trilho que nos levará à Quinta de S. Sebastião, que tem capela em honra de S. Sebastião da Serra onde existiram, outrora, várias romarias e cortejos de oferendas.
Depois da Quinta de S. Sebastião continuamos a subir até ao Forte do Cego, Obra Militar n.º9, que integrou a 1.ª Linha Defensiva de Lisboa, aquando da 3.ª Invasão Francesa, em 1810. O Forte do Cego pertence à freguesia de Arruda dos Vinhos, é propriedade do Exército Português, e tem uma localização privilegiada porque permite a visualização de todo o vale de Arruda, a uma altura de 353 metros. Em 1814 estava ainda artilhado com três peças de calibre 9, uma peça de calibre 12 e quatro canhoneiras, com uma capacidade para 280 soldados. Hoje em dia ainda se conhecem as canhoneiras e o paiol. Do Forte do Cego é possível ver a Serra de Montejunto e o complexo montanhoso de Aire e Candeeiros, perceptível em dias de céu limpo.
Deixando o Forte do Cego e os aerogeradores para trás, seguimos por um trilho à direita que nos conduzirá até à EN 115-4, conhecida como a Estrada da Mata (que liga Arruda às freguesias de S. Tiago dos Velhos e Arranhó). Nestas encostas cobertas de urze, forma-se um vale que no início do século XIX (1810-11) foi intransponível pelas tropas francesas que estiveram acampadas na Vila. Existem referências a uma muralha que terá sido construída pelas tropas inglesas e habitantes com cerca de 12 metros de altura e 4,8 metros de espessura na zona oeste da vila. Para além da muralha, o vale foi defendido com enormes abatizes de carvalhos e castanheiros arrancados da terra todos inteiros, com as suas enormes raízes, transportados com esforços sobre-humanos.
Voltamos a subir. Agora para o Forte da Carvalha, Obra Militar nº10, também da propriedade do Exército Português, que se situa na freguesia de S. Tiago dos Velhos. É um Forte em “forma de estrela” e apresenta uma tipologia arquitectónica das mais representativas destas estruturas militares. Situa-se a 394 metros de altura, sendo o ponto mais alto do concelho de Arruda dos Vinhos. Em 1814 estava artilhado com duas peças de calibre 9 e quatro canhoneiras, e a sua capacidade era para 400 soldados. Junto a este Forte existiu um poço aberto para serviço das tropas, conhecido como o “Poço dos Militares”. Daqui avistam-se outros Fortes da 1ª e 2ª Linhas de Defesa de Lisboa que integram a Rota Histórica das Linhas Defensivas de Torres Vedras e, em dias de céu limpo alcança-se a Pena de Sintra, Cristo Rei e parte da Arrábida, assim como grande parte da Lezíria Ribatejana. Neste ponto elevado poderá descobrir algumas espécies de aves e outros animais, tais como a Perdiz, o Coelho, o Falcão e a Águia de Asa Redonda (espécie muito rara). Seguimos até à Capela de Santa Ana, na localidade de Carvalha, e depois até ao Moinho Velho por trilhos em pedra. O percurso do Moinho Velho ao Moinho Eólico faz-nos acompanhar a evolução técnica no aproveitamento das energias renováveis. As velas que outrora moíam o trigo, um bem precioso na cozinha portuguesa, agora produzem electricidade, e rasgam a paisagem da Região Oeste. Descemos até ao lugar do Covão de Cima, e logo de seguida ao miradouro da Giesteira, local aprazível que nos proporciona outra vista sobre a Vila.
Daqui até à vila, passamos pela zona de S. Lázaro, até nos abeirarmos do Rio Grande da Pipa. Com o rio à nossa esquerda, chegamos ao Largo Irene Lisboa, escritora e pedagoga natural do nosso concelho. Neste largo, vislumbramos a Quinta dos Corações, com Capela, que datam do século XVIII. Até 2003, e durante 30 anos, albergou o Externato Irene Lisboa. Junto à Quinta dos Corações existiu uma ponte de origem romana, destruída pelas inundações que assolaram a vila.
Seguimos pelo Beco da Água Ruça, que será a porta de entrada deste percurso ao núcleo medieval da Vila de Arruda. As ruas, algumas ainda empedradas, têm nomes que denunciam a organização da vila em tempos que não se conhece. Aqui existiu o Castelo de Arruda que foi o primeiro, do Reino de Portugal, a ser doado à Ordem de Santiago. Rua Costa do Castelo, Rua da Corujeira, Porto da Ordem, Rua e Beco da Amargura, são locais que ainda conservam uma memória dos antepassados de Arruda.
Este percurso dá-nos a conhecer alguns edifícios como a antiga Escola do Paço (de 1866), Adegas e Celeiros destinados às actividades comerciais da vila, antigo Paços do Concelho, que possui uma torre elevada onde está situado o relógio oficial, que data de 1881. No cimo da torre há um sino, de 1561, com o brasão de armas de Arruda gravado em relevo. Aqui foi também a Cadeia, a Repartição de Registo Civil e a Guarda Nacional Republicana.
Arruda recebeu Foral em 15 de Janeiro de 1517, por ordem de D. Manuel I. Este Rei fez restaurar a Igreja Matriz de Arruda dos Vinhos, entre 1525 e 1531, e a invocação passou de Santa Maria de Arruda para Nossa Senhora da Salvação, a desejo do Soberano, por atribuir à Santa a sua salvação à peste, celebrando-se os festejos em sua honra, anualmente, a 15 de Agosto. Este Imóvel é de Interesse Público desde 1944. No exterior da igreja eleva-se a torre sineira quinhentista rematada por coruchéu. A fachada ostenta também um belo portal manuelino, ladeado por pilastras com imagens em alto-relevo.
Deixamos a Igreja Matriz e dirigimo-nos até ao edifício da Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos, e novamente ao Chafariz Pombalino para terminar o percurso no Jardim do Palácio do Morgado. No Centro Cultural do Morgado poderá visitar o Posto de Turismo, a Galeria Municipal, a Biblioteca Municipal Irene Lisboa, a Oficina do Artesão e o Centro Interpretativo das Linhas de Torres Vedras, cujos Fortes do Cego e da Carvalha já conheceu neste percurso.
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