Sejam bem-vindos a Bedrock


Viver na Idade da Pedra não é nada fácil, nada mesmo. E eu que o diga: quem consegue nestas condições precárias entreter grande parte das famílias no horário nobre? E é por causa dessa proeza que todos ao redor do globo conhecem a minha. Sim, a Terra é mesmo redonda e pude confirmar isso quando voei pelos ares numa das mais mirabulantes invenções do meu vizinho, o Barney. Mas para aqueles cuja memória é atenuada pelo peso da idade fica a saudação: prazer, sou o Fred Flintstone.

Que Galileu? Fui eu que descobri que a Terra não é plana!
Tenho várias ocupações. Uma delas é apenas estar sentado na minha poltrona granítica (muito fria, diga-se de passagem) a ver as notícias da semana. Muitas vezes uso o tradicional formato mais robusto, aquele de laje em que são esculpidas letras garrafais com o negrito sempre feito a carvão. Quando o pedreiro que esculpe a rocha está de folga vejo televisão. Televisão? Sim. Ao que parece é o único equipamento realmente tecnológico presente na minha vida. Mas não reclamem comigo, a culpa é toda do William Hanna e do Joseph Barbera. Eu até uma altura desmontei aquela caixa cúbica na esperança de avistar algum animal que fizesse magia lá dentro. Nem dinossauro, nem mamute, nem televisão pois não a consegui reconstruir de modo a ficar novamente funcional.
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Por vezes a entrega do jornal deixa algumas marcas |
Ainda hoje fico espantado com a tecnologia implementada nesta caixa |
Eu trabalho numa pedreira que fica em Alvarães. A minha ferramenta de trabalho é muito estranha: eu comando um brontossauro com uma cabine de comando instalada na costas. Não é a coisa mais confortável do mundo mas pelo menos não sou eu que gasto os dentes a escavar aquela rocha amarelada, o caulino. Quem não tem cão, escava com dinossauro. É de lá que sai também o dinheiro para a cidade: as lascas. São como moedas de euro num formato bem mais irregular. Se já desviei algumas lascas para benefício próprio? Olhem lá: eu lá por ter uma gravata parecida com as dos vossos políticos não significa que ande a roubar! De qualquer maneira acabaria preso, ao contrário do que acontece no século XXI.
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Uma vez por mês levámos o dinossauro ao dentista |
Tirando os fins-de-semana em que o Barney está mais disponível para me chatear, a minha vida é monótona. Como estámos na Idade da Pedra e não há nada à nossa volta além de rochas, desloco-me sempre em linha reta. Assim poupo tempo. E a energia que não gasto no percurso gasto a contar desculpas esfarrapadas (quase tanto como as minhas roupas) à minha mulher, a Wilma, quando algo não corre bem.
Na falta de energia elétrica temos... a energia animal! Na falta de motor usámos os pés! E na falta de aptidão para resolver algo não hesitamos em pedir aos outros descaradamente a solução. Quando me perguntam se quero as coordenadas, mais do que aprender algo novo e abrir horizontes, eu não digo que não e sou bem educado. Tudo isto é típico da Idade da Pedra.
No meio disto tudo o que mais me irrita é quando algum mamute avaria. Durante o meu banho ele fica do lado de fora da janela a esguichar água pela tromba (lógico! um mamute não caberia dentro de casa!). E como é que vou aspirar a casa? Neste caso é um mamute de tamanho pequeno sobre rodas que aspira a poeira.

Foi a partir daqui que as pessoas começaram a montar em animais
O meu animal de estimação é um dinossauro, o Dino. E é por uma razão muito simples: já imaginaram ter um cão a destruir tudo o que é feito de ossos na minha casa? Destruir parte dos adereços da minha mulher e da minha filha Pedrita?
Eu também conheço o Geocaching. Descobri a atividade assim que tropecei numa pedra, por baixo desta apareceu um pequeno pedaço de papel envolvido em plástico. Vinha acompanhado de dezenas de "OPC" e outras coisas escritas que eram repetidas em todas as caches que encontrei à volta. Será que é algum problema na voz dessas pessoas, para andarem sempre a repetir o mesmo, ou alguma técnica do meu tempo que desconheço?
Na semana passada, estava a sair para o trabalho quando, a meio do caminho, deparei-me com algo nunca antes visto em Bedrock: um ananás! Combinava com a minha roupa e tudo. Serás capaz de descobrir o seu paradeiro e depois encontrar a cache?
Yabadabadoo!
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