Rocha Forte.História
O Concelho do Cadaval, onde se encontra Rochaforte, sofria de escassez de povoamento, na Idade Média. A densidade populacional, tem sido considerada fraquíssima, para a época. A necessidade de povoar a região para garantir meios indispensáveis à manutenção de uma empresa militar de envergadura, como a reconquista, levou os reis a empreenderem um esforço de povoamento, cedendo extensas parcelas de território a ordens eclesiásticas, senhorios nobres e colonos portugueses e esvtrangeiros. Segundo o Numeramento de 1527, Rochaforte situava-se entre as povoações mais pequenas do que é hoje o concelho do Cadaval, com cerca de 10 vizinhos.
A toponímia de Rochaforte poderá testemunhar de um povoamento estrangeiro, na opinião de Pedro Barbosa, ao referir-se a uma tardia imigração de origem francesa.
Os territórios do termo do Cadaval não ficaram afastados de períodos de guerra que o país atravessou. Por exemplo, a crise de 1383-1385, as invasões francesas e a guerra civil.
A 12 de Agosto de 1808, o general francês Delaborde, seguindo de Lisboa para Óbidos, tomou posições na Roliça, mandando ocupar o Bombarral e o Cadaval. Três companhias do Regimento nº 70, foram enviadas para o Bombarral e Cadaval com a intenção de combinar as suas operações com as do General Loison, que deveria chegar a Alcoentre a 14 ou 15 de agosto. Ao mesmo tempo, Junot espalhava as suas tropas pelo Cercal, levando Loison a afastar-se, dia 18, para a região de Torres Vedras.
O Mosteiro de Alcobaça possuia bens nas proximidades do Cercal, explorando parte da Quinta de Montejunto. As cartas de povoação estabeleciam que, ao fim de alguns anos, as terras passavam para a posse dos colonos e o mosteiro fornecia, no início do arroteamento, as sementes necessárias para o cultivo, apenas com a obrigação por parte dos colonos de retribuirem o empréstimo, sem pesos, na colheita seguinte. Para que se marcasse o poder que cabia ao Abade, a quem cumpria a responsabilidade da vida do mosteiro, nos seus tempos áureos, convém relembrar que, na área dos seus coutos, não se gritava, «Aqui d'El-rei!», mas, sim, «Aqui do Abade!».
Ao Abade cabiam os títulos de o senhor dos coutos, donatário da coroa e esmoleiro-mor do Conselho d'El-Rei, fonteiro-mor, Senhor de Água e Vento (uma referência aos moinhos de levada e de ar) de treze vilas e de três postos de mar. É hoje aceite que a presença senhorial foi constante até aos séculos XV e XIV, em Montejunto, Carvalhal e Trindade, onde alguns nobres a residir, maioritariamente, na capital, posuiam vastas propriedades, quintas imensas, que, sendo coutadas, vedavam ao povo o acesso ao usufruto dos montados e das matas.
A par da ocupação senhorial e eclesiástica, sabe-se da existência de proprietários mais pequenos, traduzidos, por vezes, na toponímia regional, para além da existência de povoadores de origem estrangeira, como hispânicos e francos.
O aumento demográfico, observado nos séculos XVI a XVIX, levou à abertura de novos espaços aráveis, de modo a permitir o sustento da população, em crescimento. O Terramoto de 1755 foi sentido e teve impacto em vários locais da Serra de Montejunto, provocando um reordenamento do território. Um documento mencionando a avaliação feita aos terrenos para o cultivo do trigo, permite conhecer a qualidade dos terrenos, na zona de Rocha Forte, para aquele tipo de agricultura.
Em 1824, os moradores de Pragança, solicitaram ao rei o aforamento de trinta courelas situadas no termo da localidade, argumentando que as terras eram insuficientes para o número de moradores, o que poderia levar á miséria das famílias, por insuficiência de sustento. Defendiam, ainda, a tese de que o cultivo destas fazendas não provocaria qualquer dano para os particulares que usavam os baldios da serra.
Esta pretensão encontrou uma viva oposição da Câmara do Cadaval, ao considerar que a serra deveria conservar-se, totalmente, baldia, por os lavradores e seareiros pastarem gados de consumo e lavoura, obtendo, ainda, lenha, estrume, que permitissem aquecer as casas e cozinhar. Na realidade, receava-se um conflito entre os pretendentes às coutelas e os habitantes das povoações vizinhas que usavam os baldios da serra.
A oposição a esta situação levou á assinatura de um abaixo-assinado realizado pelos habitantes das localidades que se sentiam lesadas, entre elas, Rocha Forte, mas, também, Ventosa, Pereiro, Póvoa, Cercal, onde expressavam o seu desagrado pela proposta de privatização daqueles terrenos.
Defendia-se que a serra deveria permanecer baldia, para evitar dificuldades no apascento dos animais, na apanha da lenha e no estrume para uso doméstico e aforreamento, de modo a evitar, um atentado ao benefício público, na opinião dos habitantes daquelas localidades.
O Corregedor realizou uma visita aos terrenos pretendidos pelos habitantes de Pragança, na presença dos lavradores das duas partes, em litígio, concluíndo que, os motivos alegados eram insuficientes para impedir o aforreamento dos terrenos pretendidos.
Na decisão tomada, argumentava-se tratar-se de uma área muito pequena, em relação à totalidade da superfície serrana, não prejudicando o pasto do gado e a obtenção de lenha.
A 1 de Dezembro de 1371, D. Fernando I, numa carta régia, divide o Concelho de Óbidos e do Cadaval, de que o Cadaval e o seu termo sempre tinham feito parte, permitindo-lhe tornar-se um espaço livre, isento de senhorio, jurisdição e sujeição ao antigo concelho e suas autoridades. O monarca pretendia fazer mercê a D. João Afonso Telo, 4º Conde de Barcelos, dando-lhe, outorgando e fazendo-o «para sempre». Sem que se possa ser definitivo, após a morte do Conde, o Cadaval poderia ter passado de novo, para a jurisdição de Óbidos. A reintegração surge de 1385 a 1388. Tomando partido do Mestre de Aviz, o Cadaval tem capacidade de manobra ao queixar-se ao rei do desprezo a que estaria votado. Sobretudo por Óbidos se ter mostrado veemente defensor de D. João de Castela. Apontava-se o peso tributário, como medida de retorsão, pela oposição existente entre os dois concelhos, durante a crise de 1383-1385. O Cadaval teria perdido mesmo a categoria de vila, privilégio que teria sido outorgado, novamente, a partir de 1394, ao serem confirmados aos besteiros do couto do Cadaval, todos os privilégios, foros, liberdades e bens. O Numeramento de 1527, deixava claro existirem vinte e uma aldeias, dezassete casais e duas quintas, no concelho.
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