A vetusta vila de Miranda do Corvo, no distrito de Coimbra, surgiu num local estratégico: no cruzamento do vale do rio Dueça com uma das passagens ao longo da Cordilheira Central, mas o momento da sua fundação permanece uma incógnita.
Após a ‘Reconquista’ de Coimbra, por Fernando Magno, em 1064, a linha de fronteira entre os reinos cristãos e o mundo muçulmano estabeleceu-se numa faixa de território a sul do Rio Mondego, onde ficou fisicamente marcada pela construção ou reconstrução de várias fortificações. Esta estremadura, onde Miranda do Corvo se encontrava inserida, foi fulcral para a defesa da cidade de Coimbra, já que permitia o controlo do acesso a Sul, que se apoiava na antiga via romana Olisipo-Bracara. Esta região vai adquirir ainda maior importância estratégica quando, no século seguinte, a partir de 1131, o principes portugalense Afonso Henriques se fixa na cidade do Mondego. É neste contexto que surgem as primeiras informações sobre o castelo de Miranda do Corvo. É neste contexto que surgem as primeiras informações sobre o castelo de Miranda do Corvo.
A referência mais antiga surge em 1136, na própria Carta de confirmação, estabilidade e de foro[6], dada por Afonso Henriques em favor de Uzberto e sua mulher Marina, e que será, posteriormente, confirmada por D. Afonso II. Mas o testamento do Presbítero Árias, datado de 1138, já refere a sua existência em 1116.
Erguendo-se no morro ladeado a nascente pelos rios Alheda e Dueça, o castelo dominava a saída dos valeiros destes rios e a passagem natural entre a Estremadura e as Beiras, aliás já referenciadas pelos romanos, que era a estrada de Tomar a Foz de Arouce, cujo perfil, designado por "estrada real", ainda é possível detectar em alguns pontos. A estrada real que aqui passava, vinha de Lisboa, atravessava o concelho desde a Sandoeira ao Padrão e seguia por Foz de Arouce para a Mucela e daqui para a Beira Alta, julga-se pertencente às antigas vias romanas.
Sabe-se que existiam duas estradas romanas que se cruzaram aqui no Corvo: a via que ligava Conimbriga a Villa Serpins (Serpins) e a via que ligava Sellium (Tomar) a Igaeditania (Idanha-a-Velha). Este cruzamento de vias deu origem, naturalmente, a uma pequena aldeia que tomou o nome de Corvo onde terá sido erigida uma albergaria como sempre acontecia nos cruzamentos destas vias primordiais.
Do topónimo Corvo pouco se poderá saber, sendo de crer que por estas bandas existissem muitas gralhas, da espécie “Corvidae” e que tivessem naquele vale de entre os rios Dueça e Alheda, como ainda hoje têm, um habitat privilegiado.
O último aluimento da estrutura defensiva ocorreu a 7 de Maio de 1799. À época, já o local se transformara numa pedreira, aonde a população se dirigia para aproveitar as pedras que outrora fizeram parte da estrutura defensiva, o que levou à delapidação do sítio e, consequentemente, dos vestígios arqueológicos. Isso mesmo é o que nos diz a postura camarária de 1799 onde a Câmara Municipal de Miranda do Corvo proíbe, veementemente, a utilização da pedra da fortificação para obras particulares: quem fosse acusado de roubar pedra do castelo seria condenado a uma multa pecuniária e a um ano de cadeia. A Câmara considerava a pedra propriedade concelhia que deveria ser utilizada em obras públicas. E será isso que vai acontecer, em 1803, quando se estabelece que para a construção da nova ponte no Corvo (onde está esta esta cache ), na Estrada Real, fosse utilizada a pedra do castelo.
Sabe-se ainda que durante as invasões francesas, a estrada de Almeida que era a estrada real que ligava a capital do reino a Espanha, e que passava pelas povoações de Miranda do Corvo, Foz de Arouce e Ponte da Mucela, foi utilizada para a retirada dos exércitos comandados por Massena em 1811.
O surgimento das Estradas Reais
A rede viária só viria a ser reconstruída numa óptica moderna partir de meados do século XIX com a construção das Estradas Reais, finalmente recuperando a antiga lógica dos grandes trajectos romanos com um sistema de manutenção e de segurança eficazes, assente numa rede de albergues que retoma o conceito das mansiones romanas. A rede pretendia ligar os grandes centros populacionais da época e por isso acabam por muitas vezes seguir os traçados da antiga via romana, mas muitos outros emergiram da ordem administrativa medieval, pelo que são construídas novas estradas principais para ligar essas sedes administrativas, muitas deles localizados em locais de difícil acesso, levando à criação de uma rede intrincada e muito pouco eficiente que em vez de contornar as dificuldades topográficas como era apanágio da engenharia romana, acaba sujeita a essas dificuldades pela má escolha dos itinerários cuja matriz irá moldar a rede viária que vai ser construída no século seguinte e que em grande parte subsiste nos dias de hoje.
Actualmente na Estrada Real do Corvo
Após as obras de requalificação da Estrada Real em 2011, nada está semelhante ao que era a Estrada Real. Desde a largura da via, nem a ponte sobre o rio Alheda. Este rio no seu troço inicial é também conhecido pela ribeira de Espinho e tem cerca de 8 km de extensão. Todo o seu percurso é feito dentro do concelho de Miranda do Corvo. Nasce perto do Gondramaz e desagua na margem direira do rio Dueça na vila de Miranda do Corvo.