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Projecto ROTAS DE MAÇÃO/ROTAS DE MAÇÃO PROJECT
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PT -
POÇO DAS TALHAS
Poço das Talhas: o nome faz sentido. Uns metros abaixo da estreitinha ponte junto às azenhas, as águas cedem momentaneamente à profundidade do leito – ali em forma de talha, pois. Mais abaixo, porque a ribeira continua, sobressaltada, entre afloramentos rochosos e desníveis consecutivos, outros poços há, mas foi este, o das Talhas, que batizou toda esta zona e as antigas azenhas.
Há 60 anos ainda ali chegavam, carregadas de cansaço e de filhos, as mulheres das redondezas, sobretudo da minha aldeia e dos lugares vizinhos dos concelhos de Abrantes e Sardoal, equilibrando na cabeça e debaixo do braço muitas horas de labuta, suor e fé. Sabe Deus o que trabalho que dá o cultivo do milho.
Ricardo Marques, o moleiro, trabalhava a bom ritmo, tantas vezes de dia e de noite, sozinho na frescura daquele vale, fazendo companhia a si próprio e aos pensamentos que o visitavam. Duas azenhas, apenas um homem, fartura nenhuma, tudo às voltas, vezes sem conta, no cumprimento do seu destino. Sábia e pacientemente.
Tal como a roda que ora mergulha ora emerge, também a história deste sítio retornou ao seu passado para logo vir ao de cima e respirar o ar dos nossos dias. E quem sabe se o ciclo estará completo já? Ou quantas voltas pode dar uma vida?
Há dois anos, quando o fogo apareceu de novo por estas bandas, invencível, as chamas não destruíram apenas a paisagem da minha aldeia, lamberam a alma das suas gentes e deixaram mudas várias pessoas. E não se pense que foi do medo, porque não foi.
Foi sim por terem tanto para dizer, e sobretudo por saberem que há silêncios tão poderosos como gritos. Às conversas sobre aquela tarde demoníaca – e tivessem elas o condão de fazer o tempo voltar atrás, trazer de volta o cheiro a pinho e a alecrim, mas não – nada tinham a acrescentar.
Talvez a coragem se lhes tenha enchido de dúvidas e o esforço de resignação, é possível, embora talvez nunca o saibamos. Houvesse justificação possível para tamanho infortúnio e quiçá fosse mais pequena a desilusão. Assim, sem palavras, restava-lhes ombrear a natureza, meter mãos à obra.
As chuvas varreram as cinzas e pintaram de novo as encostas, recuperando assim a esperança e o verde horizonte. A ribeira corre agora ainda mais generosa e à sua volta crescem viçosos fetos, acácias e giestas. O ar cheira a estevais e a rosmaninho. Estão de volta os esquilos, os papa-figos, as toutinegras e os melros.
(Fonte: Berta Silva Lopes – MedioTejo.net)
GEOSSITIO MARMITAS DAS AZENHAS
As Marmitas das Azenhas têm expressão, em diversos locais, ao longo do rio Frio.
Observaram-se marmitas de muito reduzida dimensão, originadas a partir de uma simples descontinuidade no granito de Belver, como por exemplo, uma diaclase.
Detetaram-se, ainda, marmitas com diversos diâmetros, desde alguns metros a uma dezena de metros, no próprio leito do referido rio.
Considerando as suas diferentes morfologias, bem como as suas dimensões, é possível contar a história do seu aparecimento e das suas diversas fases de evolução ao longo do tempo.
ENG -
POT OF HOOKS
Poço das Talhas: the name makes sense. A few meters below the narrow bridge next to the watermills, the waters yield momentarily to the depth of the bed - there in the shape of a carving, then. Further down, because the stream continues, startled, between rocky outcrops and consecutive unevenness, there are other wells, but it was this one, the Talhas, that named this whole area and the old water mills.
Sixty years ago, women from the neighborhood, especially from my village and from neighboring places in the municipalities of Abrantes and Sardoal, arrived there, weighing on their heads and under their arms many hours of toil, sweat and faith. God knows what work it takes to grow corn.
Ricardo Marques, the miller, worked at a good pace, so many times, day and night, alone in the freshness of that valley, keeping himself and the thoughts that visited him company. Two water mills, only one man, no abundance, all around, over and over, in the fulfillment of his destiny. Wise and patiently.
Just as the wheel that now dives and now emerges, the history of this place also returned to its past to soon come up and breathe the air of our days. And who knows if the cycle will be complete already? Or how many laps can a life take?
Two years ago, when the fire broke out again in these parts, invincible, the flames didn't just destroy the landscape of my village, they licked the souls of their people and left several people silent. And don't think it was fear, because it wasn't.
It was because they had so much to say, and above all because they knew that there are silences as powerful as screams. To the conversations about that demonic afternoon - and they had the ability to turn back the clock, bring back the smell of pine and rosemary, but no - they had nothing to add.
Perhaps courage has filled them with doubts and the effort of resignation is possible, although we may never know it. If there was a possible justification for such misfortune and perhaps the disillusion would be less. So, without words, they had to take on nature, get down to work.
The rains swept the ashes and painted the slopes again, thus recovering hope and the green horizon. The stream now runs even more generously and around it lush ferns, acacia trees and broom grow. The air smells of cistus and rosemary. Squirrels, oriole, warblers and blackbirds are back.
(Source: Berta Silva Lopes - MedioTejo.net)
GEOSSITIO MARMITAS DAS AZENHAS
Marmitas das Azenhas are found in different locations along the Frio River.
Very small pots were observed, originating from a simple discontinuity in the Belver granite, such as a diaclase.
Lunch boxes with different diameters, from a few meters to a dozen meters, were also detected in the riverbed itself.
Considering its different morphologies, as well as its dimensions, it is possible to tell the story of its appearance and its different phases of evolution over time.
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