
ROTA POMBALINA
Quando se fala do Marquês de Pombal, uma de duas convicções existe: ou a de que era natural de Pombal, ideia errónea e, no entanto, muito difundida ou, pelo contrário, de que apenas aqui veio morrer, nada tendo a ver com esta terra. Da época do Marquês, guarda Pombal belas recordações materializadas em monumentos de acentuado cunho, a par de alguns templos, evocadores de uma vivência religiosa nem sempre mantida. Conhecer um pouco mais de perto a vida de quem marcou tão vincadamente os destinos de Portugal na segunda metade do século XVIII é o objetivo desta visita. Um percurso pedestre pela cidade de Pombal, ao longo do qual os participantes conhecem o património ligado a Sebastião José de Carvalho e Melo.
Praça Marquês de Pombal
Chegados à Praça Marquês de Pombal, entramos no coração da antiga vila, durante séculos o seu centro social, económico e administrativo. Aqui domina a Igreja Matriz de São Martinho ligada à paz de que foi obreira a Rainha Santa Isabel. Deu também nome à comenda da Ordem de Cristo de que Carvalho e Melo foi senhor. Recebe-a das mãos dos condes de Castelo Melhor - comendadores de Pombal durante séculos e que ao lado direito da Igreja tinham um dos seus solares. Assim, D. José pretendendo reconhecer os serviços de Carvalho e Melo, concedeu-lhe o senhorio de Pombal, já que era também o seu maior proprietário, através da vasta herança que recebera de seu tio Paulo de Carvalho Ataíde.
À esquerda da Igreja Matriz fica o Celeiro e à direita a Cadeia, de um lado o pão, do outro a prisão e ainda a Casa do Marquês. Os dois edifícios, enquadrados pela Matriz, tentam regularizar uma praça que se formou anarquicamente com o tempo e que nos evoca a ancestralidade de um concelho que foi terra de Marquês.

CADEIA / MUSEU MARQUÊS DE POMBAL
Trata-se de edifício pombalino de dois pisos, com uma escadaria exterior, no lado poente, que permite o acesso ao 2º piso. De fachadas sóbrias, de sólida construção com firme embasamento de pedra, face ao desnível do terreno, com paredes de alvenaria rebocada e com aberturas regulares e vãos rigorosamente modelados, dentro do estilo pombalino.
Ao longo dos anos e das sucessivas readaptações o seu interior sofreu profundas alterações, sendo o piso térreo, correspondente às celas, o menos afectado.
Sofreu obras de reparação em 1875 e em 1877, altura em que as celas foram assoalhadas, bem como em 1905, sendo colocadas portas nas janelas.
Ostenta uma pequena sineta, proveniente da Torre do Relógio Velho e está decorado, na fachada lateral virada para o Celeiro, com as armas dos Carvalhos.

Casa do Marquês
Hoje, um edifício descaracterizado, cuja localização se encontra à direita da Igreja Matriz e se situa no local, onde em 1782, faleceu o Marquês de Pombal. Tratava-se de uma casa pequena e modesta, construída em 1553, revestida de madeiramentos fortes, com tectos baixos e com poucos móveis. Apesar de ter remodelado o seu Solar na Quinta da Gramela (3km de Pombal), ao vir para Pombal, o Marquês instala-se nesta casa que, tudo indica, fez parte das casas do palácio do Conde de Castelo Melhor. Com a morte do Rei D. José, o Marquês caiu em desgraça e refugiou-se em Pombal. Nesta casa sofreu as agruras das acusações graves de que foi alvo e foi submetido ao Último Interrogatório. Foi inquirido e viu consumado o seu afastamento da nova Corte. Aqui morreu em 8 de Maio de 1782, ao fim de 83 anos de uma vida cheia de contrastes.

Celeiro
À esquerda da Matriz encontra-se o Celeiro, mandado construir em 1776, por Sebastião José de Carvalho e Melo, com o objectivo de recolher os rendimentos e as prestações dos foros ligados à Quinta da Gramela.
Tem dois pisos, sendo o acesso ao primeiro andar feito por uma escadaria dupla, que parte de um pátio que se encontra nas traseiras. De aspecto maciço, impressiona sobretudo o madeiramento que suporta o seu magnífico telhado lembrando o casco de um navio. É aqui aplicada a técnica de construção antissísmica, a estrutura em gaiola utilizada na baixa pombalina de Lisboa. Na parede lateral, virada para a Cadeia, está decorado com as armas dos Carvalhos e apresenta um conjunto de cinco janelas de lintel curvo e portas de verga arqueada.
Hoje, o Celeiro integra o Centro Cultural de Pombal e acolhe, nas salas do rés-do-chão, o Museu de Arte Popular Portuguesa e, no piso superior, está preparado para acolher seminários, colóquios, exposições, bailes temáticos, actividades lúdicas, etc.
Este edifício está classificado como imóvel de interesse público.

Torre do Relógio Velho
Situada no bairro de Santo Amaro, a meia encosta do castelo, esta torre, com características manuelinas, separava o velho burgo de Pombal, a nascente, em direção ao Castelo, do novo burgo, a poente, em direção ao rio Arunca. Servia de fronteira ao que ficava dentro e fora dos muros da vila.
Mandada construir por D. Pedro I no segundo quartel do séc. XIV, para aqui serem recolhidos, no dia de São Martinho, os tributos/impostos devidos pelos judeus e mouros, que nessa altura constituíam rendimentos próprios da Coroa. Em 1509, durante o reinado de D. Manuel, sofreu obras de beneficiação, tendo este mandado colocar-lhe um relógio mecânico e uma sineta para que o toque das Trindades fosse dado a horas certas. Por volta de 1776, o Marquês de Pombal, mandou transferir esta sineta para o edifício da Cadeia, atual Museu Municipal Marquês de Pombal.
Torre em pedra, assente sobre uma base quadrada, coroada por merlões chanfrados que sustentam uma ogiva de sineta. Em cima, termina com uma cúpula cónica, decorada com um elemento quinhentista.
Está classificada como Monumento Nacional.

Igreja do Cardal
Dominando hoje o coração da cidade e situado no Largo do Cardal, está o imponente Convento de Santo António, composto não só pela Igreja de Nossa Senhora do Cardal como pelo restante conjunto arquitectónico ocupado pela Câmara Municipal de Pombal.
Foi mandado construir pelo Conde de Castelo Melhor, no séc. XVII (1687), em cumprimento de uma promessa. O Marquês de Pombal encontrou nele, no séc. XVIII, o último refúgio, pois foi sepultado na capela lateral de Nossa Senhora do Cardal, construída entre 1703 e 1707. Uma lápide evocativa assinala a permanência dos seus restos mortais até 1857, altura em que foi trasladado para Lisboa. Templo barroco de ampla e sólida construção. É notável a grandeza dos torreões e das pilastras da fachada, ladeada por duas torres sineiras simples e quadrangulares.
Interior de traça cruciforme, ricamente decorado com pedra de Ançã. A capela lateral de Nossa Senhora do Cardal, alberga um belo altar renascentista, em pedra de Ançã, atribuído a João de Ruão, proveniente da Igreja de Santa Maria do Castelo.

Monumento ao Marquês de Pombal
Foi o primeiro monumento erigido em homenagem ao Marquês de Pombal, perpetuando este herói da cidade e um dos mais notáveis ministros da História de Portugal. Inaugurado em Maio de 1907, na presença de António José de Almeida e Bernardino Machado, dois futuros presidentes da República.
Sobre uma base em calcário, desenhada pelo arquitecto Ernesto Korrodi, encontra-se um busto do Marquês de Pombal em bronze, da autoria do escultor Fernandes de Sá. Todo o monumento está rodeado por quatro peças que pertenceram à balaustrada da Igreja do Cardal, destruída em 1811 pelas tropas francesas. Inclui referências à expulsão dos jesuítas e ao terramoto de 1755, acontecimentos relevantes que evidenciaram o Marquês de Pombal.

Bibliografia:
- CM-Pombal