A BARCA
Uma Costa Nova denuncia a existência de uma Costa Velha. Documentos históricos relatam que os pescadores de Ílhavo estabeleceram suas Companhas de pesca do alto mar na Costa do Norte, em São Jacinto. A abertura da Barra Nova de Aveiro em 3 de Abril de 1808, barra artificial, foi, pela sua má localização, a causa do assoreamento da orla marítima da praia de São Jacinto, verdadeira calamidade que obrigou as Companhas de Ílhavo a transferir os seus assentos para as areias ao Sul do paredão da Barra, pois ali se tornava impraticável o exercício da pesca.
Antiga Mota
Desta emergência do abandono da Costa Velha pelas Companhas dos pescadores de Ílhavo surgiu, para estas, a imperiosa necessidade de procurarem sítio adequado onde pudessem trabalhar. O ilhavense Luís dos Santos Barreto foi o primeiro arrais a deixar a assoreada Costa do Norte e a estabelecer-se na Costa do Sul, assento da sua Companha, cujo local já tinha de antemão escolhido e que designou com o nome de Costa Nova, que, afinal, era um Enclave, pois esta zona não pertencia a Ílhavo.
Toda a orla marítima entre Ovar e Mira era pertença territorial e exclusiva do concelho de Ovar. Só em 1855, um decreto de 24 de Outubro, anexou ao domínio dos concelhos da Feira, Ovar, Estarreja, Aveiro, Ílhavo e Vagos, a faixa litoral marítima confinante com a terra firme pertencente a cada um destes seis concelhos.
O sul da Av. da Belavista
Assim, a costa oceânica e terrenos ao sul do paredão da Barra Nova, até ao encontro de uma linha tirada na direção nascente poente, desde a Foz da Ribeira dos Cardães até ao mar, passaram a ser pertença do concelho de Ílhavo. Logo, a povoação da Costa, desde 1808 a 1855, formada em terreno não integrado no domínio de Ílhavo, constituiu um verdadeiro Enclave, fundado por Luís dos Santos Barreto. Outras Companhas de Ílhavo seguiram o exemplo deste arrais e deslocaram-se para a Costa Nova, abandonando a costa velha de São Jacinto. Num breve lapso de tempo encontraram-se neste Enclave a Companha do Salvador, do Arrais José Fernandes Batata, a Companha dos Capotes do Arrais Marçalo Francisco Capote e a Companha do Galo do Arrais Manuel Fernandes Bagão.
Começaram primeiro por construir os palheiros na borda do mar para guarda de todo o artesanato piscatório. A permanência destas Companhas despoletou a criação da população deste Enclave, constituído por milhares de pescadores com as suas mulheres e filhos e pelos indivíduos com interesses ligados ao comércio e indústria das pescarias.
Junto da margem esquerda da ria de Mira alinharam-se em graciosa curva os primeiros palheiros para habitação de famílias de Ílhavo, Águeda e outras localidades.
O primeiro palheiro construído foi o de Luís dos Santos Barreto, seguindo-se o de Manuel da Maia Vieira (da casa de Alqueidão), sargento-mor de Ordenanças e Juiz Ordinário de Ílhavo e o de José Ferreira Félix, Tenente de Milícias e Vereador da Câmara Municipal de Ílhavo, da família Couceiro da Costa, também de Alqueidão (Lagoa nessa época). Como baliza do norte da praia firmou-se o palheiro mandado edificar por Manuel de Moura Marinho, de Viseu, que, depois, serviu de tebaida ao tribuno José Estêvão e visitada por notáveis personagens da literatura, como Eça de Queirós, Conselheiro Luís de Magalhães, Oliveira Martins, Antero de Quental, António Feijó, Alberto de Oliveira e muitos outros génios da nossa literatura. Concomitantemente vários palheiros foram construídos na Lomba da praia.
A antiga Pensão Astória
Em 1908 completou a Costa Nova do Prado 100 anos de existência e em 24 de Outubro de 1955 o primeiro centenário da integração da Costa Nova do Prado no concelho de Ílhavo. O ilhavense Manuel Ferreira da Cunha esclareceu que, na margem direita da ria, houve um sítio na Gafanha chamado Prado, dando origem à denominação completa desta formosa praia.
Ao Sul junto à ria (1908)
O tio Ricoca, um dos mais arrojados pescadores da Costa Nova, destemido e valente como poucos, foi um dia convidado pelo Arcebispo Pereira Bilhano, para o ir ajudar a tomar banho no mar. O caso tornou-se conhecido na praia e logo uns e outros começaram a pedir ao tio Ricoca igual serviço. Foi assim que nasceu um dos primeiros banheiros de profissão na Costa Nova. Seguiram-se o tio João do Grande, tio Galante e o tio Joaquim Rico, todos boas pessoas e com goelas para tragarem quantos copinhos de aguardente os banhistas lhes ofereciam no decorrer do banho, inda que fossem um quarteirão deles.
Em 1935 havia duas Companhas na Costa Nova: Nossa Senhora da Saúde e Santo Amaro.
A barca
Entre as duas margens da ria havia 8 barcas de passagem que faziam o trajeto de meia em meia hora e levando $20 por passageiro, com a fiscalização rigorosa do cabo de mar; depois das 21 horas o serviço era considerado extraordinário passando a pagar cada passageiro 2$00 se fosse sozinho e 1$00 se fosse acompanhado.
Com saída da Mota (actual Bruxa) na Gafanha da Nazaré e chegada à Costa Nova, num belo moliceiro à vela ou empurrado por vara se não houvesse vento, muitas vezes com a água a entrar por cima da borda lá íamos cantando e rindo, com as bicicletas junto a nós.
Depois de um dia a queimar a pele lá regressávamos cansados e felizes. E ainda faltava fazer a mata de pasteleira.
Isso eram tempos felizes
Nas coordenadas iniciais, local onde se apanhava a barca procura as estrelas no quadro.
Se forem 10 dirige-te a N 40° 36.718' W 8° 44.980'
Se forem 13 dirige-te a N 40° 36.735' W 8° 44.986'
Se forem 16 dirige-te a N 40° 36.628' W 8° 44.890'
Embarca na barca para o destino final.
BOAS CACHADAS