Aurélio Ricardo Belo nasceu em Vale de Prazeres, no concelho do Fundão, em 3 de Abril de 1877. Licenciado em Medicina pela Universidade de Lisboa, seguiu a carreira de médico militar, tendo sido director do Hospital Militar de Tomar. Com o estalar da I Guerra Mundial, integra um dos contingentes expedicionários enviados para as colónias, para fazerem face aos constantes ataques das tropas alemãs. Em Angola, dirige o Hospital da Cruz Vermelha do Lubango (antiga Sá da Bandeira), entre 1914 e 1915. Serve ainda no navio-hospital “Quelimane” e, em Moçambique, na Ambulância da Cruz Vermelha do Niassa e no Hospital de Sangue de Patichinembo. A sua acção militar, em África, valeu-lhe diversas condecorações, entre as quais as medalhas de Serviços Distintos no Ultramar, da Vitória, das Campanhas do Sul de Angola e da África Oriental. Na área da Medicina, desenvolveu alguns estudos, que culminaram na publicação da obra Hérnias de Treitz.
A sua ligação a Torres Vedras viria a dar-se com a nomeação para Director-Médico do Lar de Veteranos Militares (então Asilo de Inválidos Militares), em Runa – onde prestou serviço durante muitos anos -, e com o casamento com D. Valdemira Gomes da Costa Belo, natural do Maxial, onde viria a fixar residência e a estabelecer-se, também, como proprietário rural. Pessoa muito conhecida e estimada na região, participou na vida política local, tendo desempenhado funções de vereador e de administrador do concelho de Torres Vedras, entre 19 de Novembro de 1923 e 1 de Julho de 1926
.A 15 de Janeiro de 1932, sob proposta do então presidente da Câmara Municipal, Tenente António Vitorino da França Borges, foi oficialmente convidado para desempenhar as funções de Director do Museu Municipal, em virtude da “sua ilustração e interesse pelos assuntos de arte”. Aceitou o cargo.
Ricardo Belo exerceu o cargo de Director do Museu Municipal de Torres Vedras até 1950.
Procedeu a inúmeras escavações e recolhas arqueológicas, que aumentaram consideravelmente o espólio do Museu. São exemplo disso as suas intervenções nas grutas da Portucheira, Cova da Moura e abrigo da Carrasca, e nos povoados da Fórnea e do Penedo, entre outros locais do concelho de Torres Vedras.
Enquanto Director-médico do Asilo de Inválidos Militares, Aurélio Ricardo Belo fez diversas prospecções arqueológicas na zona de Runa. Foi assim que, em 1933, descobriu um povoado da Idade do Cobre, a norte da aldeia do Penedo. Situado num estreito planalto, com cerca de 130m x 30m, que se ergue 60m acima do vale do Sizandro, e do qual se obtém uma boa panorâmica da fértil várzea de Runa, o local apresenta uma excelente localização, junto de uma importante via fluvial, e boas condições naturais de defesa. O seu ponto mais alto fica a 117m de altitude e as escarpas em que assenta dificultam a sua subida, apenas possível pela vertente norte.
A morte do Major Aurélio Ricardo Belo, aos 84 anos, ocorrida em 27 de Julho de 1961, impediu-o de concretizar o seu desejo de publicar uma monografia da ocupação romana do Penedo, em colaboração com o Dr. Justino Mendes de Almeida. Nos seus últimos anos de vida, passou a residir em Lisboa, onde trabalhava no Inventário dos Azulejos da cidade, a pedido do então presidente da Câmara da capital, o Brigadeiro António França Borges. Este trabalho encontrava-se já muito adiantado, mas a morte impediu-o, também, de o concluir.
Apesar dos seus estudos apresentarem, por vezes, algumas incorrecções, é inegável o importante contributo que Aurélio Ricardo Belo deu à Arqueologia Portuguesa. Ao longo da sua vida, o seu mérito não deixou de ser reconhecido, tendo sido condecorado com os graus de Comendador da Ordem de Avis e de “fourragère” da Ordem da Torre e Espada, e com a medalha de Filantropia, Mérito e Generosidade.
Publicado em 17/04/2012 por Isabel Luna