A Ponte de S. Martinho do Campo vulgarmente designada por Ponte de Negrelos, é uma notável obra de engenharia romana que conserva as principais características construtivas da fábrica de origem, constituindo por isso, um imóvel de elevado valor patrimonial.
Apesar das várias intervenções de conservação e restauro de que foi alvo ao longo da sua existência manteve a sua integridade estrutural, permitindo que hoje se possa considerar um monumento de referência, tanto pelo seu valor intrínseco, enquanto imóvel de reconhecido interesse arquitectónico, como pelo testemunho de uma vivência multicelular, a partir da qual e possível perscrutar inúmeras realidades históricas.
O enquadramento arqueológico no momento da sua construção far-se-á, em primeira análise, na área meridional do Convento Bracaraugustano que, desde cedo, se revelou como sendo um espaço particularmente dinâmico e receptivo a influências exógenas. Após implementação da nova organização administrativa, criada pelo imperador Augusto, estruturada a partir da Capital do convento Bracara Augusta tem início o efectivo processo de romanização do território Nordeste Penínsular. A criação de uma rede viária que permitisse a ligação rápida e segura entre os diferentes centros administrativos viria a revelar-se como sendo o principal elemento modelador de uma nova paisagem física e humana.
Neste período a Ponte de Negrelos integrava a estrada secundária que unia Cale a via de ligação de Bracara Augusta a Augusta Emérita
A via encontra-se documentada pela existência de duas pontes cujas características construtivas são indescritivelmente romanas sendo, no entanto, o seu traçado de difícil concretização. A partir do Porto desenvolver-se-ia a Nordeste em directo a Valongo e Alfena onde cruzava o rio Leça na Ponte de S. Lázaro, seguindo em direção a Martinho do Campo onde transpunha o rio Vizela para, depois, se dirigir para a via de ligação de Bracara Augusta a Augusta Emérita.
No seu percurso entre o rio Leça e rio Vizela contornava, a meia encosta, pela face Oeste e Norte, o maciço montanhoso vulgarmente designado por Serra de Monte Córdova, passando muito próximo do Monte do Padrão, cujos vestígio de ocupação romana revelam ter tido um papel importante como ponto intermédio de via secundária.
A via seguramente relacionada com o Foto mineiro da Serra de Valongo, terá registado a sua maior importância económica durante a exploração das minas Auríferas apresentando um declínio a partir de meados de Sec.lll.
À estrada Romana sobrepõe-se a estrada Medieval de ligação Porto a Guimarães amplamente referida na documentação medieva
Mais recentemente, a propósito das invasões francesas, a ponte de Negrelos vira a ter um lugar de destaque na história da região. O episódio bélico que foi palco, datado de 25 e 26 de Março de 1809, reporta-se à heróica tentativa de defesa da passagem da ponte por parte dos habitantes de São Martinho do Campo à progressão do 31⁰ regimento das tropas francesas comandadas pelo deputado General Jardon que aqui viria a falecer.
A ponte apresenta um tabuleiro horizontal de perfil longitudinal assente em três arcos de volta perfeita. Os dois arcos laterais revelam agulheiros para assentamento Do cimbre, enquanto que o arco central apresenta uma consola saliente ao nível do saimel.
A estrutura de três arcos com vãos de 7,5 m, 6,5 m e 7,5 m, apoia se nos estribos inseridos nas margens e em 2 pilares implantados no leito do rio. Os tímpanos são constituídos paramentos de alvenaria de blocos de granito aparelhados pela face exterior, dispostas em fiadas horizontais.
Os dois pilares, apontados diretamente no afloramento rochoso do leito do rio, apresenta secção retangular e conservam talhamares e esporões de construção parcialmente autónoma adossados a a estrutura da ponte a montanha e a jusante respectivamente sendo os primeiros altos, de perfil triangular e os segundos, ligeiramente mais baixos e rectângulares. Ambos ultrapassam os arranques dos arcos, encobrindo as primeiras aduelas e invadindo parte dos tímpanos.
O tabuleiro, com cerca de 3 m de largura e 32 m de comprimento, implantando a cerca de 10 m do leito do rio, conserva o pavimento revestido em lajes de granito, de pequena e média dimensão, de recorte retangular, dispostas em fiadas regulares.
As guardas, também em granito são compostas por silhares rectangulares , dispostas lateralmente, com travamento alternado, cujo construção data da obra de restauro de 1853.
O paramento dos tímpanos e estribos é formado por aparelho isódomo ou pseudo-isódomo que integra silhares de diferentes origens, alguns deles com siglas, embora se conservem abundantes elementos almofadados e com marcas de utilização de “ferrei fórtices” da fábrica de origem. Os dados meteorológicos evidenciam uma grande variabilidade na dimensão dos silhares , o que associado a existência de um significativo número de siglas, especialmente localizaras no introdorso dos arcos, documenta as obras de restauro qu foi alvo na idade Média.
A modelação romana, perceptível por exemplo, na distância entre os piores e na proporcionalidade dos vãos do arco.
As limitações técnicas então existentes, designadamente o desconhecimento do cálculo de resistência de matérias, dos coeficientes de carga , tensão e eletricidade das estruturas que impunham um trabalho com margens de segurança muito elevados, terão estado na origem do segredo da sua resistência e durabilidade factores que viram a granjear a construção “romana” uma justa reputação de solidez e longevidade, sabendo-se contudo, que os engenheiros que levantam este tipo de obras , geralmente de iniciativa militar, tinham como propósito a sua perenidade.
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