Aconteceu também que, em 23 de novembro, Passepartout experimentou uma grande alegria. Lembremos que o cabeça dura tinha-se obstinado em manter a hora de Londres no seu famoso relógio de família, considerando falsas todas as horas dos países que atravessara. Ora, naquele dia, apesar de não o ter nem adiantado nem atrasado, o seu relógio estava de acordo com os cronómetros do navio.
Nem é preciso dizer que Passepartout exultava. Bem que teria gostado de saber o que Fix diria, se estivesse presente.
— Aquele velhaco que me contava um monte de histórias sobre meridianos, sobre o sol e a lua! repetia Passepartout. Se a gente os escutasse, que bela relojoaria fariam! Eu bem que tinha a certeza de que, mais dia menos dia, o sol se decidiria a regular-se pelo meu relógio!...
Passepartout ignorava isso: se o mostrador do seu relógio estivesse dividido em vinte e quatro horas como os relógios italianos, não teria tido motivo algum para se gabar, porque os ponteiros, quando fossem nove horas da manhã no navio, teriam indicado nove horas da noite, isto é, a vigésima primeira hora desde a meia noite — diferença exatamente igual à que existe entre Londres e o centésimo octogésimo meridiano.