Eram sete da manhã quando Mr. Phileas Fogg, Mrs. Aouda e Passepartout puseram o pé no continente americano — se é que se pode dar esse nome ao cais flutuante em que desembarcaram. Estes cais, subindo e descendo com a maré, facilitam a carga e a descarga dos navios. Neles é que atracam os clippers de todas as dimensões, os steamers de todas as nacionalidades, e esses steam-boats de muitos andares, que fazem o serviço do Sacramento e dos seus afluentes. É ai também que se amontoam os produtos de um comércio que se estende pelo México, Peru, Chile, Brasil, Europa, Ásia e a todas as ilhas do Oceano Pacífico.
Passepartout, feliz por finalmente tocar a terra americana, pensou em fazer o desembarque executando um salto mortal ao melhor estilo. Mas quando caiu sobre o cais, cujo tabuado estava carunchado, não conseguiu fazer a volta. Todo desconsolado com a maneira pela qual “pisou” o novo continente, o honesto moço soltou um grito formidável, que fez voar um grande número de corvos-marinhos e pelicanos, hóspedes habituais dos cais móveis.
Mr. Fogg, assim que desembarcou, informou-se da hora em que partia o primeiro comboio para Nova Iorque. Era às seis da tarde, assim Mr. Fogg tinha um dia inteiro para gastar na capital californiana. Chamou um veículo para Mrs. Aouda e para si. Passepartout subiu para o lugar do pendura, e o veículo a três dólares a corrida, dirigiu-se para o International Hotel.
Do lugar elevado que ocupava, Passepartout observou com curiosidade a grande cidade americana; ruas largas, casas baixas bem alinhadas, igrejas e templos de um gótico anglo-saxão, docas imensas, armazéns como palácios, uns de madeira, outros de tijolo; nas ruas, muitas caruagens, autocarros, eléctricos, e sobre as calçadas encobertas, não apenas Americanos e Europeus, mas também Chineses e Indianos — enfim o necessário para compor uma população de mais de duzentos mil habitantes, que actualmente são 854.170.