O Comboio Fantasma

Era uma noite fria e chuvosa, no inverno de 1922, quando o comboio fantasma partiu de Aveiro rumo ao Porto. O trem, de ferro envelhecido, seguia pela linha de trem com um barulho arrepiante que parecia se fundir com o vento que cortava as árvores e a escuridão. Ele estava sozinho, perdido no limiar entre o sono e a vigília, quando percebeu algo estranho. O trem começava a desacelerar, e ele ouviu o som de vozes distantes.
Mas ninguém estava ali. O comboio continuava seu caminho, mas o homem sabia que algo terrível estava prestes a acontecer. O trem começava a ganhar velocidade novamente, mas dessa vez de maneira descontrolada, correndo para a escuridão como um monstro faminto. O homem caiu de joelhos, sentindo o trem começar a desviar de sua rota.

A lenda dizia que um comboio amaldiçoado, vindo de uma linha de trem fantasma, atravessaria a terra até que um herói se sacrificasse para interromper o ciclo. Mas a história não falava sobre o que aconteceria se o trem não fosse detido. Sentindo o pânico tomar conta dele, o homem correu até a porta de saída, mas ela estava selada, trancada por uma força invisível. O trem, agora em plena aceleração, parecia estar em um caminho fatal.
Se conseguisse chegar até lá e lançar uma mensagem, poderia talvez mudar o destino daquele comboio amaldiçoado, ou até salvar o mundo. Então, com um rugido ensurdecedor, o trem se lançou contra a escuridão da noite. Em Avanca, o operador de estação estava a descansar quando a mensagem chegou com força. Ele leu, perplexo, e imediatamente acionou os freios de emergência, apesar de saber que a linha estava, de algum modo, sendo invadida por uma força além de sua compreensão.
O comboio fantasma freou abruptamente, em um estalo ensurdecedor, e a escuridão ao seu redor desapareceu. Quando despertou, o trem estava parado, a paisagem à sua volta intacta. O comboio, agora inerte, não mais amedrontava as almas perdidas. Ele sabia que havia salvo não apenas aquele trem, mas o mundo de um destino sombrio.
