
Desde os primórdios da civilização que o ser humano se confronta com a natureza. Lavrou a terra, dominou o fogo, abateu florestas, desviou cursos de água. Ergueu cidades onde antes reinava o silêncio e instalou máquinas onde outrora cresciam árvores. A natureza, que em tempos foi abrigo e sustento, passou a ser encarada como obstáculo — selvagem, imprevisível, ameaçadora.
Contudo, este confronto revela mais sobre o homem do que sobre a natureza. Porque ela não se opõe — apenas responde. Quando chove em demasia, é porque se desnudaram os montes. Quando o calor sufoca, é porque o verde foi silenciado. A natureza não castiga nem perdoa; apenas reequilibra o que foi desequilibrado.
O paradoxo reside no facto de que, mesmo se considerando em guerra com o mundo natural, o homem dele faz parte. O seu corpo, os seus ritmos, a sua fome e o seu descanso pertencem à mesma ordem biológica que tenta controlar. E quanto mais se afasta dos ciclos da terra, mais se perde de si próprio.
Ainda assim, há sinais de reconciliação. Pequenas pontes — como florestas replantadas, cidades mais verdes, pessoas que escutam o som do rio antes de erguerem uma barragem. Ainda vamos a tempo de escolher o caminho da coexistência em vez do domínio.
A verdadeira força não reside em subjugar a natureza, mas sim em viver com ela. Pois aquilo que o ser humano tenta conquistar pode, um dia, ser aquilo que mais precisará de proteger para continuar a existir.

A Mão do Homem no PR6
Ao percorrer o trilho PR6 MLG, sente-se a harmonia entre o traçado natural da serra e os pequenos gestos humanos que tornam o caminho mais acessível. A paisagem mantém-se brava e autêntica, mas, aqui e ali, a mão do homem revela-se — discreta, mas essencial.
Foram colocadas passadeiras de madeira em zonas alagadiças, pequenas pontes de pedra sobre cursos de água, e até alguns degraus em encostas mais íngremes, sempre com o cuidado de não ferir o ambiente envolvente. A sinalização é clara, mas pouco intrusiva, guiando o caminhante sem lhe roubar o prazer da descoberta.
Estas intervenções, embora simples, fazem toda a diferença. Permitem que mais pessoas, com diferentes ritmos e capacidades, possam viver o trilho com segurança e conforto, mesmo em terrenos mais exigentes.
Neste percurso, a natureza é a protagonista. Mas é justo reconhecer que foi o trabalho humano — sensato e respeitador — que tornou possível esta ligação entre o ser humano e a montanha. Uma mão estendida, não para dominar, mas para abrir caminho com equilíbrio e cuidado.