No coração de Lisboa, onde as ruas empedradas sussurram histórias antigas, o Chafariz da Esperança erguia-se como um guardião silencioso. Construído no século XVIII, com a sua bica central e ornamentos barrocos, era um ponto de encontro para os lisboetas, mas também um lugar onde os segredos pareciam ganhar vida sob a luz pálida da lua. Naquela noite de outono, com o ar carregado de humidade e o som distante de um fado, algo estranho aconteceu.
Mariana, uma jovem historiadora fascinada por lendas urbanas, passava pelo chafariz quando reparou num brilho invulgar na água. Não era o reflexo das luzes da cidade, mas um fulgor azulado, quase sobrenatural, que parecia pulsar no fundo da bacia. Curiosa, aproximou-se e viu, gravado na pedra húmida, um símbolo que nunca encontrara nos seus estudos: um círculo com uma espiral no centro, atravessado por uma linha quebrada. Ao tocar na pedra, sentiu um arrepio, como se o próprio chafariz estivesse vivo.
Na manhã seguinte, a notícia espalhou-se: a água do chafariz desaparecera por completo. Nem uma gota restava na bacia, e os canos, inspecionados por técnicos, estavam intactos. O mistério intrigou a cidade. Alguns diziam que era obra de vândalos, outros sussurravam sobre uma maldição antiga. Mariana, porém, não acreditava em coincidências. Decidiu investigar.
Consultando arquivos na Biblioteca Nacional, descobriu um manuscrito do século XVIII que mencionava o chafariz. Segundo o texto, um alquimista chamado Domingos de Almeida, acusado de bruxaria, jurara esconder um segredo no coração de Lisboa antes de ser preso. O manuscrito falava de um “coração de água” que guardava “a chave para a eternidade”. Seria o chafariz o tal coração? E o que significava aquele símbolo?
Mariana regressou ao chafariz à meia-noite, munida de uma lanterna e do desenho do símbolo. Sob a luz da lua, o mesmo brilho azulado reapareceu, agora mais intenso. Ao traçar o símbolo com os dedos na pedra, ouviu um estalido. Uma laje sob os seus pés moveu-se, revelando uma escada em espiral que descia para a escuridão. Com o coração a bater forte, desceu.
No fundo, encontrou uma câmara subterrânea, com paredes cobertas de musgo e gravuras idênticas ao símbolo. No centro, um pedestal sustentava um frasco de vidro que emitia o mesmo brilho azulado. Dentro, uma substância líquida parecia mover-se como se tivesse vida. Ao lado, uma inscrição em latim: “Aqua Vitae, Custos Aeternitatis” — Água da Vida, Guardiã da Eternidade. Antes que pudesse tocar no frasco, a câmara tremeu, e a água do chafariz, lá em cima, voltou a jorrar, como se despertada.
Mariana escapou por pouco, mas o frasco permaneceu na câmara, que se selou novamente. O chafariz voltou ao normal, e o brilho desapareceu. Ninguém acreditou na sua história, mas Mariana sabia que o mistério do Chafariz da Esperança estava longe de resolvido. Algo antigo, talvez eterno, continuava a pulsar sob as pedras de Lisboa.