Foz do
Cobrão! É seguramente um nome de aldeia que desperta o
interesse. Não foi a primeira vez que nos cruzámos com este
nome e a curiosidade estava cada vez mais aguçada. Esta
aldeia consta do projecto do Geopark Naturtejo, quando
associada ao fenómeno geológico de interesse do Vale Mourão.
Está também entre as Aldeias de Xisto, programa de
dinamização de turismo rural. Existem dois percursos
pedestres na zona, um deles ainda só planeado (zona da cache
final). Recentemente é alvo dos chamados desportos radicais e
tenho a certeza que ainda vamos ouvir falar dela por outros
motivos, pois parece que um espírito vivo se apoderou deste
local.
Foi com muito encanto que aproveitámos o dia em Foz
do Cobrão. Prometemos cá voltar, porque ficou muito para ver
e conhecer. Como percebemos o potencial deste local deixámos
uma cache para também vos dar a conhecer mais um
cantinho.
Para vos abrir o apetite deixamos aqui alguma da
recolha feita. Infelizmente só parte dela é que tivemos o
prazer de conhecer… para já!
A
Aldeia
Antes de se
encontrar com o rio Ocrezaa ribeira
do Cobrão alimenta a vida na aldeia de xisto. Nesta
aldeia com mais de 250 anos, de ruas tranquilas e casas de
quartezitos e xistos, é possível ouvir o ribeiro a
atravessá-la.
No diálogo com as pessoas da aldeia fomos
convidados a conhecer algumas das cascatas e o motivo de
maior orgulho: o lagar de Azeite. Este edifício encontra-se
num dos recantos do serpenteante Cobrão e foi anteriormente
uma fábrica de fiação movida a energia
hidráulica.
Junto a Sobral Fernando, vizinha aldeia da outra
margem do Ocreza, existem vestígios de explorações de ouro.
Ouro esse que também foi alvo por parte dos romanos que aqui
passaram.
Agora no Ocreza, bem perto da foz do ribeiro do
Cobrão, podem aproveitar o
açude para banhos.
A igreja da Foz do Cobrão recentemente reconstruída
viu agora nascer um restaurante, que vivamente aconselhamos,
e um pólo de atracções para os viciados em
adrenalina.
A
biodiversidade
Quando aqui chegarem vão facilmente constatar os
desníveis altimétricos. Estamos numa zona de poderosas
cristas quarteziticas, que a custo e ao longo de anos foram
vencidas pelos rios.
Os
habitantes locais suavizaram as inclinações com
gigantescos degraus para as suas oliveiras. Têm de comer
destas azeitonas! Não só por homenagem ao trabalho
empreendido, mas também pelo facto de serem uma
iguaria.
Para além das oliveiras é o zimbro que aqui se
aventura nas escarpas, domínio dos grifos. Também as cegonhas
pretas, bastante mais esquivas que as que nos habituámos a
ver em chaminés, voam pelos vales inacessíveis. E, claramente
que o Ocreza é um dos redutos da lontra.
A
geologia
Aqui temos material para mais uma earthcache!
Geólogos, ponham os olhos e martelinhos
nisto!
O vale Mourão é uma impressionante garganta
escavada pelo rio Ocreza (conhecida por portas do
Almourão).
Tememos em acrescentar mais do que isto. Aguardamos
ansiosamente pelas lições dos entendidos. No entanto,
para nós é claro que aqui a terra teve a força para
moldar os duros quartezitos como uma criança
facilmente brinca com plasticina. No fim ficaram as
dobras e cristas para o rio acrescentar o seu toque de
mestria e deixar uma paisagem de tirar a respiração. Venham
só ver isto!
A
Lenda
Andavam pai e filho à azeitona nas encostas do
Almourão quando se lembraram do que tinham dito os
mouros:
- Entre o Tejo e o Ocreza ficará a nossa maior
riqueza.
Como na encosta do lado oposto batia o sol e este
se reflectia na água, deixando perceber o contorno de uma
carroça, logo eles pensaram que era de oiro e que se tratava
do tesouro dos mouros.
O sol brilhava tanto e era tão amarelo que tudo
parecia oiro. Depressa pensaram em ir buscar o carrinho de
oiro à ribeira.
Iam tão contente que, já no cimo da encosta,
disseram em voz bem alta:
-Quer Deus queira, quer Deus não queira, o carrinho
já cá vai no cimo da barreira e amanhã já o levamos à
feira.
Ao proferirem “Deus não queira” os bois e o carro
começaram a recuar encosta abaixo, afundaram-se no poço do
Almourão e ainda hoje lá estão.
A
cache
A saída da A23 que devem usar é a de Vila Velha de
Rodão. Depois devem rumar a noroeste passando por Alvaiade e
Sarnadinha. À saída desta aldeia têm uma bifurcação.
Sigam para a esquerda, para Foz do Cobrão (se forem para
a direita têm um local onde se podem perder deliciosamente
nas margens do Ocreza). Passem Chão das Servas e
finalmente chegam a Foz do Cobrão (não confundir com
a aldeia de Vale do Cobrão).
Aproveitem para conhecer esta aldeia de xisto e os
seus encantos. Para saberem o que procurar é só ler acima.
Aproveitem também para levar água para as coordenadas finais,
certamente vão sentir a sede.
A cache encontra-se junto ao vale Mourão, num local
de difícil acesso e sem caminhos assinalados.
Sugerimos um caminho de terra batida, que sai junto
à igreja em direcção ao rio Ocreza. Depois devem usar a
imaginação e destreza para subir junto ao seu leito. É um
percurso muito agradável visualmente, mas é seguramente
complicado. Dependendo do caudal terão de contornar em
altitude escarpas e eventualmente atravessar cascalheiras
(amontoados de pedras que escorregaram encosta abaixo). A
qualquer altura vão ser surpreendidos e recompensados pela
paisagem das portas de Almourão. Se quiserem fazer a cache de
uma forma mais ligeira podem usar o caminho que propomos de
regresso. Consiste em usar a estrada de alcatrão a sul da
cache. O desnível, entre a cache e a estrada, é suavizado
pelos degraus das oliveiras, mas não deixa de ser de
progressão complicada.
Coordenada final: N 39° 44.[Ano reconstrução da
igreja – 1899] W 007° 45.[Ano construção da igreja –
1822]