PT:
A grande tragédia de 27 de Fevereiro de 1892 foi o segundo maior da
história marítima do litoral português. "Ao largo do Porto, entre a
Póvoa e Caxinas (Vila do Conde), com a praia à vista, faleceram 105
tripulantes repartidos por sete lanchas desfeitas pelo temporal -
70 pescadores da Póvoa e 35 de Afurada.
A maior parte dos náufragos morreu junto à costa, debaixo de vento
forte e vagas gigantes, sem meios que lhes pudessem valer. Quando o
alferes António Pinto Cruz, delegado marítimo do porto da Póvoa,
tocou a rebate para que saísse o salva-vidas "Cego do Maio", o
mestre, banhado em lágrimas, limitou-se a responder "Só a
Providência Divina os pode salvar; morre tudo quanto temos visto.
Qualquer socorro tentado exprime a morte imediata de quem a ele se
arrojar sem utilidade alguma!"
Das 31 lanchas poveiras desaparecidas (algumas com 20 a 25 homens a
bordo), 11 apareceram em Vila Garcia, Espanha, sendo uma delas de
Valbom, outras entraram em Leixões e outros portos do Norte. O povo
da Galiza, que tinha já conhecimento da tragédia, recebeu os
náufragos portugueses com grande carinho, oferendo-lhes agasalhos,
alimentação e transporte." (1)
Este Naufrágio ditou que se deixasse de usar a camisola poveira
como forma de luto pela memória dos seus colegas que
morreram.
Não houve lar em que não entrasse o luto. As próprias embarcações
foram pintadas de negro. Foi assim que a lancha Bom Jesus, que
conseguira arribar a Vigo, dali veio rebocada, pintada de preto e
trazendo à ré, a meia haste, uma bandeira negra. Os candeeiros
públicos da povoação foram cobertos com crepes. Os ouros e
arrecadas das mulheres da pescaria foram envolvidos em pano preto e
a partir de então toda a classe, homens e mulheres, passou a usar
roupas escuras que ainda hoje predominam principalmente entre as
pessoas mais idosas.
Todo a País viveu, na época, esta tragédia e foram inúmeras, por
toda a parte, as manifestações de pesar e iniciativas de angariação
de meios de auxílio para as famílias que ficaram sem amparo."
(2)
O Farol
“Na Igreja da Lapa, o topo voltado para o mar tem um torreão onde
funcionava um farol de luz branca, ainda hoje é referido como o
“Farol da Senhora”, que era activado quando o estado do mar tornava
perigosa a entrada da barra.“ (3)
"Inactivo desde pelo menos os anos 60, este farol foi estabelecido
na igreja de Nossa Senhora de Lapa em 1857. Embora a igreja tenha o
que parece ser uma lanterna numa das extremidades, segundo as
indicações de uma foto disponível, listas claras indicam que a luz
esteve montada sobre uma torre armada em esqueleto ao lado da
igreja, como visto numa opinião de um cartão afixado por Huelse. Em
1892 a luz transformou-se a luz dianteira entrada de Póvoa de
Varzim. A luz foi desactivada, provavelmente, porque com os
quebra-mares novos, a linha velha da escala ficou com a seu uso
desapropriado." (4)
“O alerta funcionava por iniciativa de qualquer pescador que, em
terra, verificasse que “o mar vinha de vinda” , isto é que estava a
tornar-se perigoso. Assim avisados, os barcos evitavam forçar a
entrada até que o tempo amainasse.” (3)
Junto ao farol que em tempos conduzia os barcos, surgiu um painel
evocativo desta tragédia que lembra a todos os pescadores as
dificuldades da faina e a entrada na barra da Póvoa em dias de
temporal.
“Um medonho e terrível temporal se desencadeiou na nossa costa,
apanhando toda a pescaria da POVOA DE VARZIM no meio do mar, e,
accessando-a ceifou 105 pescadores que a dois passos da terra
morreram no meio das vagas encapelladas e cyclopicas. Pede-se ás
almas boas e generozas que, pelo eterno descanço DAS ALMAS D'ESSES
POBRES MARTYRES do trabalho, rezem um PADRE NOSSO E AVE-MARIA para
que ellas peça a Deus Nosso Senhor por todas aquellas caritativas
pessoas que de tão boa vontade deram suas esmolas para suavizar os
horrores da fome e da miséria, a viuvez e a orphandade
desprotegida.”
Descrição Evocativa do naufrágio:
"Já no largo, porém, os sinais de mau tempo carregaram-se. Nuvens e
ensombradas entravam a afrontar do Sul, onde se fixara o vento. A
concha do céu a cobrir-se de ramagens , dava indícios de grossa
tormenta em gestação. O tempo, como o outro que diz, estava a
prantearse feio. O tio Olaia, que de tudo isto se apercebeu, porque
era entendido nestes jeitos dos astros, não esteve com meias
medidas: desandou lesto para terra, a mais a sua gente, antes que
se fizesse tarde. Foi o primeiro a chegar à Ribeira, ainda os
outros barcos não se enxergavam na volta. Não se via que viessem
arribados. Ora, foi o fim do mundo! As mulheres da acompanha, todas
num levante, injuriaram-nos à boca cheia, e, com punhados de areia
contra a cara, gritavam-lhes que tornassem para trás, que tivessem
vergonha, os medricas, e fossem buscar as redes, que se ficaram a
melar na água. (…) Foi o mestre Zé Benta quem deu o alarme de
perigo à vista. Livraram-se por um triz! Daí a instantes,
desencadeava-se a tormenta com toda a fúria, não dando tempo aos
barcos, que se encontravam ao longe, de se abrigarem nos portos
mais próximos. Eram atirados para o Norte pela força do vento e a
correnteza das águas, desarvorados. Iam por aí adiante, sem
comando, de todo extraviados e atordoados. O leme não havia ter mão
nele, ao querer rumar de través para lugar de salvamento. O mar,
todo ele, parecia ferver em cachão. Onde menos se esperava,
chocavam-se as ondas e os barcos afundavam-se amiúdo naquela
marulha da. Para mais, uma serração forte não lhes deixava ver para
onde iam. Passavam uns pelos outros como fantasmas fugidios, quando
não se abalroavam e uns aos outros pediam socorro impossível, em
altos gritos. Ao largo da Póvoa, o mestre Praga, que já vinha à
ventura das alturas de Aveiro, ainda tentou aproveitando uma
pequena estanha dela (mar liso) salvar os homens da lancha Senhora
da Guia que encontrou a boiarem sobre as redes, agarrados à
madeira; mas uma rajada impetuosa arrebatou-lhe o barco, de
Alarcão, até dar com ele em Vila Agracia, na Galiza, depois de ter
vencido muitas curvas da morte no caminho da sua atribulada
peregrinação. Os da lancha sinistrada morreram afogados no mar; o
mestre Praga morreu, daí a dias, em sua casa, afogado no desgosto
de não lhes ter podido valer. De terra viam-se, às vezes, nos
curtos parêntesis da borraceira que empoeirava o ar, esgueirar-se,
aqui um barco, submergir-se outro, ali talvez o mesmo por entre os
rodilhões das vagas, num repelão de ressaca. Desgrenhadas, em
correrias desvairadas, gritando a sua dor, sem limites nem
reservas, despedaçando-se contra o chão, até fazerem sangue nos
seus corpos, viam-se as mulheres da pescaria por toda a praia,
sofrendo a angústia dos seus parentes na própria alma crucificada.
Quebravam os corações contra o Céu a implorar misericórdia:
- Chagas abertas do Senhor, valei-lhes ! Jesus, Maria, José vos
acompanhem!
As vagas revoltas, avançavam para a capela de S.José de Ribamar -
algumas às punhadas contra as paredes exteriores, para que ouvissem
bem lá dentro, as chamadas de socorro e de joelhos, mãos erguidas,
como de náufragos num oceano de agonia, suplicavam em altos
brados:
- Ó S. José, ponde-vos ao leme!
Sem se saber como, jogado pelas ondas, por cima da penedia, deu à
praia, com todos os tripulantes são e salvos, um barco de
Matosinhos. A multidão acolheu-os e agasalhou-os. Dias depois,
quando se andava a levantar os cadáveres que a língua da maré
lançava à costa, eles foram vistos na sua terra (já as famílias não
contavam com eles), levando aos ombros os restos da vela que
escapara do naufrágio, a caminho da igreja do Senhor de Matosinhos,
onde iam cumprir um voto que haviam feito no alto mar. Os poveiros
também andaram muito tempo nessas piedosas romagens; e, a datar de
então, deixaram de usar os tradicionais trajos garridos,
domingueiros, singularmente característicos da sua grei: calça e
vestia brancas, percinta da mesma cor, listrada de azul, e comprido
catalão vermelho. Em seu lugar, passaram a usar fatos escuros, da
cor do luto do '27 de Fevereiro' " (5)
EN:
The great tragedy of 27 of February of 1892 it was the biggest one
of the maritime history of the Portuguese coast. "Between Póvoa and
Caxinas (Vila do Conde), with at sight beach, 105 members of the
crew distributed for seven motor boats died insults for the weather
- 70 fishing of Póvoa and 35 of Afurada.
Most of the shipwrecks died next to the coast, underneath of
strong wind and giant vacant, without ways that could be valid to
them. When 2nd lieutenant António Pinto Cruz, delegated maritime of
the port of the Póvoa, touched the striking again so that "left the
life-guard; Cego do Maio", the master, bathed in tears, limited to
answer it "Only Divine Providence can save them; everything dies
how much we have seen. Any attemped aid states the immediate death
of who try it without any utility!"
From the 31 motor boats missing (some with 20 the 25 men on board),
11 had appeared in Village Garcia, Spain, being one of them of
Valbom, others had entered in Leixões and other ports of the North.
The people of Galiza, that had already knowledge of the tragedy,
received the Portuguese shipwrecks with great affection, give to
them coats, feeding and transportation back." (1)
This Shipwreck dictated that if it left to use the poveira
nightgown as form of I fight for the memory of its colleagues who
had died.
THE LIGHT
“In the Church of Nossa Senhora da Lapa, the top directed toward
the sea has a tower where a lighthouse of white light functioned,
still today it is related as the “Senhora’s (Lady’s) Lighthouse.”,
that he was activated when the sea disturbance became dangerous to
the entrance in the bar.” (3)
“Inactive since, at least, the 1960s the light was established at
the church of Nossa Senhora de Lapa in 1857. Although the church
has what appears to be a lantern at one end, as shown in an
available photo, light lists indicate the light was shown atop a
skeletal tower next to the church, as seen in a postcard view
posted by Huelse. In 1892 the light became the front light of the
Póvoa de Varzim entrance range. The light was probably deactivated
because new breakwaters made the old range line inappropriate.” (4)
“The alert functioned for initiative of any fisherman who, in land,
verified that “the sea coming vine”, (that he was to become
dangerous). Thus informed, the boats prevented to force entrance
until the time lessened.” (3)
Next to the lighthouse that, in times, lead the boats, an evocative
panel appeared of this tragedy that remembers to all the fishing
the difficulties of the drudgery and the entrance in the bar of
Póvoa in days of thunder weather.
PT: Procurem ser discretos e deixar a cache como a encontraram.
EN: Look for to be discrete and to leave the cache as you found it.
(1)
(2)
(3)
(4)
(5) Caetano Vasques Calafate