LAGAR DOS FRADES
Foi na 2ª metade do Séc. XVII que Frei Manuel de Mendonça promoveu a plantação de grandes olivais na zona serrana e foi quando provavelmente teve lugar a construção deste lagar e casa do monge lagareiro pelos monges alcobacenses. Situado no lugar da Ataíja de Cima, o lagar dos frades, como é, ainda hoje, conhecido, está dentro de uma quinta murada, denominada de Cerca.
Em 1833, com a extinção das ordens religiosas, os monges abandonam o mosteiro de Alcobaça e as várias dependências dos coutos, multiplicando-se os roubos e as pilhagens aos edifícios abandonados.
A 22 Dezembro de 1833, a quinta da Ataíja e cerca foi arrendada por 23$000 reis a António Dias. Em 1834 foi avaliada em um conto e duzentos mil reis aparecendo descrições datadas de 1 de Julho de1834 nos Autos de Inventário do Convento de Alcobaça como sendo constituída por "cazas altas, Armazem, corrays, e palheiros, lagar de azeite com oito varas, e quatro caldeiras, com sua cerca moráda de terra de semiár". Esta confrontava por S. com a lagoa da Ataíja, por N. com propriedade do Coronel Raimundo Veríssimo de Sousa, por E. com a de Alexandre Francisco e por O. com a estrada. Posteriormente foi dividida entre vários compradores e já no início do Séc. XX o então proprietário do lagar, Joaquim Marques Silvério, vendeu as madeiras do telhado, em cerne, a José Francisco Veríssimo. A casa do monge pertencia a Joaquim Palmeira, de Ataíja de Baixo, e a José Faustino e mulher, da Quinta do Mago. Os herdeiros destes últimos venderam-na depois a Manuel dos Santos Faz-Tudo e em 1920 existe uma escritura de venda da casa do monge por este último a Francisco Vigalho, por 110 escudos. Em 1950, Francisco Vigalho acabou por comprar também a zona do lagar; mantêm-se ainda na família.
O edifício encontra-se "protegido" pelo IIP, Dec. nº 67/97, DR 301 de 31 Dezembro 1997.
Descrição do Edifício
Planta rectangular. Volumetria composta por 3 corpos, sendo os laterais mais baixos; coberturas diferenciadas em telha de canudo a 1 água. Frontispício virado a E., com 2 pisos e corpos separados por pilastras de alvenaria. No corpo central, janelas baixas gradeadas e encimadas por janelas de brincos com frontão de lanços, enquadram janelão cego, de moldura recortada e frontão interrompido pela pedra de armas de Alcobaça. Os corpos laterais são esconsos e têm, ao nível do 2º piso, janela e óculo com moldura de cantaria; o corpo do lado direito está parcialmente derrocado. Na fachada S., o corpo lateral é rasgado por vão em arco pleno, interiormente fechado em recto. Virado a O., encontra-se a escada de acesso ao 2º piso, com porta de vão recto. Perpendicularmente, parede exterior da casa do lagar, rasgada por pequenas aberturas do pombal; possui ainda a mísula de apoio ao antigo alpendre e uma jamba da porta. A fachada posterior da casa do monge conserva parte dos prumos que amparavam o "coice" das 4 varas que ali se fixavam; superiormente revela 2 níveis de marcação do telhado; junto à parede, amontoam-se algumas galgas de pedra. A fachada N. do corpo lateral da casa já não existe. No interior, 1º piso com 3 divisões, 1 pequena e 2 amplas; a do fundo possui, a toda a volta, a marcação das pias de pedra que armazenavam o azeite; janelas e portas interiores com marcação dos gonzos. O 2º piso tem quarto de arrumos separado da cozinha, esta com lareira apoiada em mísulas de aresta em bisel. Seguem-se 2 salas, a última das quais tinha inicialmente 2 quartos junto à parede posterior; ao fundo, entrada para a latrina. Salas iluminadas por janelas conversadeiras; pavimento sobre grandes vigas de madeira
Descrição Complementar
Armas de Alcobaça organizadas em cartela recortada: 2 flores-de-lis no cantão direito do chefe; 5 castelos alinhados e firmados no chefe, postos em pala e 2 outros alinhados no flanco esquerdo; 5 escudetes postos em cruz no cantão esquerdo do chefe; banda xadrezada e flor-de-lis no cantão direito da ponta; encima-as coroa fechada, de que resta só a metade posterior.
Tipologia
Arquitectura civil privada e agrícola, pombalina. Casa de lagar pombalino, de planta rectangular composta e alçados de 2 pisos, sendo o térreo para serviços e armazenamento de azeite e o 2º para habitação do monge lagareiro, reflectindo-se esta divisão social do espaço na própria decoração exterior. Interessante técnica construtiva, utilizando nas paredes interiores divisórias o chamado "taipal à galega". As principais instalações do lagar organizavam-se junto à fachada posterior.
Características Particulares
Foi um dos lagares construídos pelos monges alcobacenses mais completos e perfeitos, podendo-se considerar as suas instalações modelares para a época. O mecanismo de moagem com 4 varas de cada lado e os pesos voltados uns para os outros, conferia ao lagar uma organização elegante e única nos lagares da região. Paredes interiores divisórias com os materiais abundantes na região - estrutura com prumos e barrotes de travejamento, tendo pelas 2 faces fasquias, também de madeira, e preenchendo-se o interior com argamassa de argila, cal, cortiça e azeite, obtendo-se assim maior leveza e durabilidade da estrutura e o isolamento térmico, com paredes frescas no Verão e quentes no Inverno.
In: Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana


Deste imóvel apenas hoje resta a casa do monge lagareiro em acentuado estado de ruína e a cerca, cujo portal foi, parcialmente, derrubado há pouco tempo. A fachada posterior ainda mantém as "virgens" (esteios de pedra que guarnecem e amparam o "coice de vara"). Algumas galgas e um peso de vara abandonados no terreno, são os últimos testemunhos silenciosos do funcionamento desta unidade senhorial. A Lagoa Ruiva que fornecia a água para os trabalhos do lagar (escalda da massa de azeitona, etc.) foi entulhada e aloja o campo de futebol local.
Com o desaparecimento, a curto prazo, deste prédio rústico (embora já classificado, a ruína total é eminente), Alcobaça perde um documento único de leitura do seu passado e o mosteiro em particular, fica mais pobre.
In "Tinta Fresca" 12/2000
A Cache
Trata-se de uma Cache de tamanho regular com os tradicionais objectos para troca.
ATENÇÃO: Por favor volte a colocar a Cache no local e da forma em que a encontrou!
Conteúdo Inicial:
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