A presença humana na freguesia de Alvalade está documentada arqueologicamente a partir do Mesolítico (8 mil anos atrás), como o comprovam as escavações arqueológicas realizadas na Gaspeia no início de 2005.
Ao longo das últimas décadas têm sido também feitos achados e registos do Neolítico,Calcolítico, da Idade do Bronze, da Época Romana e do Período Visigótico.
A fertilidade dos solos, os cursos de água existentes, e a caça abundante que estas terras hospedavam (javalis, veados, lebres, coelhos, mas também lobos, raposas, ginetos e texugos) fizeram da actual freguesia alvaladense um território muito apetecido e disputado desde os tempos mais remotos.
Desse interesse e ocupação humana resultariam sucessivos vestígios de povoamentos.
Em maior abundância encontram-se os achados e testemunhos da colonização romana, de que são exemplo os diversos vestígios e estruturas de villae existentes um pouco por toda a freguesia. Na área de influência e sob a jurisdição da civitas de Miróbriga, as produções das terras de Alvalade asseguravam uma boa parte dos produtos agrícolas e pecuários necessários ao consumo e comércio da velha cidade romana.
Porém, enquanto povoação mais ou menos organizada, Alvalade deve o seu nascimento à ocupação muçulmana, provavelmente no século 9. O topónimo 'Alvalade' provém do vocábulo árabe al-balad que significava 'lugar murado' ou 'lugar protegido'. Atendendo ao topónimo, e ao tipo do povoamento rural existente na região durante o período islâmico tudo indica que o pequeno núcleo urbano primitivo possa ter sido fortificado.
As primeiras casas (que formariam o primeiro conjunto urbano de Alvalade), terão sido levantadas na zona das actuais ruas de Lisboa e Atrás dos Quintais, Quintal do Mirae Largo Cerro do Moinho, uma espécie de promontório na extremidade norte do planalto que domina a junção dos vales do Sado e Campilhas, posição privilegiada que permitia controlar o rio Sado e a ribeira de Campilhas e algumas áreas de cultivo das imediações, elementos importantes dos quais dependeria a sobrevivência do pequeno povoado. Povoado esse que com o passar dos tempos se expandiu, ainda que lentamente, alinhavando a actual Praça D. Manuel I e área envolvente. Para esse crescimento muito terá contribuído, entre outros factores, a construção de uma pequena capela que nos finais do século 15 seria ampliada e daria origem à actual igreja matriz.

elipse a cheio: núcleo urbano primitivo de Alvalade (que corresponde à Rua Atrás dos Quintais, Quintal do Mira, Cerro do Moinho e Rua de Lisboa, zona onde foram levantadas as primeiras casas da vila).
elipse a tracejado: Alvalade no século 16.
Beneficiando da sua excelente localização geográfica, Alvalade foi sempre um ponto importante, regionalmente, no trânsito de pessoas e mercadorias.
Durante a reconquista, só após a tomada da praça de Aljustrel aos mouros, em 1234 por D. Sancho II, é que Alvalade viria a ser definitivamente terra portuguesa.
Em 1273, entre outros domínios, a Ordem Militar de Santiago da Espada recebe Alvalade pela pena do rei D. Afonso III.
Nos Estabelecimentos de D. Pero Escacho, Mestre da Ordem de Santiago, promulgados a 26 de Maio de 1327 na sequência da ruptura e independência dos espatários portugueses em relação a Castela, surge a primeira referência conhecida à comenda de Alvalade, e são regulamentadas as rendas que o respectivo comendador poderia usufruir.

Marcas senhoriais da Ordem de Santiago em Alvalade
Em 20 de Setembro de 1510 o rei D. Manuel I concedeforal a Alvalade, conferindo-lhe o estatuto de concelho e alguma independência administrativa e judicial.
Algum tempo depois (1510/1520 ?) é construído e erguido o pelourinho no centro da actual Praça D. Manuel I.

A primeira contagem (Numeramento) da população de Portugal efectuada por ordem do rei D. João III, que decorreu entre 1527 e 1533, dá conta que existiam no concelho de Alvalade, nessa época, 133 vizinhos (cerca de 600 habitantes).
Em finais do século 17 o curato de Nossa Senhora do Roxo (estabelecido em meados do século 16), dá origem à criação da freguesia do Roxo, surgindo assim a primeira e única divisão administrativa no concelho de Alvalade.
Nos inícios de 1755 a vila possuía 275 fogos e 1208 habitantes, mas o megassismo de 1 de Novembro do mesmo ano provocaria a derrocada de grande parte dos edifícios públicos e habitações, deixando a povoação semi-destruida.

Duque da Terceira
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Mais demolidores que o terramoto foram os efeitos provocados pela Revolução Liberal...
Na região era conhecida a simpatia política das instituições alvaladenses pelo regime absolutista, posição oficialmente assumida em 9 de Outubro de 1831, data em que o concelho jura fidelidade ao rei D. Miguel I. Considerado um pequeno bastião miguelista, tal circunstância obrigaria o Duque da Terceira a entrar na vila no dia 18 de Julho de 1833 afim de converter o concelho à causa liberal. A câmara e as principais instituições alvaladenses são chamadas aos velhos paços do concelho, convocadas pelo Duque, onde são coagidas a renunciar o apoio a D. Miguel, e acabam por aclamar D. Maria II também como sua rainha e soberana. Contrariar e enfrentar o Duque da Terceira e o seu contingente militar, poderia, naquela conturbada época, pagar-se com a própria vida. Eram assim os tempos da Guerra Civil de 1832/34...
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Após a vitória militar do Partido Liberal, e convencionados os acordos (ou melhor, as concessões) de Évoramonte, D. Miguel pernoita em Alvalade no dia 31 de Maio de 1834. Apesar de deposto e fortemente contestado em grande parte do país, D. Miguel é recebido e acolhido na vila com grande respeito e deferência. Alvalade fica registada como a terra onde em vida o Rei Absoluto passaria a sua última noite em território português.
A implantação do Liberalismo provoca uma nova divisão administrativa do território nacional e dita a extinção do concelho de Alvalade em 6 de Novembro de 1836.
Em resultado desta decisão político-administrativa, Alvalade é incorporada como freguesia no vizinho concelho de Messejana.
Em 24 de Outubro de 1855, na sequência da extinção do concelho messejanense, Alvalade transita para o concelho mineiro de Aljustrel.
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D. Miguel I
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Em 1860, vinte e quatro anos depois de ter perdido a sua autonomia administrativa, Alvalade tem apenas 620 habitantes divididos por 180 fogos. Os efeitos das crises decorrentes da Revolução Liberal e da supressão do concelho, fizeram com que Alvalade perdesse metade da população e de grande parte da sua força de trabalho. As famílias mais abastadas e com maior prestigio abandonam também a freguesia, os campos deixam de ser cultivados, e vivem-se momentos dramáticos de pobreza e miséria. Desgovernada e sem qualquer orientação administrativa que enfrente a crise, e vivendo o pior período da sua existência, Alvalade sofre um novo golpe a 4 de Julho de 1861, ao perder mais uma das suas seculares instituições com a extinção da Santa Casa da Misericórdia, decidida pelo Governo Civil de Beja, que transfere também todo o seu património para a Casa Pia de Beja.
No dia 18 de Abril de 1871, Alvalade muda novamente de administração concelhia, passando desde então a pertencer ao concelho de Santiago do Cacém.
A partir daqui abre-se um novo ciclo para Alvalade, que estabilizada do ponto de vista político, administrativo e social, assiste a um ligeiro aumento da sua população residente e à normalização dos trabalhos e produções agrícolas.
Em 23 de Agosto de 1914 o comboio sulca pela primeira vez solos alvaladenses, e são inauguradas as Estações dos Caminhos de Ferro e do Telegrafo Postal. No mesmo dia, as principais ruas da vila passam a ter também iluminação pública.
O comboio e a estação significariam o primeiro e um dos mais importantes factores de desenvolvimento que a freguesia de Alvalade conhece no século 20.
Uma década depois (em 1924) é instalada a Guarda Nacional Republicana.
O telefone chegaria no dia 1 de Abril de 1959, inicialmente apenas com a rede disponível entre as 8 e as 24 horas.
Em 1995, a pedido e instâncias da freguesia e da Câmara Municipal de Santiago do Cacém Alvalade readquire o título de ' Vila ', que havia perdido aquando da supressão do seu concelho em 1836.
Actualmente a freguesia caminha para algum desenvolvimento, com uma economia baseada ainda fortemente no sector agrícola, mas também já sustentada nas áreas do pequeno comércio, em alguma indústria, e na prestação de serviços.
Nos Censos efectuados em 2001, a freguesia de Alvalade registou 2305 habitantes.
texto de Luis Pedro Ramos
(Junho de 2005)
Utilizado com a devida autorização
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