A lenda da pastora Comba que
ascende à santidade foi escrita pelo poeta e escritor do século
XVI, António Ferreira.
A antiga lenda fala-nos de um tempo
ainda antes da fundação de Portugal, quando o território nacional
se encontrava dominado pelos mouros: Conta-nos a história de Comba,
uma bela pastorinha que com o irmão Leonardo apascentavam
tranquilamente os seus rebanhos: Sendo possuidora de tão rara
beleza, rapidamente despertou o interesse do Rei Mouro que reinava
na região de Lamas que, por ela se apaixonou perdidamente. No
entanto este Rei Mouro era grande, membrudo e feio com uma orelha
de asno e outra de cão, a quem chamavam o Orelhão:
"A todos feo, a todos espantoso
chamado era de todos Orelhão".
A pobre pastorinha tremia de terror
a pensar no Rei Mouro:
No seu desespero, a doce Comba
implora a Deus a sua ajuda para permanecer pura e casta:
"Não sou minha, meu Deus, toda sou
Vossa, fazei que para Vós guardar me possa".
O Rei Mouro, perdido de desejo
ameaça a pobre pastorinha:
"Eu sou teu Rei, tu és minha
cativa
Sê tu senhora, que eu serei cativo
Não t`é melhor seres Rainha e viva
Que arderes cruelmente em fogo vivo?"
Indiferente às súplicas e ameaças,
Comba refugia-se mais na dedicação a Deus. Ferido no seu orgulho, o
Rei Mouro persegue a pastora de lança em riste. Perseguida e
encurralada entre lança e um penedo, a pastorinha implora o auxílio
dos Céus para que a ajudassem. Miraculosamente, a fraga abre-se,
recolhe a pastorinha e fecha-se numa manifestação do poder
Divino:
"Ó Maravilha grande! Abriu-se
pedra
Obedece à Santa a rocha dura,
Obedeceo à santa e abriu-se a pedra,
E defendeu-a da cruel ventura".
Enraivecido, o Rei Mouro vinga-se
no inocente irmão de Comba, estripando-o e lançando-o a um
charco.
O autor, António Ferreira, assegura
que a ferradura do cavalo com que o Rei Mouro perseguiu a
pastorinha, bem como a lança com que matou Leonardo ficaram
marcadas na fraga, e a água em que foi lançado o corpo de Leonardo
tornou-se numa fonte milagrosa:
"E a fértil chã terra, que
ocupava
Aquele monstruoso e cruel pagão
Que outros claros Senhores esperava,
Inda se chama Lamas de
Orelhão"!