A assistência hospitalar em Coimbra, terá sido iniciada com a
criação do Hospital de Milreu, junto da antiga Alcáçova, após a
reconquista cristã, por Fernando Magno, em 1093, por conseguinte
anterior ao nascimento da nacionalidade.
Durante a Idade Média outros hospitais foram fundados em
Coimbra, quer pelos monarcas, como o Hospital-Gafaria de S. Lázaro
para doentes leprosos, pelo Rei D. Sancho I, e o Hospital de Santa
Elisabete (Rainha da Hungria) por iniciativa da Rainha Santa
Isabel, quer por ordens religiosas, como os Hospitais de São
Nicolau e de Montarroio que serviram de apoio ao ensino de medicina
ministrado no Convento de Santa Cruz, ou de Confrarias ou
Irmandades, como os Hospitais da Graça, de Nossa Senhora da
Vitória, de São Lourenço, de São Marcos, de Santa Maria, de São
Gião, de São Cristóvão, e de Santa Luzia.
Estes Hospitais, de pequena lotação (4 a 6 leitos), no final do
século XV encontravam-se desactualizados, com reduzido rendimento
assistencial e geridos por administrações indisciplinadas, o que
levou D. Manuel I, por Carta Régia de 22 de Outubro de 1508,
proceder à sua extinção (salvo o Hospital de S. Lázaro) e criar os
Hospitais da Conceição e o Hospital da Convalescença. O Hospital da
Conceição tinha 12 leitos para homens e 6 para mulheres, e o da
Convalescença duas salas com 5 camas. Este, anexo ao Hospital de
Conceição, tinha gestão autónoma.
O Hospital de São Lázaro manteve-se, próximo da antiga Porta de
Santa Margarida, (entre a Rua da Figueira da Foz e a Av. Fernão de
Magalhães), até 1836, altura em que foi transferido para o Colégio
de S. José dos Marianos (actual Hospital Militar).
Em 1774, no âmbito da Reforma da Universidade, o Marquês de
Pombal determinou que estes Hospitais passassem a ser administrados
pela Universidade, conservando contudo os seus nomes.
Poderá considerar-se este facto o "nascimento" dos "Hospitais da
Universidade"?
As precárias instalações e as reduzidas dimensões dos referidos
Hospitais, a deficiente organização e ausência de estatutos
adequados, levam-nos a supor que estaria na mente do reformador da
Universidade, garantir, para já, o indispensável apoio ao ensino da
Medicina aproveitando o que existia no campo hospitalar, a usar
enquanto não fosse possível dar à Universidade o Hospital que
efectivamente estivesse ao nível que a reforma do ensino
exigia.
Até 19 de Março de 1779 o Hospital da Conceição e da
Convalescença da Praça Velha continuou a servir a Faculdade de
Medicina, o que se verificava desde a transferência da Universidade
para Coimbra por D. João III. Naquela data deu-se a transferência
do Hospitais para o edifício do antigo Colégio Universitário das
Onze mil Virgens, devoluto pela expulsão dos jesuítas, ordenada
pelo Marquês de Pombal. A reduzida lotação dos Hospitais da
Conceição e Convalescença foi assim aumentado para 68 leitos, nas
instalações adaptadas nas alas Norte e Poente daquele edifício.
O benefício assistencial foi notório, traduzido no prestígio que
o hospital alcançou, devido aos novos professores e médicos,
contratados pelo Marquês de Pombal, que nele passaram a trabalhar,
aos novos esquemas de tratamento e às instalações mais amplas.
Rapidamente, porém, estas tornaram-se insuficientes, pela procura
verificada, não obstante a existência de normas que limitavam a
proveniência de doentes com direito a internamento hospitalar.
A situação frequente de epidemias, as guerras civis e as
invasões francesas, tornaram o hospital gravemente insuficiente e
sanitariamente perigoso, pelas infecções cruzadas que, com a maior
facilidade se verificavam, fruto da promiscuidade inevitável num
edifício com a lotação de 68 leitos, ocupados por 250 doentes.
Naturalmente o ensino ressentia-se da situação, causando grave
preocupação à Faculdade.
Só depois de 1834 foi possível conseguir-se alguma descompressão
do Hospital da Conceição utilizando, temporariamente, o edifício
Colégio de S. Jerónimo, devoluto pela saída dos frades (como dos
outros 24 Colégios Universitários) ordenada pela lei de extinção
das Ordens Religiosas. Efectivamente este colégio foi por várias
vezes utilizado para aliviar o Hospital da Conceição nos períodos
de maior afluência de doentes, acabando em 1853, após o parecer de
diversas comissões sucessivamente nomeadas pela Faculdade de
Medicina, o Ministro do Reino, por duas portarias publicadas em
Agosto, pôr à disposição da Universidade os edifícios dos antigos
Colégios de S. Jerónimo, Artes e Ordens Militares para neles serem
instaladas enfermarias.
A pletora dos doentes existentes no Hospital da Conceição forçou
a rápida utilização do Colégio das Artes e de S. Jerónimo, facto
possível porque o Dr. Costa Simões, membro da comissão encarregada
do parecer da adaptação destes colégios a hospitais ter já
anteriormente elaborado o estudo nesse sentido. Contudo o Hospital
da Conceição continuou a receber doentes, sendo designado, em 1855,
por Hospital dos Clérigos da Nossa Senhora da Conceição de Coimbra.
Terá fechado definitivamente após a passagem desta epidemia.
Entretanto os doentes leprosos que estavam no Colégio de S. José
dos Marianos desde 1836, foram transferidos em 1851 para o Colégio
de S. Jerónimo, e em 1853 para o Colégio das Ordens Militares,
conhecido depois por Hospital dos Lázaros ou do Castelo (local onde
esteve localizado o castelo medieval de Coimbra). O deficiente
estado dos edifícios, construídos para colégios, ocupados com
grande parte do seu próprio equipamento, em mau estado de
conservação, criaram sérias dificuldades de adaptação à nova
finalidade hospitalar.
Acrescia que o rés-do-chão do Colégio das Artes estava ocupado
pelo Liceu de Coimbra e assim continuou durante 15 anos, o que,
como é fácil de concluir, representou natural inconveniente e
prejuízo para os seus vizinhos doentes do andar superior e
vice-versa.
O ano de 1870, foi na história dos Hospitais da Universidade um
marco de particular importância pois representou a data em que o
Liceu foi transferido para o edifício do antigo Colégio de S. Bento
e o Hospital ficou finalmente instalado nos 3 edifícios (São
Jerónimo, Colégio das Artes e Castelo) que utilizou até 1961,
altura em que o Hospital do Castelo foi destruído para construção
da cidade universitária, continuando os H.U.C., a viver nos outros
2 edifícios até ao dia 6 de Março de 1987, data em que passou a
ocupar um novo edifício feito expressamente para o efeito.