Nova Bragança
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Processo dos Távoras
Atentado ao
Rei
No seguimento do terramoto de Lisboa de 1 de Novembro de 1755, que
destruiu o palácio real, o rei D. José I vivia num grande complexo
de tendas e barracas instaladas na Ajuda, às saídas da cidade. Este
era o presente centro da vida política e social portuguesa.
Na noite de 3 de Setembro de 1758, D. José I seguia incógnito numa
carruagem que percorria uma rua secundária nos arredores de Lisboa.
O rei regressava para as tendas da Ajuda de uma noite com a amante.
Pelo caminho, a carruagem foi interceptada por três homens, que
dispararam sobre os ocupantes. D. José I foi ferido num braço, o
seu condutor também ficou ferido gravemente, mas ambos sobreviveram
e regressaram à Ajuda.
Sebastião José de Carvalho e Melo tomou o controlo imediato da
situação. Mantendo em segredo o ataque e os ferimentos do rei, ele
efectuou julgamento rápido. Poucos dias depois, dois homens foram
presos e torturados. Os homens confessaram a culpa e que tinham
tido ordens da família dos Távoras, que estavam a conspirar pôr o
8º duque de Aveiro, José de Mascarenhas e Lencastre, no trono.
Ambos foram enforcados no dia seguinte, mesmo antes da tentativa de
regicídio ter sido tornada pública. Nas semanas que se seguem, a
marquesa Leonor de Távora, o seu marido, o conde de Alvor, todos os
seus filhos, filhas e netos foram encarcerados. Os conspiradores, o
duque de Aveiro e os genros dos Távoras, o marquês de Alorna e o
conde de Atouguia foram presos com as suas famílias. Gabriel
Malagrida, o jesuíta confessor de Leonor de Távora foi igualmente
preso.
Foram todos acusados de alta traição e de regicídio. As provas
apresentadas em tribunal eram simples:
a) As
confissões dos homens que dispararam sobre o rei e, no entretanto,
já executados;
b) A arma do crime pertencia ao duque de Aveiro;
c) O facto de apenas os Távoras poderem ter sabido dos afazeres do
rei nessa noite, uma vez que ele regressava de uma ligação com
Teresa de Távora, presa com os outros.
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O
Suplício dos Távoras
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Os Távoras negaram todas as
acusações mas foram condenados à morte. Em julgamento sumário, são
condenados à morte dezoito pessoas. A sentença ordenou a execução
de todos, incluindo mulheres e crianças. Apenas as intervenções da
rainha Mariana e de Maria Francisca, a herdeira do trono, salvaram
a maioria deles. A marquesa, porém, não seria poupada e destinada a
morrer por corte de cabeça. Aos restantes é decidida a mutilação
antes da morte, sendo ainda decidido que após a execução seja o
cadafalso queimado, as cinzas dos cadáveres lançadas ao rio e o
chão salgado para que ali não volte a nascer erva. A execução
pública ficou marcada para 13 de Janeiro de 1759 num descampado,
perto de Lisboa, próximo à Torre de Belém.
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Execução do
duque de Aveiro e do marquês de Távora
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Decapitação da
marquesa de Távora
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O patíbulo foi construído num
descampado, em Belém, na altura uma pequena aldeia piscatória nas
margens do Tejo. Todos os condenados foram ali colocados e
executados sucessivamente por quebra de ossos das pernas e dos
braços e finalmente por esmagamento do tórax. Desde que nasceu o
sol que as execuções não pararam até a tarde já ir alta. O rei
esteve presente, juntamente com a sua corte, absolutamente
desnorteada. Os Távoras eram seus semelhantes, mas o rei quis que a
lição fosse aprendida e para que nunca mais a nobreza se rebelasse
contra a autoridade régia.
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O
patíbulo da execução
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Foram ali
mortos D. Francisco de Assis de Távora e D. Leonor (marqueses
"velhos" de Távora), José Maria de Távora, Luís Bernardo de Távora
(filhos dos Marqueses de Távora), D. José de Mascarenhas (duque de
Aveiro), D. Jerónimo de Ataíde (conde de Atouguia), Manuel Alvares
Ferreira (guarda roupa do duque de Aveiro), Brás José Romeiro (cabo
da Esquadra da Companhia do marquês de Távora), João Miguel (moço
de acompanhar o duque de Aveiro), António Alves Ferreira e José
Policarpo de Azevedo, queimado figurativamente em estátua, porque
andava foragido.
O título de duque de Aveiro foi extinto para sempre, as armas das
famílias foram picadas e o nome Távora foi mesmo proibido de ser
citado. O palácio do duque de Aveiro, em Belém, Lisboa foi demolido
e o terreno salgado, simbolicamente, para que nunca mais nada ali
crescesse. No local, hoje chamado Beco do Chão Salgado, existe um
marco alusivo ao acontecimento mandado erigir por D. José com uma
lápide onde se pode ler:
"Aqui foram arrasadas e salgadas
as casas de José Mascarenhas, exautorado das honras de duque de
Aveiro e outras condemnado por sentença proferida na Suprema Juncta
de Inconfidência em 12 de Janeiro de 1759. Justiçado como um dos
chefes do bárbaro e execrando desacato que na noite de 3 de
Setembro de 1758 se havia cometido contra a real e sagrada pessoa
de D. José I. Neste terreno infâme se não poderá edificar em tempo
algum."
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Beco do Chão
Salgado
Marco Alusivo
ao Acontecimento
Gabriel Malagrida foi queimado vivo alguns dias depois e a
Companhia de Jesus declarada ilegal. Todos as suas propriedades
foram confiscadas e os jesuítas expulsos do território português,
na Europa e no Ultramar. A família Alorna e as filhas do duque de
Aveiro foram condenadas a prisão perpétua em mosteiros e
conventos. |
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Nova Bragança
Em 6 de Janeiro de 1759, em Aveiro, ainda simples Vila, reuniram-se
na bonita Igreja matriz de S.Miguel, ali defronte da pousada de
S.Brás (antigo Liceu de Aveiro) o Senado, os Nobres e o Povo, para,
incitados pelo prior da mesma, frei Paulo Pedro Ferreira Granado,
fazer solene protesto de "não
quererem continuar sob tutela do dignatário", o duque de
Aveiro, "sujeitando-se de
imediato ao governo de El-Rei". E, levando mais longe o
lavar da afronta, é no referido conclave sugerido que Aveiro
mudasse o nome para Nova Bragança.
Ora foi desta acção que D.José I, certamente lisonjeado por tamanho
gesto «democrático»(?!) das forças sociais da terra, decidiu elevar
Aveiro a cidade , poucos meses depois de ter condenado por traição,
ao cadafalso, o seu último duque. À nova cidade foi dado o nome de
Nova Bragança em vez de Aveiro, por alvará real no dia 11 de Abril
de 1759.
Porém, Aveiro de há 250 anos era uma pequena vila muralhada, de
feição medieval, ainda que de carácter burguês, devido às
actividades salineiras, piscatórias e mercantis, mas que se
encontrava decadente devido ao assoreamento da Ria. Aveiro não
justificava ser cidade e foi-o por razões políticas, fundamentada
por um pseudo-atentado contra o rei, já que não há provas seguras
de que o atentado tenha existido, e que seria tido como principal
responsável o duque de Aveiro.
Cortada a cabeça do duque, havia que granjear a simpatia das
pessoas tuteladas pelo duque de Aveiro. Entendeu o rei que essa
seria uma forma de compensação. Foi também uma atitude delimitadora
da Diocese de Coimbra, porque para Aveiro ser cidade passaria
também a ser sede de diocese e a maior parte do território da nova
diocese foi retirado à de Coimbra e era a parte mais rica. |
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Posfácio
Marquês de
Pombal
No seguimento do caso Távora, Sebastião de Melo, o novo conde de
Oeiras, não conheceu qualquer outra oposição. Adquirindo o título
de marquês de Pombal em 1770, teve quase exclusivamente o poder de
governar, de forma absolutista, Portugal até à morte de D. José I
em 24 de Fevereiro de 1777.
A sucessora do trono, a rainha D. Maria I, que subiu ao trono a 24
de Março de 1777, e o seu marido D. Pedro III detestavam o marquês.
D. Maria I teria alegadamente sofrido de ataques de raiva apenas ao
ouvir o nome do antigo primeiro-ministro de seu pai. O seu primeiro
acto como rainha, iniciando um período que ficou conhecido como a
Viradeira, foi a demissão e exílio da corte do marquês de
Pombal.
D.
Maria I
A rainha nunca perdoou a impiedade mostrada para com a família
Távora e retirou-lhe todos os cargos. Mais ordenou que o marquês se
resguardasse sempre a uma distância de pelo menos 20 milhas dela.
Se passasse em viagem por uma das suas propriedades, o marquês era
obrigado por decreto a afastar-se de casa.
A rainha D. Maria I, quando chegou ao trono, anulou também alguns
decretos do antigo reinado e o nome, da cidade de Nova Bragança,
foi abandonado, voltando a mesma à denominação anterior -
Aveiro.
A sentença que ditava não se poder edificar em tempo algum no
terreno, em Belém, onde foram arrasadas e salgadas as casas de José
Mascarenhas, ao longo dos anos deixou de ser respeitada, e diz-se
mesmo que começaram a ser ali construídas casas ainda durante o
reinado de D. Maria I. Não só começaram a edificar como, com o
tempo, quase não deixaram espaço para o marco alusivo ao
acontecimento, naquele beco escondido, mesmo junto à Fábrica dos
Pastéis de Belém.
De todos os bens do duque de Aveiro apenas o palácio de Azeitão foi
poupado a este episódio. Embora as armas da família tenham sido
picadas, é a única propriedade ainda demonstrativa do antigo poder
desta família e infelizmente encontra-se em total abandono e estado
avançado de degradação. |

Palácio dos
duques de Aveiro em Azeitão
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Os duques em Aveiro
Túmulo do 7º
duque de Aveiro
Em Aveiro restam poucos vestígios dos duques. O túmulo do 7º duque
de Aveiro que deixou expressa a sua vontade de ser sepultado no
Real Convento de Jesus de Aveiro (actual Museu Santa Joana), junto
de sua tia, a Princesa Santa Joana é provavelmente o único local
onde as armas da família não foram picadas e que se encontra em bom
estado de conservação. Porém, num marco senhorial em Vilar e na
Fonte dos Amores (ou de Benespera) na Glória, podem-se ainda
encontrar as armas dos Lencastres, antigos duques de Aveiro.
A Fonte dos Amores é uma das mais antigas de Aveiro. Remonta ao
século XVII, apesar de ter sofrido mudanças de local e disposição
devido à construção da rua e respectivo arranjo urbano do espaço.
Deve o seu nome talvez ao título de uma interessante história ou
lenda de que a tradição se perdeu no correr dos tempos.
Sobre a pia, encontra-se uma lápide, com a seguinte inscrição:
"Lovvado seia o Sanctisimo
Sacramento, e a Virgem Nossa Senhora. Que foi concebida sem peccado
original".
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Fonte dos
Amores em 1967 *
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Ao lado, está o brasão, em
calcário, com as armas dos duques de Aveiro. A parede onde essas
duas lápides estão implantadas é encimada por ameias. Já foi lugar
de muitas lavadeiras e o único abastecimento de água da população
vizinha, hoje está escondida num beco perdido atrás de uns taipais
e a sua água é imprópria para o consumo.
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Brasão dos
duques de Aveiro na Fonte dos Amores
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Fonte dos
Amores
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Brasão dos
duques de Aveiro no Marco Senhorial de Vilar |
O marco
senhorial retirado da Ladeira de Santa Rita - Vilar delimitava os
terrenos denominados como "Chão D'El-Rei".
Será anterior a 1506, pois nesse ano o rei D. Manuel I ordenou
que... "e foi ter o dito juiz ao
marcuo do Valle de Villar termo da dita villa d'Aveiro que he
acerca da forqua da dita villa d'Aveiro".
O escudo do marco foi picado em 1759 aquando da execução do 8º
duque de Aveiro, D. José de Mascarenhas.
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A Cache
Nos textos acima encontrarão 8 datas completas:
1. Data em que
Aveiro foi elevada a cidade;
2. Data do atentado contra o rei D. José I;
3. Data do terramoto de Lisboa;
4. Data da subida ao trono de D. Maria I;
5. Data da sentença contra o duque de
Aveiro;
6. Data da reunião das gentes de Aveiro;
7. Data da execução dos condenados à morte;
8. Data da morte de D. José I.
Para cada uma dessas datas, multiplicando o dia pelo mês e pelo
ano, obterão um número com 5 ou 6 dígitos. Somando, entre si, esses
dígitos obterão sempre um número com dois dígitos. E calculando o
resto da divisão inteira por nove ("os nove fora"), dessa soma, obterão
sempre um número com apenas um dígito.
Na tabela seguinte representa-se por letras os dígitos dos cálculos
acima descritos:
Datas |
Soma dos dígitos da multiplicação |
Resto da divisão por 9 da coluna anterior |
1 |
AB |
C |
2 |
DE |
F |
3 |
GH |
I |
4 |
JK |
L |
5 |
MN |
O |
6 |
PQ |
R |
7 |
ST |
U |
8 |
VW |
X |
Calculando a média dos meses das datas referidas obterão um número
com apenas um dígito, a que chamaremos de Y. E Z será o número de mortos no patíbulo
em Belém menos um, ou metade do número de condenados ou mesmo o
número já usado anteriormente nestes cálculos.
As coordenadas finais da cache serão:
N YFº VK.(G + H)(U + G +
W)(S * C + J - Z)'
W IL(B + R)º (D * X - A)(O + T).(A + P + Q)(N - M)E'
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Nota
Para aqueles que já tinham chegado às coordenadas finais,
anteriores a Outubro de 2011, para que não tenham que realizar os
cálculos todos de novo, podem somar 4 milésimas de minuto à
latitude e subtrair 15 milésimas de minuto à longitude, para obter
as novas coordenadas. |
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Por Favor
- A cache encontra-se
numa zona urbana portanto apela-se à discrição e bom senso para que
a cache possa durar bastante tempo.
- Por favor não publiquem imagens da cache ou do
container nem divulguem informação sobre os mesmos!
- Coloquem tudo como encontraram!
- Levem alguma coisa para escrever! |
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Fontes
- Processo
dos Távoras
-
Fragmento Da História De Aveiro: A Data Em Que Aveiro Se Passou A
Chamar Nova Bragança
- Portugal
- Dicionário Histórico: 8.º duque de Aveiro
-
Aveiro: "Elevação a cidade não se justificava"
- Palácio dos
duques de Aveiro
* Imagem da Fonte
dos Amores em 1967 retirada da colecção de fotografias de um
aveirense, o Sr. Fausto Ferreira.
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