O conhecido Largo dos Combatentes, em Pinhel, é um dos mais nobres
espaços desta cidade da Beira Alta. Aparentemente, até aos finais
do século XVIII, esta zona da cidade estava fora do núcleo urbano
original, e o actual espaço estava ocupado por pequenos campos de
cultivo. Dos edifícios que existem actualmente na envolvente
próxima do actual largo, a construção mais antiga será o antigo
convento de Santo António, actual Igreja de Santo António,
conhecida popularmente como "Igreja dos Frades", edificado por
volta de 1731.
O facto de a zona do actual Largo dos Combatentes estar então
fora da povoação, embora relativamente próxima, fez com que a mesma
fosse objecto da atenção dos bispos de Pinhel, após a criação da
diocese em 1770. Com efeito, D. José António Pinto de Mendonça
Arrais, terceiro Bispo de Pinhel, ordenou a construção do paço
episcopal (actual sede da Falcão EM), algures entre 1783 e 1797.
Tinha este bispo a intenção de desenvolver, na área do actual
largo, um considerável projecto urbanístico. O edifício do paço
episcopal, actualmente existente, seria a fachada Oeste de uma
grande praça. Em frente deste seria construído um edifício
semelhante, onde iria funcionar um seminário, e que seria a fachada
Leste da mesma praça. Um terceiro lado da praça seria formado pela
fachada da Sé Catedral, que seria também construída de raiz. Os
desentendimentos entre o bispo D. José Arrais e a Câmara de então
acabariam por impedir a realização física deste grande
projecto.
Depois da extinção da diocese de Pinhel, em 1882, seria
instalado no antigo paço episcopal o regimento de Infantaria nº 24,
pelo que o terreiro em frente ao paço constituía um largo utilizado
em grande parte por este regimento. Em 1922 inaugurou-se o
monumento aos mortos da Grande Guerra (1ª Guerra Mundial), quando
era comandante do regimento o Cor. Lima da Veiga, que daria o nome
à parada defronte da actual Adega Cooperativa. Provavelmente, o
local passou a designar-se "Largo dos Combatentes" a partir desta
época.
Após o desmantelamento disciplinar do regimento de Caçadores nº
10, entretanto instalado no paço, no seguimento da revolta de 20 de
Julho de 1928, o exército deixou de ter uma guarnição militar em
Pinhel. Posto isto, no antigo paço episcopal viria a ser instalado
o "Colégio da Beira" em 1954. Data sensivelmente da mesma época a
construção do primeiro edifício da Adega Cooperativa de Pinhel, na
parada lateral ao largo.
Em 1972 seria instalada no paço a Escola Secundária, que ali
funcionou até à década de 1980, e uma residência de estudantes após
o restauro do edifício nos anos 1990, pelo que a zona era sobretudo
frequentada por estudantes. Com a transferência provisória dos
serviços da Câmara Municipal para o antigo pavilhão desportivo da
Escola Secundária, e a instalação da Falcão EM no antigo paço
episcopal, o Largo dos Combatentes tem sido o palco de várias
manifestações cívicas da cidade de Pinhel, como as comemorações dos
feriados nacionais e municipal, festas da cidade, festas de Sto.
António, entre outras.
Pontos de interesse:
1. Largo do Marco - Pequena praceta utilizada desde há décadas
para a realização de festas populares, particularmente os bailes de
S. João. O largo foi requalificado há alguns anos, quando se
efectuou um arranjo do fontanário central. N 40° 46.453 W 007°
03.728
2. Calçada medieval - Trata-se de uma calçada elaborada com
seixos de rio utilizados para representar motivos vegetalistas.
Tendo em conta a sua decoração e características, seria um
pavimento interior, provavelmente o piso de uma antiga capela, uma
vez que foi recolhida uma ossada humana na zona adjacente. É
possível que tenha sido este o local de uma antiga capela conhecida
como "S. João do Seixo", designação alusiva ao material usado no
pavimento. A este factor também poderia estar associada a
realização das festas de S. João no largo do Marco. Estes vestígios
arqueológicos, datados da plena Idade Média, surgiram aquando das
obras de requalificação do Largo dos Combatentes, projecto alterado
em função destas descobertas, tendo em vista a sua preservação. Na
época em que foi utilizada, a capela seria uma ermida relativamente
isolada. N 40° 46.438 W 007° 03.733
3. Aqueduto subterrâneo - Nas mesmas obras de requalificação do
Largo dos Combatentes, foi identificado um tramo de aqueduto
subterrâneo (cerca de 80 metros), com uma calha central, cobertura
de lajes de granito e xisto e paredes de pedra aparelhada, ou
directamente escavadas na rocha, em alguns pontos. Trata-se de uma
obra associada à canalização de águas, datada do século XVIII ou do
século XIX. O tramo descoberto no decorrer das obras foi
preservado, e é visível ao longo do largo através de um passadiço
em ladrilhos. (Passadeira Vermelha ao longo do Largo)
4. Paço episcopal - Palácio de finais do século XVIII, edificado
por ordem do Bispo de Pinhel D. José António Pinto de Mendonça
Arrais, para residência episcopal. O edifício, em estilo "joanino"
com linhas clássicas, tem uma planta rectangular, com quatro alas
rodeando um pátio interior. Na fachada principal, sobre a porta,
está o brasão do bispo que ordenou a construção. Nas traseiras
conserva-se uma monumental chaminé, no local das antigas cozinhas
do palácio. O espaço interior foi bastante descaracterizado ao
longo do século XX, tendo em conta as diferentes utilizações que
teve depois de 1882: quartel militar, colégio/escola, residência de
estudantes, serviços da Autarquia. Conserva-se, no entanto, no
compartimento da escadaria, na ala Norte, um tecto de estuque
decorado da época do paço episcopal. N 40° 46.392 W 007° 03.738
5. Monumento de Homenagem aos Mortos da Grande Guerra -
Baseou-se na Torre Eiffel de Paris, ideia trazida pelos soldados
que naquela zona combateram. Nele podemos ver inscritos em placas
de mármore, os nomes de oficiais e soldados do concelho de Pinhel
que foram mortos durante a Grande Guerra de 1914-1918.Inaugurado em
1922, 4 anos depois do fim da guerra.. N 40° 46.396 W 007°
03.710
6. Antigo Convento de Santo António - Edifício conventual
construído de raiz a partir de 1731, por ordem de D. João V, perto
do local onde existia já uma capela de Santo António. Foi um
mosteiro de monges Franciscanos que incluía uma igreja conventual
(a actual parte preservada), claustro "joanino", sala do capítulo,
celas para os monges, cozinhas e refeitório. Todos estes espaços
são ainda identificáveis, embora o edifício do convento se encontre
em ruínas, mantendo-se em pé as paredes mestras. Talvez se deva aos
frades Franciscanos, que aqui habitaram, o culto a Santo António
que ainda hoje tem lugar em Pinhel. No interior da igreja guarda-se
uma imagem do santo que é considerada uma das mais belas do país. O
mosteiro seria extinto em 1834, e vendido em hasta pública, pelo
que apenas funcionou cerca de um século. No início do século XX
ocorreu no espaço do convento um grande incêndio que destruiu
grande parte do seu interior. A parte da igreja seria depois doada
à Santa Casa da Misericórdia de Pinhel, que a restaurou na década
de 1980. N 40° 46.308 W 007° 03.626
Toda esta informação foi cedia pelo Gonçalo Cruz, que ao
conversar com ele sobre este projecto se mostrou bastante
colaborante, como se pode ver, desde já o meu muito obrigado!!!
