A inquietude devora-me a consciência. Preciso de partir; preciso de sentir o granito a beijar-me as mãos; sentir o seu toque intemporal. Preciso de ter a certeza que existem coisas neste mundo que não são feitas de papel, de plástico, de cimento ou de ferro. Preciso de sentir que um minuto é muito mais do que sessenta segundos e que mesmo um instante pode ser maior que uma eternidade. Preciso de sentir o desassossego do tempo num suspiro. Preciso de sentir. Bastar-me-á um sentido, um momento, e sei que valerá a pena.
O caminho, o meio que me fará chegar. A própria vida estendida num percurso. Os primeiros passos enchem-me de dúvidas como se fossem atalhos para um passado esquecido. Sei que não quero ir por aí; não me basta ver as imagens, preciso de as sentir no corpo. Recordo-me onde quero chegar e prossigo.
Longo foi o caminho, porém, sei quem sou; conheço-me. Conheço-me como se sempre tivesse existido. Deposito o meu respeito num olhar para o cume. Não preciso de dizer ao corpo que é para subir; ele sabe-o, somos cúmplices do momento.
Não vai ser fácil; nunca é. Porém, continuo, não por ser perseguido por algo mas pelo encanto do desafio e porque quero chegar lá em cima. Se o souber merecer, o horizonte há-de compensar-me pela ousadia.
Cá em cima, sinto que me pertenço. Cravo a minha existência num lugar maior que todas as inconstâncias da alma. O mundo, esse gigante onde me passeio; o mundo. Hoje, porém, sou maior do que eu; tenho o mundo ao alcance de um olhar; tenho o mundo aos meus pés e, por um instante, sei que sou feliz. Irei sabê-lo toda a vida.
Alguém.
