O conjunto arquitectónico setecentista da
Praça da República, de planta rectangular, irregular, desenvolve-se
segundo um eixo O. / E., destacando-se na ala N. o Solar dos
Távoras, de 2 pisos com portas e janelas de sacada em arco
rebaixado, decoradas com volutas vegetalistas, as últimas encimadas
por frontões curvos e sanefas; remate em cornija ondulante;
adossada a E. Capela da Misericórdia de fachada revestida de
azulejos de padrão com portal de arco rebaixado decorado com
volutas e festões, encimado por frontão aberto de volutas com cruz
florenciada sob pequena cornija em cortina e janelão de moldura
serpentiforme flanqueado por painéis figurativos da Cura do Enfermo
e Cristo e a Samaritana; remate em frontão de cornija e lanços
curvos decorados com volutas a enquadrar pedra de armas real,
encimado por fogaréus e cruz. No prolongamento da Misericórdia um
arco quebrado da muralha S. do castelo medieval, onde assenta torre
campanário de coruchéu piramidal, com sineiras de arco pleno sobre
nicho com imagem de Nossa Senhora da Conceição. Segue-se galeria
com arcada de 9 arcos plenos sobre pilares de secção quadrangular,
a culminar a E. na Torre do Relógio, antiga Cadeia, com janelas e
sineiras de avental e cobertura de coruchéu curvilíneo. A E.
arruamento e 3 pequenos edifícios de habitação de 2 pisos com vãos
de molduras rectangulares simples. Na ala S. destaca-se edifício
dos antigos Paços do Concelho, de 2 pisos marcados por friso; no 1º
portal de moldura em arco rebaixado de extradorso pluri-segmentar,
decorado com volutas, 1 porta e 2 janelas em arco rebaixado; no 2º,
pedra de armas real sobre placa elíptica epigrafada, comemorativa
da construção do mesmo e da Torre do Relógio, Cadeia e Arcada, por
D. Maria I, ladeada por janelas de avental; flanqueiam o edifício
casas de habitação de 2 e 3 pisos, a da esquerda de 2 corpos
justapostos, possui escadaria transversal com patamar e uma
"loggia" com acesso por arco pleno, na da direita panos divididos
por pilastras, vãos de moldura rectangular e piso superior
constituído por mansarda com varandim corrido gradeado de ferro. A
O. arruamento e casa de 2 pisos com vãos de moldura
rectangular
Cronologia
Séc. 9 / 10 - D. Afonso III de Leão ou D.
Rausendo Ermiges, no decurso da Reconquista encontraram na
Pesqueira um castro romanizado destruído, mandando aí erguer um
castelo ou reconstruir as muralhas, dando início ao povoamento da
terra. Anteriormente à nacionalidade o núcleo urbano da Pesqueira
era uma póvoa de pescadores que se situava junto a uma pesqueira
(local de pesca abundante), na margem esquerda do rio Douro. Após a
instituição de paróquia com Capela dedicada a São João Baptista,
passou a denominar-se São João da Pesqueira; Séc. 10 - D. Chama
detinha largos haveres sob o domínio do Castelo de São João da
Pesqueira que se situava no topo de um outeiro flanqueado por 2
ribeiros a SO. da margem esquerda do rio Douro, e ao redor do qual
se desenvolveu a vila; 1055 a 1065 - decorrente da 2ª Reconquista
Fernando Magno de Leão e Castela concedeu o 1º foral ao concelho da
Pesqueira, o mais antigo foral de outorga régia em território
português; Séc. 12 - D. Afonso Henriques renovou o foral fernandino
e restaurou o castelo. A pesqueira pertencia então a D. Pedro
Ramires que a doou ao concelho e ao mosteiro de São Pedro das
Águias; o foral estabelecia que metade do seu rendimento tinha que
ser dado ao concelho; Séc. 12 / 14 - Confirmações do foral por D.
Sancho I, D. Afonso II, D. Afonso III e D. Fernando que também
restaurou o Castelo, referido em diversos documentos, de cuja
muralha apenas subsiste a porta S.; Séc. 13 - um dos primeiros
donatários da vila e seu termo foi Martim Gil; o termo da Pesqueira
integrava o couto do mosteiro da São Pedro das Águias, que se
apropriou progressivamente de terras do concelho, assim como
cavaleiros-fidalgos, detentores de grandes herdades e privilégios
na região; 1281 - D. Dinis outorgou por carta régia uma feira
franca mensal o que concorreu para o desenvolvimento urbano e
económico da Pesqueira; 1321 - São João da Pesqueira estava
dividida em 3 paróquias, São João, São Pedro e São Tiago, a que se
veio juntar a de Santa Maria no séc. seguinte; 1377 - D. Fernando
doou o senhorio da vila a Rui e Pedro Lourenço de Távora, por
serviços prestados à Coroa por seu pai, Lourenço da Távora; da
linha directa de D. Rausendo, a partir de D. Pedro Ramires,
procedeu a Casa dos Távoras, senhores da vila e primeiros condes da
Pesqueira, evidenciado em solares e palacetes pertencentes aos
mesmos na vila e na região; 1433 - D. João I concedeu carta ao
Concelho para que houvesse feira com privilégios, tal como
acontecera em tempo de D. Dinis; 1611 - D. Luis Alvares de Távora,
9º senhor da casa de Távora foi o 1º conde da Pesqueira, recebendo
de Filipe III o senhorio, ou doação perpétua de juro e herdade para
si e descendentes, das vilas da Pesqueira e Ranhados, com todos
seus termos; Séc. 17 / 18 - O vinho do Porto contribuiu para a
criação de riqueza e de nobreza, sendo a época de maior
prosperidade da vila, em que se ergueram muitas residências nobres
e quintas de carácter senhorial; Séc. 18 - o Solar dos Távoras foi
doado pelos marqueses à Misericórdia; 1759 - após o processo
judicial decorrente da tentativa de regicídio, a linhagem dos
Távoras foi perseguida e extinta, apagando-se os símbolos
heráldicos da família; 1794 - D. Maria manda construir a Casa da
Câmara, Cárcere, Torre do Relógio e Arcada, para os feirantes
exporem as suas mercadorias, no tempo do 7º Juiz de Fora José
Xavier de Cerveira, como atesta inscrição no antigo edifício dos
Paços do Concelho; o sino da torre servia para chamar os vereadores
às reuniões, anunciar as rondas e dar sinal de recolher; Séc 19 -
eram ainda patentes as ruínas de alguns lanços fortaleza medieval;
1988 a 1993 - o edifício dos Paços do Concelho serviu como quartel
da GNR; 2006, 01 Junho - despacho de abertura do processo de
classificação.
Características
Particulares
São João da Pesqueira apresenta estrutura
urbana dividida sensivelmente a meio pela EN 222 (Vila Nova de Gaia
- Almendra), eixo principal de orientação O. - E., que define 2
áreas urbanizadas paralelas: a N., a mais antiga, e a S., a mais
recente, e serve de suporte de urbanização de crescimento linear,
tipo concentrado. O núcleo antigo (ou histórico), que integra a
Praça da República, desenvolve-se perpendicularmente para N. do
referido eixo e caracteriza-se por um tecido urbano geomorfológico
composto maioritariamente de casario residencial e comercial de
pequenas dimensões, de massa horizontalista, com marcas de
ruralidade, mas também de tipologias diversificadas, essencialmente
na Praça da República, com exemplares de arquitectura religiosa,
civil e militar, e que se constituiu como centro cívico.
Permanência de vestígio da fortaleza medieval patente num arco
quebrado de cantaria.
Intervenção
Realizada
CMSJP: 1996 / 1997 - Reabilitação do
conjunto arquitectónico setecentista da Praça da República, com
comparticipação da Prodouro e da Câmara Municipal, consistindo na
recuperação de estruturas e fachadas, repavimentação, soterramento
de fios eléctricos; 1988 - Estão em curso obras no interior dos
edifícios que integram a praça.