Tudo começou logo após o regresso de Serpa Pinto da sua grande expedição. Pelos relatos, no dia seguinte à chegada do explorador, o capataz da Quinta, de seu nome João das Matas, entrou para a adega e esteve durante toda a manhã a rodar o torno do lagar, apesar de nada haver por baixo e ainda não se estar no tempo das vindimas. O capataz deverá ter estado até meio da tarde, sempre de volta do torno, até desaparecer sem que alguém soubesse do seu paradeiro. A meio da noite, a mulher do capataz saltou da cama com uma premonição azeda e foi encontrar o marido afogado no lago junto ao palacete. A sua cara era negra como a noite.
Depois deste episódio, com os barulhos frequentes a todas as horas do dia e da noite, as suspeitas da maldição começaram a acumular-se e Serpa Pinto mandou construir uma pequena ermida um pouco afastada da casa, num local sobranceiro sobre o rio Douro, pedindo ao bispo de Lamego para que benzesse o local. Estranhamente, durante a cerimónia, o pequeno altar começou a arder e o edifício ficou em ruínas. Ainda nessa noite, uma criada foi encontrada estrangulada pelas lianas de uma árvore em frente ao lago.
Seguiu-se alguma acalmia, sem que algo de anormal ocorresse, até que a morte os visitou de novo. Numa manhã de Natal, o pastor da Quinta foi encontrado dentro de uma mina; tinha sido crucificado. Da maneira como estava, no fundo da mina, era impossível que algo natural o ali colocasse, por nem sequer lá caber, já que a própria cruz estava enterrada nas quatro extremidades. O seu corpo tinha sido cortado superficialmente e o sangue escorria por ele como um rio do inferno. Já na morgue, os sucessivos cortes assemelhavam-se a letras de um idioma que Serpa Pinto reconheceu pertencer a uma tribo africana de onde tinha trazido uma relíquia de um antigo chefe tribal, de seu nome Onujulu. Serpa Pinto estava então certo da maldição e correu para a Quinta a fim saber do paradeiro da relíquia. Contudo, não a encontrou em lado algum, mesmo tendo mandado esvaziar a casa por duas vezes.

“(...) Nós não tìnhamos fazendas, e não sabìamos que fazer diante das exigencias dos selvagens, que teimavam em que tinham sido roubados (…). Dàva-me cuidado não ver o meu muleque Catraio, que comecei a supor teria sido feito prisioneiro, quando elle me appareceu na barraca, com o seu riso intelligente e velhaco, trazendo na mão os meus chronòmetros, que tinha ido á outra margem buscar á minha malla, em quanto os Macalacas nos cercavam e ameaçavam.”
In Como eu atravessei Àfrica vol. II, Serpa Pinto
Sem saber o que fazer, subjugado pelo medo, Serpa Pinto mandou soterrar a mina e passou então parte dos seus dias sozinho. Alguns relatos dizem que ele se fechava num arrumo inferior da casa, junto à capela, aonde ainda agora é possível encontrar dois enormes baús, e passava os dias a estudar maldições e feitiços. Com o tempo, as páginas dos livros, particularmente franceses, foram-se espalhando pelo chão até que o explorador mandou retirar a família da Quinta, iniciando assim o seu abandono.
"(…) Eu parti por um calor de 40 graos centìgrados, n'um terreno arenoso, onde o caminhar era difficil. A febre tirava-me as fôrças, e mais me arrastava do que caminhava. O terreno era coberto de arvorêdo, e elevava-se logo a partir da margem do rio. Depois de cinco horas de marcha lenta e penosa, encontrei um pequeno còrrego, onde pude saciar uma sêde ardente."
In Como eu atravessei Àfrica vol. II, Serpa Pinto
Nas noites solitárias, entre o ranger das árvores moribundas, os habitantes de Boassas, localidade próxima ao Paço, dizem ainda escutar os murmúrios quase imperceptíveis de almas perdidas entre os dois mundos e quase ninguém se atreve a ir até ao local.
Também, e segundo outros habitantes das redondezas, existem relatos no sentido de a relíquia ainda se encontrar no Paço da Serrana, enquanto outros afirmam mesmo que um dos criados de Serpa Pinto, mais conhecedor das intermitências das almas, a escondeu num local recôndito e aí adormeceu a maldição, deixando pistas para que outros pudessem travar o seu mal pelos séculos vindouros.
Talvez por conhecer e temer maldição descrita, a C. M. de Cinfães, actual proprietária da Quinta do Paço da Serrana, mantém-na, infeliz e inexplicavelmente, ao abandono, pela sofreguidão do tempo.

A CACHE
Esta é uma cache que foi inicialmente pensada para ser procurada entre as brumas da noite. Contudo, apenas durante uma visita diurna se pode contemplar de forma adequada a beleza abandonada da Quinta do Paço da Serrana. Assim, optámos por não restringir o acesso e deixar a visita entregue aos gostos de cada um.
Existem, de facto, vários relatos no sentido de a Quinta estar assombrada. É naturalmente uma questão controversa e dogmática mas pedimos aos geocachers para que, previamente, reflictam sobre a sua capacidade em lidar com o ambiente que poderão encontrar. Não devem ir sozinhos à Quinta do Paço e devem ter muito cuidado com a degradação do local. Não arrisquem mais do que devem! Pretende-se que a cache proporcione bons momentos de descoberta. Caso não se sintam à-vontade nos locais, deverão desistir, pois o bem-estar e a segurança estão acima de qualquer estatística.
A história descrita contém pormenores importantes para a descoberta da cache, nomeadamente sobre os locais. Existem vários pontos intermédios, onde obterão pistas e informação sobre como prosseguir.
Prestem particular atenção aos atributos. Devem levar roupa e calçado adequado, sendo certo que se vão sujar e podem ainda molhar-se.
Para que a cache continue a fazer sentido é importante que os geocachers, nos registos, não revelem demasiados pormenores sobre os locais ou os containers. Pede-se ainda aos exploradores para que sejam cuidadosos de forma a não danificaram, ou exporem, os containers.
Esta foi uma cache que nos deu muito prazer a criar. O mesmo apenas será ultrapassado quando a Quinta do Paço da Serrana, uma verdadeira relíquia de História, Património e Natureza seja devidamente recuperada!
Não publiquem fotos dos recipientes e não revelem dados sobre os mesmos!
Desfrutem do local, protegendo o património e a Natureza!
