Ano DCCLXXXVIII , reinado do
reis dos Vikings, Bothvar.
O rei Bothvar ficou conhecido
como o mais benevolente de todos. Iniciou programas anti pobreza e
de distribuição de alimentação em todo o seu reino. Cobrava moedas
de ouro aos cidadãos mais ricos para depois os distribuir pelas
classes mais desfavorecidas. Bothvar era imperialista como todos os
Vikings, mas a sua ousadia de distribuir a riqueza começou a
levantar desconfiança de vários membros da sua corte. O maior
revoltoso contra Bothvar era Torsten, o comandante supremo das
tropas do reino. Há muito que Torsten queria reinar, mas Bothvar,
bastante popular entre o povo sempre se manteve o rei
invicto.
Numa guerra anterior travada nas
terras geladas do norte, Torsten mandou chacinar todos os
habitantes das aldeias conquistadas, menos a congregação de
druidas, que mandou prender e enviar para a capital do reino. Era
de conhecimento popular que os druidas eram humanos com poderes
sobrenaturais. Muitos eram conhecidos por caminhantes, pois
conseguiam atravessar portais.
Um certo dia, quando Torsten
caminhava pelo templo furioso por Bothvar não acatar as suas
sugestões de parar o programa de distribuição de riqueza,
lembrou-se de ir falar com os druidas que tinha presos na
cave.
- Meus senhores, é verdade que
vocês conseguem atravessar portais?
- Torsten, seu cobarde,
desamarra-nos que nós tratamos-te da
saúde…
Torsten caminhou para um dos
druidas, olhou-o de soslaio, pegou no seu machado e fê-lo embater
violentamente na têmpora do druida. Um sob abafado soltou-se da
boca do pobre mago que caiu morto no chão húmido.
- Eu repito, é verdade que
conseguem atravessar portais?
- Sim, é, mas nunca te diríamos
como. Podes nos matar a todos.
Torsten atirou uma saca ao chão.
Milhares de moedas de ouro saltaram de dentro dela. Dirigiu-se
depois a todos os druidas e soltou-lhes as
amarras.
- Se me disserem como lá chego e
se a minha missão é passível de sucesso podem levar essas moedas e
são livres. Se me mentirem, enforcar-vos ei e deixarei as vossas
cabeças em estacas à porta deste templo.
- Qual é a
missão?
- Desejo passar esse portal para
outra realidade e trazer uma pessoa.
- É possível, mas na outra
realidade, a mesma pessoa pode ser alguém completamente diferente.
Torsten, você pode ser um mendigo, e eu posso ser
carapinteiro.
- Onde é esse
portal?
- A norte de Al-Ushbuna.
Eu acompanhá-lo-ei se deixar estes meus irmãos em
liberdade.
- Assim será!
Os druidas olham incrédulos para eles e
recolheram todas as moedas do chão e fugiram.
Torsten e o druida partiram por
mar até Al-Ushbuna. Quando chegaram, o druida
perguntou:
- Quem quer ir buscar à outra
realidade.
- Quero ir buscar o rei Bothvar, seja ele quem
for, trazê-lo para o nosso reino e substituir um pelo outro. Assim,
o povo não se revoltará e serei eu a liderar os destinos do nosso
reino.
|
Ano
2011. As potências mundiais tentam esconder algo que é evidente
para a comunidade científica! Em 2010, um terço da população
mundial morreu devido a uma bactéria multirresistente e
transmissível por via aérea. Albert Cameron, um geneticista de
Harvard que estudou essa bactéria é levado sob escolta até uma base
militar em Sydney, na Austrália, o país que melhor resistiu à
pandemia por causa do seu isolamento.
Dentro
do complexo militar, Albert é conduzido à sala de conferências.
Depois de alguns momentos de espera, entram três indivíduos que
rapidamente se apresentaram:
- O
meu nome é Peter Camus, Presidente do Canadá, estou aqui em
representação do continente Americano e Europeu.
- Eu
sou John Lynch, primeiro ministro Sul Africano, estou em
representação do continente Africano.
- E eu
sou David Carpenter, o primeiro ministro Australiano, e como é
óbvio represento o continente Australiano.
- Sim,
e quem é que vai representar o continente Asiático?
-
Ninguém, eles não sobrevivem até à sua chegada, Albert.
-
Minha chegada? De onde?
-
Antes disso, o que é que nos pode dizer acerca da
bactéria?
- Bem,
presumo que isto tudo seja confidencial, por isso vou contar alguns
segredos da minha investigação. Bem, é uma bactéria intrigante. Não
pode ser definida como gram negativa, nem Gram positiva. O DNA
ribossómico é completamente díspar em relação a todas as bactérias
que vi até hoje, nem sei em que reino a colocaria para lhe dizer a
verdade. Se não soubesse que era impossível diria que, ou vinha de
um lugar inacessível do nosso planeta, ou então de uma outra
realidade. Imaginem, a estrutura das adeninas e timinas são
diferentes das nossas. Encontrei proteínas que lhe permitem ser
aeróbia e anaeróbia, dependendo do ambiente em que está. E mais, o
RNA…
-
Chega doutor! Já sabemos que é uma bactéria diferente das que viu
até hoje. O que nos interessa saber é quanto tempo vai demorar até
uma cura?
-
Anos, se não forem décadas. A dupla cadeia de DNA, consegue sempre
regenerar-se, mesmo depois de lhe injectarmos polimerases não
específicas, e…
- Está
familiarizado com o projecto Paradoxos Paralelos?
-
Não…
- A
sua suposição da origem da bactéria não está errada. Essa bactéria
vem de uma outra realidade. Em Janeiro de 2010, registámos um
súbito aumento de energia no centro de… Portugal, isso
mesmo. Lá encontrámos um homem que veio de outra dimensão. Foi
interrogado por nós e disse que era um físico que estava a tentar
estudar viagens no tempo. Pouco tempo depois, todos os
soldados que o capturaram começaram a morrer. E se você bem se
lembra, foi em Portugal que começou a pandemia.
Assim…
- É
inacreditável! Mas…. Isso explica as variabilidades no
complexo de golgi a capacidade de armazenamento de… Mas,
porque me estão a dizer isto?
-
Porque você vai ter que ir até à dimensão do físico, saber porque é
que ele é imune e depois voltar para aqui com a cura.
- Isso
foi para rir… Porque é que não lhe perguntam isso a
ele?
-
Porque pouco depois de ser capturado fugiu do complexo de
segurança, mas esqueceu-se do dispositivo que lhe colocámos no pé.
Quando fugiu o alerta foi dado, e o dispositivo era um explosivo.
Conclusão, não lhe fizemos as perguntas todas.
O
doutor Albert estava agora pálido e boquiaberto.
- Mas
eu não faço isso. Não quero ir a um universo paralelo. Eu posso
tentar fazer hibridação de DNA com a espécie mais próxima e quem
sabe podemos descobrir a cura em alguns meses.
- Não
temos alguns meses, e mais. Isto não é um convite, é uma ordem.
Outra ordem, é eu dizer ao agente Sanders que pode disparar sobre
uma Rachel e Kate Cameron. Acho que as conhece bem… Se não
estou em erro são respectivamente a sua mulher e
filha…
- Seus
sacanas!
- A
sua missão é simples! Será escoltado até Portugal, onde irá até ao
portal. Lá viaja até à realidade do físico e depois volta com a
cura. Fácil!
|
Ano 2491, 21 de
Setembro. O Sol está a morrer! A transformação desta estrela numa
anã vermelha ameaça engolir a Terra num espaço de 50 a 150 anos. As
previsões científicas que o Sol duraria mais 5 milhões de anos
estavam erradas. Numa tentativa desesperada, o governo mundial
ordena que toda a população embarque em cruzeiros espaciais e
iniciem uma jornada para fora do sistema solar até à estrela TrES-2
na constelação de Draco que tem um planeta habitável. Quando a
ultima nave descolou do quadrante 34, onde em tempos esteve o
continente asiático, Erik Barbosa viu os últimos jactos de
hidrogénio serem expelidos pelos propulsores. Pousou os binóculos,
olhou para o relógio e pensou “Só espero ainda ter tempo! Se
o cientista da WUEC (Worldwide Universe Exploration Center) não me
enganou, o pórtico de salto quântico fica onde em tempos foi
Portugal. “
Já a caminho de Portugal, foi acordado do sono pelo piloto
automático da nave: “Dr. Erik, vou iniciar manobras de
aterragem nas coordenadas fornecidas.” Ele levantou-se da
cadeira e foi tomar um banho, pois não sabia quando voltaria a
tomar um. Entrou no compartimento de banhos da nave e olhou-se ao
espelho, quando uma dor forte na cabeça e uma luz intensa brilhou
ao ponto de sentir os olhos a arder.
“… O
jornal que Erik tinha nas mãos estava datado 19 de Setembro de
2491, Catarina a sua mulher estava com os olhos inchados de tanto
chorar: - Erik, eu fico contigo! – Catarina, lamento, mas não
podes. Todos os que ficarem estão condenados a uma morte cruel,
envenenados por ventos solares, e tu não mereces ficar aqui. Tens
uma vida à tua frente. – Mas eu amo-te Erik! Por favor, pede
ao presidente do governo mundial porra, tu desenhaste as naves em
que todos vão escapar. – Eu também te amo, mas ele foi
peremptório, só eu podia ficar para desactivar o escudo
interplanetário de defesa de asteróides. – Eles que desliguem
das naves! – Catarina, sabes bem que não é possível fazer
isso sem ser na terra. Por muito que te ame, sei que conseguirás
ser feliz em TrES-2. E assim, no dia seguinte Erik despediu-se de
Catarina com o coração despedaçado, mas com o sentimento que não
lhe negou uma vida feliz e próspera. Sabia que a dele seria
monótona se não conseguisse atingir o
pórtico…”
Quando acordou olhou à sua volta e voltou a ver o compartimento de
banhos, lentamente a visão ganhou foco e Erik, tomou o banho mais
reconfortante da vida. Quando aterrou perto do pórtico lembrou-se
das palavras do cientista. – Nesse local não há tempo-espaço,
as coisas não envelhecem, apenas são, existem. São inertes,
confundem-se com o meio envolvente, por isso, o que vires à chegada
è um holograma da realidade.
-OK, a minha missão não é fácil, tenho que saltar pelo multiverso,
entrar numa realidade paralela, encontrar a Catarina daquela
realidade, e trazê-la para aqui. Os 50 anos que restam a este
planeta ainda darão para eu ser feliz…
|