História
A história do concelho da Golegã está profundamente ligada aos dois rios que o percorrem -o Almonda e o Tejo-, à fertilidade célebre dos seus solos, às grandes quintas agrícolas, às cheias, às touradas, aos lazeres reais.
Segundo reza a história, a Golegã, enquanto povoado, teve origem numa estalagem estabelecida no tempo de um dos primeiros reis de Portugal -talvez D. Sancho para acolher gente de passagem de Lisboa para o norte e para se proceder à muda de "cavalgadura", em tão longa jornada. Esta estalagem tudo leva a crer ter sido pertença de uma mulher da Galiza, residente em Santarém. Daí o povoado então nascente se ter chamado de "Venda da Galega", mais tarde Golegã. Esta estalagem estava situada num ponto estratégico e importante, junto à principal estrada real.
No reinado de D. João I já a Golegã tinha grande importância, assim como, mais tarde, no de D. Afonso V, tendo atingido o auge no reinado de D. Manuel. O Lugar de Golegã foi elevado à categoria de vila por carta de D. João III, em 1534.
A par da importância do lugar em que se situava, a região da Golegã detinha uma das maiores riquezas da altura: um solo fértil. A fama das suas terras chamou muito povo a si, assim como grandes agricultores e criadores de cavalos. Desde os tempos mais remotos vêm alusões à região, de que é exemplo a importantíssima Quinta da Cardiga que, em 1169, fora doada por D. Afonso I à ordem do Templo para arroteamento e cultivo. De século para século foi a mesma sendo doada a outras ordens e, a partir do séc. XIX, comprada por diversos grandes agricultores.
Em meados do Séc. XVIII surge, essencialmente ligada à criação de cavalos e à necessidade de venda de produtos agrícolas da região, a Feira de S. Martinho. A partir de 1833, e com o apoio dado pelo Marquês de Pombal, a feira começou a tomar um importante cariz competitivo. Começaram a realizar-se concursos hípicos e diversas competições de raças. Os melhores criadores de cavalos concentravam-se então na Golegã.
Quando no reinado de D. Maria I se construiu a estrada ligando Lisboa ao norte por Leiria e Pombal, a Golegã decaiu bastante, tendo-se recomposto somente mais tarde, no séc. XIX, com base na valorizarão agrária da região. Para esta "reconstituição" da importância da Golegã muito contribuíram as figuras de dois grandes agricultores e estadistas: Carlos Relvas, fidalgo da Casa Real, grande amigo do Rei, comendador, lavrador, artista, proprietário de diversos estabelecimentos agrícolas e de dois palácios (onde por várias vezes hospedou a família real), e José Relvas, seu filho, democrata imensamente ligado à causa republicana, ministro das finanças e também um grande artista.
Profundamente liberal, a Golegã esteve ligada às lutas entre D. Pedro e D. Miguel e à implantação da República. Como quase todas as vilas deste país, sofreu as acções de pilhagem e saque das tropas invasoras francesas.
A segunda freguesia deste concelho, a Azinhaga, remonta ao período da dominação árabe. O seu nome vem, provavelmente, de "Azenha", que significa, em árabe, "apertar", "estreitar", ou ainda "Zenagga", que quer dizer, também em árabe, "muitas azinheiras juntas". Antes da fundação de Portugal era conhecida por Santa Maria do Almonda. Teve foral no reinado de D. Sancho II.
Fertilizada pelas águas do Almonda, as terras de Azinhaga são também as mais directas responsáveis pela importância da região. Doadas como "prémio" a diversas ordens e à nobreza deste reino, aqui se foram fundando e desenvolvendo importantes quintas, como a "Boquilobo" e a "Brôa".
A Azinhaga foi vila independente no reinado de D. José IV. Até 1895 pertenceu a Santarém, data a partir da qual passou a pertencer ao concelho da Golegã.
Intimamente ligada à história da Golegã estão os seus grandes lavradores, quintas e ganadarias e, com eles, um imenso povo assalariado. A par da grande riqueza, a realidade de uma população que conheceu a fome e a pobreza: " (...) Um concelho rico de terra fértil, somente agrícola, e os seus habitantes pobres; mas pobres de facto porque raro é aquele que possua quatro paredes a que possa chamar sua casa.(...) Terra rica, gente pobre, um paradoxo, corolário das más funções do regime de propriedade especialmente da sua exploração, entregue a rendeiros, mercenários da lavoura, que tornam as condições de vida económica e social insuperáveis perante a razão das coisas"
Geografia
Composto pelas freguesias de AZINHAGA e GOLEGÃ, o concelho da Golegã é limitado a Norte pelos concelhos de Torres Novas e Vila Nova da Barquinha, a Sul pelos concelhos de Chamusca e Santarém, a Oeste por este último e a Este pelo concelho da Chamusca. Está situado de montante para jusante na margem direita do Rio Tejo, de que dista apenas 1 Km e tem uma área total de 73,4Km2 ( cerca de 1,1% do distrito).
O concelho é constituído dominantemente pelas formações da era quaternária do período holocénico, que inclui todos os bons alaviões, mais conhecidos por terras de "campo" - cerca de 4292 há (56,9% da sua área total). A zona dos aluviões mais férteis situa-se a norte da estrada nacional Golegã-Azinhaga, encontrando-se a zona menos fértil entre Alverca do Campo e o Rio Tejo. É nesta zona que é plantada a vinha e os pomares, e ainda 3000 ha de alaviões propícios à cultura dos cereais.
Atravessado pelo Rio Almonda e limitado a leste, em todo o seu comprimento, pelo Rio Tejo, o concelho da Golegã conheceu, toda a sua vida, o "fenómeno das cheias" e a elas deve o seu conhecido nome, bem caracterizado pela imensa fertilidade dos seus campos.
Em grandes cheias, o Tejo cresce para o Almonda banhando todos os campos da Azinhaga, cortando vias de comunicação, incluindo o Dique dos Vinte. O problema do escoamento das águas do Almonda é difícil, quer pela forma péssima como fez a sua inserção no Tejo quer por ter o seu leito a cota inferior à deste rio. A povoação da Azinhaga, se não houvesse o dique de S. João, ficaria praticamente inundada em tempos de grandes cheias.
Segundo a monografia do "Plano de Regularização do Rio Tejo" (do MOP - 1980), prevê-se o desvio do Rio Almonda para o Alviela, a partir de uma secção no Paúl do Boquilobo, e, além da defesa das margens e campos marginais, inclui-se o enxugo e a rega dos campos protegidos, assim como a protecção do Paúl do Boquilobo, considerada reserva ornitológica.
Património Construído
Igreja Matriz - Monumento Nacional. Igreja do século XVI. Notável pórtico Manuelino da autoria de Mestre Boitaca. No seu interior painéis de azulejos do século XVIII. - Golegã.
Pelourinho da Golegã - I.I.P. - Assenta numa plataforma definida por três degraus. Tem fuste liso encimado por capitel que suporta um fogaréu lavrado. - Golegã.
Capela de S. José - I.I.P. - Foi mandada construir por Gaspar Serrão, no século XVII, para capela do solar. Realce para a relação e boa conjugação entre a azulejaria do século XVII e os elementos arquitectónicos. Evidencia-se o púlpito, o arco triunfal e as pinturas dos caixotões no tecto. - Azinhaga.
Igreja da Misericórdia - Igreja do século XVII. Possui um belo revestimento de azulejos de tapete do século XVII. - Golegã.
Quinta da Cardiga - I.I.P. - Monumental quinta situada junto ao Tejo e que pertenceu aos Templários e Ordem de Cristo. Preserva elementos quinhentistas (portal manuelino) e azulejos seiscentistas e setecentistas. - Golegã.
Património Natural
Reserva Natural do Paúl de Boquilobo
A visitar
Igreja Matriz da Golegã - Golegã
Igreja da Misericórdia - Golegã
Capela de S. José - Azinhaga
Pelourinho da Golegã - Golegã
Quinta da Cardiga - Golegã
Reserva Natural do Paúl de Boquilobo
Museu Municipal de Fotografia de Carlos Relvas - Golegã
Museu Municipal de Pintura e Escultura Martins Correia - Golegã
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