Os entrevistados variaram desde as pessoas que trabalhavam no estúdio, como o porteiro ou a empregada das limpezas, até outras estrelas da música como Paul MacCartney, cujo diálogo, ironicamente, acabou por não ser incluído em alguma música. Importa aqui referir que, na altura, o ex-membro dos
Beatles era provavelmente a pessoa mais reconhecida no mundo da música e os Pink Floyd eram uma banda ainda
underground, como insistiam em afirmar-se. Segue-se a música
Breathe, tornando-se notório que a fase inicial de
Dark side of the moon corresponderá ao início da vida, onde ainda não existem problemas e tudo é encarado com uma inocência natural.
“For long you live and high you fly
And smiles you`ll give and tears you`ll cry
And all you touch and all you see
Is all your live will ever be (…)”
Mas cedo a sombra da lua começa a fazer-se notar. On the run é a música mais vanguardista do álbum. A faixa é composta basicamente por uma sequência de notas tocada num sintetizador, e repetida diversas vezes com a adição de vários efeitos e de várias colagens. É considerada por muitos como a primeira música electrónica do mundo, prevendo o estilo musical que viria depois.
Segue-se
Time, que é aquela que tem, para mim, a melhor letra do álbum. A música aborda a relevância que damos a diferentes aspectos da nossa vida e a forma como isso acaba por precipitar o "nosso" tempo numa esperança fugidia.
Time tornou-se numa das imagens de marca do álbum e da banda, pelo famoso início com a mistura de sons do tic-tac dos relógios. Ainda nesta música, começa a observar-se o génio de David Gilmour com a guitarra.
Pegando numa composição de Richard Wright, a inconfundível voz de Clare Torry transformou, de improviso, The great gig in the sky num grito de loucura face à contemplação do negro abismo da morte. Face a esta inevitabilidade, a única coisa que apetece fazer é gritar de inconformismo pela nossa pequenez. Cinzas e sombras.
“And i am not afraid of dying. Any time will do; I don't mind. Why should I be afraid of dying? There's no reason for it - you've gotta go sometime.”
Money é provavelmente a faixa mais completa do álbum e é a melhor em termos instrumentais. A música aborda o consumismo fútil e, ironicamente, acabou por tornar-se no maior sucesso comercial do álbum. O som da caixa registadora ficou também como uma das imagens de marca de
Dark Side of the Moon. Confesso que quando escuto esta música começo de imediato a bater com o pé no chão ou a simular o toque da bateria. Tem um ritmo fantástico. De referir ainda e novamente a perícia de David Gilmour com a guitarra.
Any Colour You Like é outra faixa instrumental, que une sintetizadores e a guitarra de David Gilmour. O título é uma referência a uma frase de Henry Ford, fundador da marca de automóveis com o mesmo nome, que afirmou sobre o automóvel Modelo T, considerado como o primeiro da produção em série: “you can have it in
any colour you like, as long as it’s black”. Mais tarde, os Pink Floyd haveriam de voltar a abordar o tema da perda da individualidade, mas associado à educação, em Another brick in the wall.
A loucura passa por Brain Damage, naquela que é, provavelmente, a mais inspirada em Syd Barret:
“There's someone in my head but it's not me. (…)”
O álbum termina com a faixa Ecplise, uma espécie de resumo da vida. Se o álbum for uma viagem, esta música representa a eminência do fim. Um relance em que percebemos tudo o que fomos, o que somos e o que seremos. O último fôlego antes do abismo desconhecido. Uma vida guiada pelo sol mas coberta pela lua, sendo que não se pode escapar ao seu lado mais negro. O ponto alto do álbum ocorre, na minha opinião, nesta faixa. Já depois de a parte instrumental da música ter terminado, ouve-se:
“There is no dark side of the moon really. Matter of fact it’s all dark”
A autoria desta enigmática frase pertence ao porteiro do estúdio e fecha o álbum com a certeza que, para lá de todas as condicionantes referidas, viver é perder, sendo que é impossível escapar a esse destino. De certa forma, a conclusão do álbum reflecte a ideia que a linha que separa o bem do mal é muito mais ténue do que possamos imaginar e, no limite, nem sequer poderá existir; nós é que insistimos em dividir o mundo em pólos distintos, entre o céu e o inferno, talvez como forma justificar a nossa própria natureza.
A CACHE
Sendo Dark Side of the Moon uma viagem entre alguns dos aspetos mais negros da humanidade, para esta cache poderão fazer uma viagem pelas serranias da vossa vida, onde por certo terão a possibilidade de refletir sobre as mesmas vicissitudes que as músicas abordam. E não tenham dúvidas, esta será uma viagem difícil.
A nossa proposta é a realização do Trilho Maia. Apesar de o nome não ser oficial, e seguindo a sugestão de um outro grupo de caminheiros, julgamos que se adequa perfeitamente ao que irão enfrentar no terreno. Tal como poderão ver na figura abaixo, para esta cache irão fazer um percurso que passa pelas Aldeias de Magaio (Covas do Rio, Covas do Monte e Aldeia da Pena), sendo que a palavra Magaio deriva de um antigo nome atribuído ao monte de S. Macário. Ao clicarem sobre a imagem poderão obter mais informações e descarregar o track que usámos e recomendamos. Nesta abordagem, a dificuldade de terreno sobe para 4,5.
Devem iniciar o percurso em Covas do Rio e seguir até Covas do Monte. Daí subirão pela encosta do Portal do Inferno, seguindo depois até descerem para a Aldeia da Pena, sendo que posteriormente irão fazer o Caminho Onde o Morto Matou o Vivo até Covas do Rio. Como poderão constatar alguns temas do álbum começam a adequar-se à viagem. Na idealização da cache optámos por torná-la mais eclética e acessível, pelo que se não se sentirem capazes de realizar os quase 17 km do percurso, aconselhamos que façam apenas o Caminho Onde o Morto Matou o Vivo, seguindo de Covas do Rio em direção à Aldeia da Pena. Em alternativa, poderão fazer o mesmo Caminho mas no sentido inverso, saindo da Pena.
Na versão que aconselhamos, saindo de Covas do Rio, irão percorrer um caminho rural que passa por algumas linhas de água, iniciando depois a subida para o estradão que segue para Covas do Monte. A paisagem começa então a alterar-se, à medida que subirem a encosta, sendo que se vai ficando cada vez mais pequeno na imensidão da serra.
À medida que as fragas se adensam, eis que surge a imagem de Covas do Monte, encravada no sopé da montanha, com os campos verdejantes e os gritos dos pastores daquele que é o maior rebanho comunitário de Portugal. A partir da aldeia, deverão subir a encosta do Portal do Inferno, acompanhando um trilho que sobe a ribeira. Existe sempre trilho, pelo que não precisarão de fazer corta-mato. Esta é efetivamente a parte mais difícil do percurso. Quando se encontrarem lá em baixo, ladeados pelas escarpas, apenas poderão seguir para a frente ou para trás. É nesta parte que o nome Trilho Maia vai começar a fazer sentido. Como o percurso acompanha uma ribeira, irão encontrar várias quedas de água e cascatas, que poderão ser mais ou menos espetaculares dependendo da altura em que lá forem. Aconselhamos a primavera ou o outono.
E eis que, depois de uma grande subida, alcançarão o asfalto. Sigam, pois a Aldeia da Pena espera-vos. Se preferirem sentir a terra nos pés, podem sempre fazer desvios do asfalto, sendo que na aproximação à Aldeia devem retomar o trilho.
Depois de uma visita à Pena, surgirá o Caminho Onde o Morto Matou o Vivo, que vos levará de novo a Covas do Rio. O nome terá origem num episódio duplamente infeliz. Devido ao facto de na Aldeia da Pena não existir cemitério, os habitantes tinham que levar os defuntos para a aldeia vizinha. Certo dia, no percurso, e como o mesmo é muito íngreme, um homem escorregou e o caixão caiu-lhe em cima, matando-o. O container encontra-se precisamente onde aconteceu o acidente. Esta é a parte mais espetacular do percurso. A vegetação é muito luxuriante e o trilho acompanha o ribeiro, que vai descendo em cascatas. .
Dada a dificuldade do percurso, aconselha-se naturalmente alguma experiência em caminhadas. Levem água, roupa e calçado adequado. Apesar de puderem ter o tempo demorado como referência, devem adequá-lo à vossa condição física e não se esqueçam que este é um trilho de montanha, sendo que para lá da distância existem outras variáveis importantes. Existe sempre trilho, pelo que não precisarão de fazer corta-mato.
Desfrutem do percurso, protegendo a Natureza!