Historial
A literatura referente às nascentes da bacia da Ribeira de Alpreade (Touca, Alpreade e Bacelos) é um pouco confusa. Tavares (1810) escreveu que “ a Leste de Castelo Novo, […] junto aos Casais de Zebras e do monte do mesmo nome, há uma fonte que denominam de Santa, que é sulfúrea fria; de cuja água se servem os pastores para curar da sarna o gado e cães, lavando-os; e é provável que, assim como as suas semelhantes, possa utilizar em bebida e em banho quente, aos enfermos que necessitam de um tal auxílio”.
Mas Tavares, na mesma obra, cita outra nascente, denominando-a de Alpreada: 'Três léguas distantes de Castelo Branco, na falda da Serra da Ribeira chamada de Alpreada nascem umas águas sulfúreas frias de que pode fazer-se uso proveitoso em bebida e em banho, procurando-se para esses fins as comodidades que somente podem aproveitar os vizinhos do sítio. “
Lopes (1892) também não ajuda a esclarecer a localização desta nascentes: 'Nas cercanias de Alpedrinha ficam três nascentes de águas minero-medicinais […] Alpreade, Zebras ou Fonte das Virtudes, junto da margem esquerda da ribeira de Alpreade, na falda de um monte a 2 km dos lugares de Zebras e Vale de Touro”, e a terceira no Monte das Toucas.
O texto de Acciaiuoli (1944) é uma repetição do texto de Lopes (1892).
As dúvidas continuam na leitura do texto de Dias (1951): “A fonte de Alpreada ou das Virtudes fica na margem esquerda duma ribeira que nascendo na Serra da Gardunha, perto de Castelo Novo (antiga Alpreada), corre entre os lugares de Zebras e Vale da Torre, e vai desaguar no rio Ponsul, no sítio de Belgaios. A fonte nasce entre estas povoações […] A fonte dos Bacellos, seria de menos importância, mas igualmente de água sulfúrea fria, como a anterior, e a da Touca, e com idênticas aplicações.
No Mapa de Calado (1995) aparece marcada uma nascente com a denominação “Fonte Santa de Alpreade', mas a escala do mapa não permite a sua localização exacta.
As dúvidas foram esclarecidas quando da visita a Zebras por um casal de moradores: 'Era umas termas antigamente, agora não. Mas aquela água cura mesmo. A essa é que chamam a Fonte Santa. Fica na ribeira de Alpreade, mesmo à beira da ribeira.'
Quanto à nascente de Zebras ou de Bacelos, o esclarecimento da sua localização também foi relacionado: 'É ali no ribeiro, mas é só de Verão. É dentro do ribeiro. Também é enxofrada. Agora passam a ponte grande e depois há outra mais pequena, há lá uns eucaliptos, é mesmo aí, no ribeiro.' É esta a nascente que se localiza entre Zebras e Vale da Torre.
Segundo os informantes, os banhos deixaram de funcionar há 10 anos, mas as ruínas do local denotam um desuso mais antigo. Há 10 anos faleceu o proprietário, Sr. José Luís, de São Miguel de Acha, e os herdeiros venderam a propriedade a um senhor da Lardosa, freguesia vizinha mas já no concelho de Castelo Branco, cuja divisão é feita pelo ribeiro de Alpreade. Este senhor terá pretendido passar a exploração termal para o outro lado da Ribeira, para território do concelho de Castelo Brancos o que não terá sido bem visto pela autarquia do Fundão: 'Mas aquilo tanto fica no concelho do Fundão como no de Castelo Branco. Ele queria fazer as termas do outro lado, mas os de cá não deixaram.' (informante).
Indicações
Reumatismo e dermatoses (Correia, 1922). Era sobretudo usada em banhos para o reumatismo (segundo os informantes de Zebras), sendo que para males de pele eram preferidas as águas das termas da Touca.
Tratamentos/ caracterização de utentes
'H- Uma madrinha minha estava «quinheta» de todo, fez os banhos e ficou bem. Tinha reumático. Curou-se lá muita gente. Fui lá buscar água para manchas do corpo. Aquilo tira tudo…
M – A mãe do médico, ele é ortopedista no Hospital Amadora-Sintra, e a mãe curou-se aqui do reumático com os banhos, ia para lá.' (diálogo com casal em Zebras)
Instalações/ património construído e ambiental
O balneário foi construído junto de um antigo moinho e da respectiva casa de exploração agrícola, um pouco para jusante destas construções. Encontra-se em estado de ruína. Os três primeiros corpos da construção serviam a alojamento dos aquistas, seguindo-se o balneário, de 9x4 m, onde, no meio das ruínas, são ainda visíveis duas banheiras. Seguindo 30 m para jusante encontra-se o afloramento granítico, onde, de duas bicas, corre a água sulfúrea fria, que seria transportada para um tanque que se encontra junto do balneário. No local encontram-se ainda dois fornos e no murete voltado para a ribeira, bancos para descanso dos aquistas.
Actualmente os banhos formam uma pequena propriedade cercada por propriedades da Portucel: 'Aquilo está no meio da Portucel, era da casa Caldeira que vendeu tudo à Portucel. Só que aquilo com os eucaliptos está quase seco, as raízes dos eucaliptos tiram a água, foi a Portucel que plantou os eucaliptos. Agora corre bem, o que dá é só um fiozito.'
Alojamentos
Eram três os corpos ou divisões de alojamento, cada com uma área aproximada de 18 m2 cada. No interior não resta nenhum tipo de mobiliário, e muito provavelmente os aquistas acampavam lá dentro.
Natureza
Sulfúrea sódica (Calado, 1992)
Sulfidricadas frias (Correia, 1922)
'Sai fria mas é ferranha, é amarela, aquilo para beber não presta, um caçador foi lá beber água e apanhou uma dor de barriga.' (informante)
'H - É muito forte, se a gente a puser na boca tem de a deitar fora…
M - É ferranha.
H - É forte e bem forte, aquilo parece ácido.
H - Não é a mesma água das da Touca, esta é mais forte.
M - As da Touca é mais para a pele, esta cura tudo' (diálogo com casal em Zebras).
Source: http://www.aguas.ics.ul.pt/castelobranco_alpreade.html#historial
|