Em Portugal, montado de sobro representa cerca de 21% da área florestal e é responsável pela produção de mais de 50% da cortiça consumida em todo o mundo. Predominante arborizado pela espécie Quercus, o montado apresenta grandes extensões de azinheiras (Quercus Retundifolia), pequenas áreas de carvalho negral (Quercus Pyrenaica) e, sobretudo, de sobreiros (Quercus Suber L). De toda a flora do montado, o sobreiro é o espécimen mais numeroso, estando disseminado por todo o país, do Minho ao Algarve, exclusão feita às zonas mais adversas de Trás-os-Montes e os mais frios cumes e vertentes do norte de Portugal. Existem ainda pequenos bosques que são considerados reservas ecológicas como a da Serra do Gerês e de Bornes, mas também a das Serras da Estrela, Marão, Lousã, Gardunha e Caramulo.No entanto, é costume associar o sobreiro à paisagem alentejana, onde de facto, subsiste em grandes concentrações. Devido ao escasso povoamento desta região, a sua sobrevivência foi mais fácil, embora também tenha sofrido 'baixas' nas guerras peninsulares que marcaram a expansão territorial portuguesa durante sete séculos. Só a partir do século XVIII, com o início da exploração da cortiça, é que se começou a olhar o sobreiro com o respeito sentido e devido a uma das árvores mais características de Portugal. Foi durante esta época que foram introduzidas técnicas de desbaste seletivo e de baixa densidade da zona arborizada para aproveitamento dos solos para a prática agrícola. Graças a estas iniciativas, no final do século XIX,os sobreirais portugueses eram considerados os mais bem tratados do mundo. Árvores frondosas e imponentes, os sobreiros podem por vezes chegar aos vinte e cinco metros e viver até aos trezentos anos, nunca deixando de servir quem os rodeia: as populações que periodicamente as despem dessa sua casca tão especial, caso único entre as cascas de outras árvores, e que as protege tanto das mais gélidas invernias como dos frequentes incêndios que marcam os verões secos e escaldantes que caracterizam as regiões mediterrânicas. É este tecido vegetal que continua a surpreender a comunidade científica pela polivalência das suas qualidades, que resguarda do fogo as partes vitais da árvore, permitindo a sua renovação, num ciclo de vida que atravessa gerações e que assegura a sustentabilidade ambiental, já que todos os descortiçamentos (ou tiradas) são exercidos de forma manual e cuidadosa, para não causar qualquer dano ao sobreiro ou ao meio envolvente. A capacidade de regeneração desta árvore é tal, que mesmo sem serem utilizados herbicidas químicos, fertilizantes ou irrigação, durante os nove anos que separam cada tirada, a casca volta a nascer e a cortiça fica pronta para ser de novo recolhida.Nestas florestas de rara beleza, Homens e animais convivem serenamente, como sempre conviveram desde que, em tempos longínquos, o Homem se apercebeu do muito que o sobreiro tinha para oferecer para além da sua cortiça. Ainda hoje caça nos seus bosques, apanha o mel dos seus cortiços, os cogumelos que crescem em abundância na base dos troncos, usa a sua lenha para combustível e os seus frutos, as bolotas, como alimento para os seus rebanhos. É também o crescente plantio do montado de sobro que impede a desertificação do sul de Portugal, uma região seca, árida e de terrenos arenosos, pois ajuda a reduzir a erosão dos solos e assegura a subsistência das suas populações.
“Quem se preocupa com os seus netos, planta um sobreiro”. É este velho mas sábio ditado popular que os pais insistem em transmitir aos seus filhos. As gentes da terra sabem que o seu futuro e o dos seus descendentes passa não só pela exploração da cortiça e o fabrico de rolhas, como pela manutenção da riquíssima biodiversidade ambiental do montado e até do equilíbrio do próprio clima. Além da capacidade de produção de oxigénio, uma característica comum a todas as árvores, o sobreiro possui uma estrutura celular única e muito particular, que o torna capaz de reter o dióxido de carbono, o principal responsável pelo aquecimento global do planeta
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