As rodas eram cilindros de madeira giratórios com uma grande cavidade lateral que se colocavam junto às portarias dos conventos. As rodas existiam sobretudo nos mosteiros de clausura mas também em alguns conventos e ermidas. Inicialmente serviam de meio de comunicação entre o interior e o exterior das instituições religiosas sem que houvesse qualquer tipo de contacto visual.
Mais tarde começaram a ser usadas para colocar (ou expor, na linguagem da época), crianças enjeitadas ou fruto de ligações “inconvenientes”. A portadora do enjeitado, não tinha mais do que depositá-lo na roda e fazer girar esta meia volta, no interior, a rodeira, em serviço permanente, recebia a criança sem poder ver quem a trazia. Assim, a entrega fazia-se nas melhores condições de anonimato.
Inicialmente confinadas às misericórdias dos grandes centros urbanos, as Rodas foram se difundindo por outras cidades, como se verificou em Braga e Viana do Castelo. De tanto ser usada, a roda acabou por se tornar legítima e a receber a designação oficial de Roda dos Expostos ou Enjeitados. Assim sendo, e por ordem-circular de 10 de Maio de 1783, o intendente da polícia do reino ordenou a todos os provedores para estabelecerem nas terras das suas comarcas uma casa com um lugar próprio onde se pudessem expor crianças, com o objectivo de pôr fim ao infanticídio e acabar com o horroroso comércio ilegal de crianças na raia, onde os espanhóis as vinham comprar.
Por vezes as mães dos enjeitados deixavam algumas marcas identificativas (fitinhas, medalhas, notas), a fim de, um dia mais tarde, os poderem recuperar.
Seguem algumas notas retiradas do livro do registo dos expostos de Vila nova de Cerveira:
Dia 3 de Fevereiro de 1862 – «Senhora Rodeira: Porá o nome a esta criança, se for menina Amélia das Dores e se for menino ponha-lhe Joze Joaquim e pedirá à família do Pedreira para serem padrinhos pois será procurada».
Dia 15 de Julho de 1851 – “Botaçe este Menino a Roda por sertas sircunstançias quero que se chame Joze Joaquim. Botaçe no dia 15 de Julho de 1851. Isto he porque a todo tempo que procurar por ele quero saver aonde está».
O local da Cache
Foi precisamente neste local que funcionou, até meados do século XIX, a roda dos enjeitados de Vila Nova de Cerveira. A Ermida de S. Miguel serviu durante longos anos de local de recolha de crianças enjeitadas.
Com o aumento da Vila, a Ermida e grande parte da muralha foram destruídas. Actualmente, o local da roda está patente no nome do largo – Largo Anjo da Guarda.