TESOURO INQUISITÓRIO PATRIMONIAL
Não há dúvida que Trancoso mereceu logo no início o interesse dos inquisidores, se localizou um dos mais importantes focos de irradiação do messianismo judaico, processos da Inquisição de meados do século XVI.
Os processos da Inquisição, pertencentes à primeira entrada do tribunal em Trancoso, mostram-nos uma comunidade populosa. Se pensarmos que só Duarte Gonçalves denunciou cerca de cento e quarenta famílias, directa ou indirectamente, podemos calcular que estamos perante uma comunidade com cerca de 700 pessoas, ora, esses novos cristãos, feitos à força pagavam mas os fundos nunca chegaram onde se pretendia. Eis que a Inquisição entra em força pela Vila, pela mão de Duarte Gonçalves.
Por essa altura, avistada a comitiva, espalhou-se pela Vila a drástica notícia do perigo que se avizinhava, ora, sabendo-se que para além das torturas físicas todo o património financeiro seria tomado de assalto, de sobreaviso, foi entregue a Gonçalo Roiz, fiel depositário e servidor do Alcaide D. Gonçalo Coutinho, a seu mando conta-se ter sido avistado a sair a cavalo pela porta de trás e se fora à aldeia do Alcaide a uma azenha onde esteve alguns dias, onde supostamente permaneceria até o prior lhe dizer que podia vir seguro, algo que nunca aconteceu pois havia desaparecido, ao que tudo indica para terras da vizinha Espanha. Já a fortuna em sua posse, ao que tudo indica a havia deixado escondida no dito local, descrita num documento com a sua localização, tendo sido deixada gravada sobre um pedaço de granito discretamente escondido na azenha, para que o seu Senhor pudesse recuperar os seus bens e os de todos quantos lhos haviam confiado.
Esta cache, leva a esse mesmo local, proporcionando uma busca do “tesouro” num local quase paradisíaco, onde ainda hoje as azenhas estão presentes e onde na aldeia, algumas casas fundeadas a vidro permitem vislumbrar a passagem das límpidas águas da ribeira que se direcciona para a ponte românica.
Basta então decifrar a mensagem gravada e partir em busca do “tesouro” ancestral perdido no tempo mas não na memória visual deste local que certamente será do agrado de todos quantos o visitem.
(adaptado das Actas das 1ª Jornadas do Património Judaico da Beira Interior – 2008)
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