O método de separação da cortiça da árvore permaneceu quase inalterável até aos nossos dias. A extração é feita por um grupo de tiradores (ranchos), cujas equipas possuem uma estrutura muito particular e tradicional que envolve um capataz que coordena o trabalho, um grupo que se encarrega da extração propriamente dita, um outro, responsável pelo carregamento, e um outro pelo empilhamento da cortiça no campo. Os homens trazem uma escada e um machado manual com o qual vão cortando a cortiça por meio de golpes, segundo dois métodos alternativos: a “pau batido”, quando toda a cortiça do sobreiro é extraída de uma só vez; “a meças”, quando a cortiça é extraída em várias partes. Como este segundo método tem tendência a provocar um número relativamente grande de lesões no entrecasco e um maior descortiçamento, a sua utilização está restringida por lei, estando proibida a extração por “meças” a partir do ano 2030. A tiragem das pranchas exige da parte dos trabalhadores muita perícia, equilíbrio e destreza física. As pranchas são cortadas e retiradas com o auxílio de machados e o tronco da árvore não pode ser “ferido” sob pena dos sobreiros poderem vir a secar. É um trabalho manual em que arte e conhecimento se aliam. As mãos hábeis feitas de saberes ancestrais despem as árvores centenárias das suas roupagens, tecidas pacientemente durante nove anos. As mulheres complementam a atividade dos homens, apanhando e juntando-a em montes, que depois carregam no reboque do trator, enquanto que antigamente o transporte era feito por uma parelha de mulas. Uma das mulheres é destacada para fazer o almoço, assumindo a função de cozinheira. Esta era uma situação obrigatória noutras épocas mas que atualmente é pouco praticada. A cozinheira acende pela manhã um grande lume no chão recorrendo a lenhas que existem ao redor. À volta do lume coloca as típicas panelinhas de barro que cada trabalhador traz já preparada de casa. Depois de almoço as cozinheiras, poderão finalmente dedicar-se ao desempenho de outro tipo de funções. O descortiçamento envolve ainda funções de “molheiro”, desempenhadas também por homens, consistindo em empilhar a cortiça em forma de paralelepípedo regular, para no final calculando a medida do volume se possa encontrar o peso não havendo necessidade de pesar a cortiça para negociar a sua venda.
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