Igreja Paroquial de Gondarém
Descritor tipológico
*ARQUITECTURA RELIGIOSA *RENASCIMENTO-MANEIRISMO
*ESCULTURA EM MADEIRA E ORGÃOS *OBRA EM TALHA
*NICHOS, ORATÓRIOS E ALMINHAS
*ESCULTURA EM PEDRA
Cronologia
Século XVI (igreja) e século XVIII (talha)
Estado de Conservação
Nível 3 (em relativo bom estado de conservação)
A confirmar condição actual
Classificação de protecção
Sem classificação
Utilização inicial
Igreja Paroquial
Utilização actual
Igreja Paroquial
História
Na relação das igrejas pertencentes ao bispado de Tui e constante de documento existente no Arquivo Nacional/Torre do Tombo datado de 1258-1259 consta a ‘Ecclesia de Mangueiro’ (Costa, 1981: 160). Segundo alguns autores teria sido a primitiva igreja de Gondarém.
Em 1320, uma concessão papal concedeu a D. Dinis a faculdade de receber, durante três anos, as contribuições das igrejas do reino para a guerra contra os Muçulmanos. A igreja de S. Pedro de Mangueiro foi taxada em 75 libras. No respectivo arrolamento estava adstrita ao ‘Arquidiaconato de Cerveira’ (idem, ibidem: 164).
Com o Grande Cisma do Ocidente (1378-1417) e a decisão do Cabido de Tui em passar a obedecer ao papa de Avinhão, as igrejas do território entre Lima e Minho ficam sujeitas a uma administração eclesiástica independente com sede na igreja de Santo Estêvão de Valença (ver ficha Igreja da Colegiada de Santo Estêvão ).
Por bula do papa Eugénio IV de 14-VII-1444 e a pedido do regente D. Pedro, a administração de Valença foi definitivamente desmembrada do bispado de Tui e anexa à diocese de Ceuta (idem, ibidem: 132-133).
Em 1512, o Arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa, obteve de D. Henrique, bispo de Ceuta, a comarca eclesiástica de Valença dando-lhe em troca a de Olivença, permuta que foi aprovada em 1513 pelo Papa Leão X (idem, ibidem: 145). A igreja de S. Pedro de Mangueiro ficou a ser administrada pelo arcebispado de Braga.
No Censual de D. Diogo de Sousa (1514-1532), S. Pedro de Mangueiro encontra-se avaliada em 714 réis e 7 pretos (Idem, ibidem: 188).
Pelo Memorial de D. Manuel de Sousa feito em 1545-1549 por Rui Fagundes, vigário da Comarca de Valença, a igreja de S. Pedro de Mangueiro foi lhe atribuído o rendimento de 70.000 réis e estava adstrita à Terra de Vila Nova de Cerveira (idem, ibidem: 196).
Entretanto constrói-se uma nova igreja, a actual paroquial, mais ampla podendo albergar maior número de fiéis. Existe uma inscrição gótica entre arcos da nave central que remete para a data da construção:
"ESTA OBRA F/EZ GO GO(NCALVES?) NO ANO DE / MIL E QUINIE/TOS R I ANO".
segundo leitura de Alexandra Lima e Paulo Amaral ( Lima, e Amaral, 1998).
Numa coluna da nave lateral (Epístola) acha-se inscrita a data 1559 e uma mísula da capela-mor está datada de 1565.
O Censual de D. Frei Baltazar Limpo, refere que S. Pedro de Mangueiro está ‘partido em duas partes, a sem cura hé do arcebispo e a com cura de padroeiros leiguos’. (Costa, 1981: 222). Seriam correspondentes à antiga igreja e à nova.
Nas ‘Memórias Paroquiais’ de 1758 esclarece-se a questão do padroado: ‘esta abbadia hé de donatário secular da caza de Vertiandos, termo de Ponte de Lima, da qual hé ao prezente administrador Damiam Pereira’ (Capela, 2005: 485).
Damião Pereira da Silva e Sousa e Meneses foi o 10º administrador do 1º vínculo de Bertiandos e ao casar com a 9ª Morgada do 2º vínculo, D. Maria Angelina Senhorinha José Juste Pereira Forjaz de Eça Montenegro, reuniu num só o vínculo familiar que se encontrava dividido (in site www.monumentos.pt Ficha PT011607080024).
A esta família pertence a pedra tumular existente na capela-mor da igreja de Gondarém (Guerreiro, 1999:100).
Descrição
Com um enquadramento rural, esta igreja dispõe de adro e espaço envolvente elevados em plataforma acedida por escadaria ortogonal granítica; é construída em cantaria autoportante de granito aparente excepto a torre, adossada à direita, que apresenta paramentos rebocados e pintados a branco; e, com disposição longitudinal, é composta por tês naves, capela-mor com um corpo anexado a sul e outro a norte e torre. As coberturas são diferenciadas e escalonadas a uma e duas águas.
Todavia, a origem quinhentista desta igreja comprova-se, exteriormente, pela cabeceira de cunhais contrafortados coroada por cornija saliente com algerozes de canhão nos cantos e com remate por platibanda rendilhada.
Na frontaria, voltada a poente, o portal é renascentista com bustos nas cantoneiras e ladeado por colunas que suportam o entablamento. A decoração em ornatos esculpidos revela influência biscainha. Sobre este abre-se óculo circular. O remate da fachada é por cimalha angular (na nave central) e linear (nas naves laterais) sob beiral em telha de canudo.
No seu interior, na capela-mor, verifica-se a razão da existência dos contrafortes pois a abóbada é de cruzamento de ogivas que descarregam sobre mísulas acantonadas. Numa delas encontra-se inscrita a data de 1565, o que vem atestar a época em que foi construída.
Este tipo de cobertura não se aplicou ao resto do corpo da igreja pois as três naves apresentam tectos em madeira havendo-se optado por as dividir com arcos de volta inteira sustentados por colunas toscanas.
Da obra em talha salienta-se um Altar das Almas representando o Purgatório, inserido na nave, do lado do Evangelho.