Fernão Capelo Gaivota tinha regressado à reserva que o viu nascer, a Reserva Ornitológica do Mindelo. Uma bela paisagem para descansar os olhos num fim de uma vida repleta de aventuras.
A sua história é a da liberdade, aprendizagem e amor.
A Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo localiza-se no litoral do noroeste de Portugal, entre a margem esquerda da foz do rio Ave e a margem direita do rio Onda, no limite de Matosinhos e foi aqui onde a história começou e onde tudo acaba.
Fernão não tinha sido uma gaivota comum. Sempre tinha sentido um fascínio por acrobacias. E esse seu gosto por voos mais radicais é que o levou a ser banido do seu bando quando ainda era jovem.
Fernão recorda-se da frustração que tinha sentido com o conformismo e a limitação da vida de uma gaivota. Ele sempre quis mais! Voar mais alto e mais além! A sua alma descolava com as suas experiências, feitos aéreos e os triunfos resultantes da sua ousadia.
Fernão revive com saudosismo aqueles momentos da sua juventude em que tinha dado o melhor de si mesmo para atingir novos objectivos com voos mais altos e cada vez mais bem sucedidos (mesmo tendo sido banido).
Agora e já com as penas desgastadas pela velhice, recorda com saudade as duas amigas que tinha conhecido na sua juventude e que tanto lhe tinham ensinado! Por onde andarão elas?
Fernão Capelo Gaivota foi uma ave feliz! Teve o privilégio de aprender com os melhores professores, dos quais ele destaca com uma lagrima no olho, a Grande Gaivota, a melhor Mestre da vida, uma imagem que transcende o humano até ao nível do mais sagrado.
Tinha sido uma vida de aprendizagem com muitas das gaivotas que tal como ele, desfrutavam da mesma paixão, o gosto inequívoco pelo voo.
Acima de tudo, Fernão aprendeu que o importante é ser fiel a si mesmo.

Com o tempo, Fernão continuou a sua aprendizagem cada vez mais aprimorada e repleta de ensinamentos humanos.
Só se é verdadeiramente livre quando se sabe perdoar!- Chegou ele à conclusão
Até que um dia, finalmente, Fernão decide regressar ao seu antigo bando e partilhar com eles tudo o que tinha aprendido com a sua experiência e perdoar o exilio forçado. Era uma ave de coração bom e generoso.
Já muitas luas cheias tinham passado desde essa altura. E a vida tinha seguido o seu curso na reserva.
Fernão olha agora ao seu redor, o tempo corria e galgava os dias e noites sem parar. Muitas das gaivotas que outrora tinham nascido na mesma primavera, já tinham partido numa viagem sem regresso em direcção ao Infinito.
Fernão, era o típico velho do Restelo. Recusava-se ceder ao peso da idade e até ao da gravidade. E o Infinito ainda podia esperar, segundo ele.
Era um lutador nato e um filho da liberdade! E o quanto apreciava e amava a Liberdade!
- Trago em mim todos os sonhos do mundo! - Diz ele um dia numa visita ao amigo da casinha Viola - E se não te importares, vou deixar no teu quintal este meu livrinho bem resguardado. Para que todos aqueles que amem a liberdade, um dia o possam assinar.
Era assim.... O Fernão Capelo Gaivota não tinha amarras... A sua vida foi e é uma lição de liberdade e de respeito para com o próximo.
Ou talvez e antes de mais, uma lição de Amor.
Poucos dias depois a reserva despertou sob um dia de sol prometedor.... E o Fernão já não estava. Tinha partido num voo sem regresso com um sorriso no bico em direcção á luz do Infinito.